Ansiedade? Transforme o medo dos holofotes em presença no palco

Ansiedade? Transforme o medo dos holofotes em presença no palco
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O início de um novo projeto ou emprego, ou apenas a apresentação de um trabalho, são situações que podem funcionar como um grande fator de stress. Como explica a psicóloga Amy Cuddy, podemos não conseguir acabar de vez com a ansiedade, mas podemos aprender a interpretá-la de forma diferente.

Alison Wood Brooks, professora assistente de Administração de Empresas na Harvard Business School, é também uma cantora talentosa, diz a colega Amy Cuddy, professora associada e investigadora na mesma instituição de ensino superior. A também autora conta à Fast Company como Alison acumulou centenas de horas em palco, onde tem uma presença e atitude invejáveis. Brooks, enquanto artista e psicóloga, considera que este tipo de postura pode apoiar a prática da liderança, mas também a forma como muitas pessoas se debatem quando estão sob os holofotes; pelo que decidiu reunir dicas de mudanças simples que podem ajudar a superar a ansiedade no que diz respeito ao desempenho. Se evita o stress a todo o custo e tenta manter sempre a calma, provavelmente vai surpreender-se com o que se segue.

Porque não deve acalmar-se
Como muitos de nós sabem, o “medo dos holofotes” pode parecer uma overdose paralisante de ansiedade. E o que nos dizem para fazermos quando estamos ansiosos? Dizem-nos, com boas intenções, para nos acalmarmos. Pois parece que é a pior coisa que se pode fazer.

A ansiedade é o que os psicólogos descrevem como uma emoção de elevada excitação. Quando estamos ansiosos, estamos num estado aumentado de vigilância fisiológica – híper alerta. Os nossos corações aceleram, desatamos a suar, o nosso nível de cortisol escala – todas estas reações são controladas de forma automática pelo nosso sistema nervoso. E é praticamente impossível para a maioria das pessoas desligar este tipo de excitação nervosa automática, e diminuir a sua intensidade. E não só não podemos acalmar, como, se alguém nos diz para nos acalmarmos, lembra-nos que não estamos calmos, o que alimenta ainda mais a nossa ansiedade.

No entanto há uma emoção de alta excitação que não é tão negativa, é até bastante positiva: o entusiasmo. Alison Wood Brooks estima que podemos não ser capazes de extinguir a excitação nervosa, mas devemos ser capazes de mudar a forma como a interpretamos. Assim, em vez de tentarmos diminuir de modo infrutífero o nível de excitação, que tal se tentarmos mudá-la de negativa para positiva? E passar de ansiedade para entusiasmo?

Para testar o seu conceito, Brooks fez uma série de experiências, colocando indivíduos em situações que evocam o “medo dos holofotes”: uma competição em que tinham de cantar “Don’t Stop Believin’” (dos Journey), um concurso em que tinham de falar em público, e um exame difícil de matemática. Em cada experiência, os participantes foram aleatoriamente designados para dizerem a si próprios uma de três coisas antes da “atuação”: (1) para manter a calma, (2) para ficar animado, ou (3) nada. Nos três contextos – cantar, falar, matemática – os indivíduos que dedicaram um momento a contextualizar a ansiedade como entusiasmo superaram os outros.

Anime-se!
Quando estamos animados, “prepara-se uma oportunidade em termos de mentalização (mind-set), então pensamos em todas as coisas boas que podem acontecer. E estamos mais propensos a tomar decisões e a realizar ações que vão tornar [os bons resultados] prováveis ​​de ocorrer”, explica Alison Wood Brooks à Fast Company.

Amy Cuddy adianta que, como tem a sorte de trabalhar num escritório no mesmo corredor que o de Alison, “conversámos algumas vezes sobre este trabalho”. Brooks disse que, “embora não tenhamos estudado o fenómeno durante longos períodos de tempo, suspeito que, ao dizer “estou animado”, ou dar o nosso melhor para “ficarmos animados” antes de cada desempenho que provoca ansiedade, tal não se torna necessariamente menos eficaz com o tempo”. “Pelo contrário”, acrescentou, “os efeitos positivos são suscetíveis de aumentar. Quanto mais reformula e contextualiza a sua ansiedade como entusiasmo, mais feliz e mais bem-sucedido pode ser.” Ao concentrar-se em cada novo momento que tem pela frente, em vez de no resultado do desempenho, vai, lentamente, e cada vez mais, mover-se para se tornar numa versão mais ousada, mais autêntica, e mais eficaz de si mesmo.

Brooks considera esta abordagem muito útil em termos pessoais. “Ao reformular a ansiedade como entusiasmo ajudou-me a cantar e tocar música em frente a multidões, na apresentação da minha pesquisa, no lançar das minhas ideias empreendedoras, no ensino e até na interação diária com os meus colegas de Harvard.” Quando um psicólogo é capaz de aplicar a sua pesquisa na própria vida, sabe que está no bom caminho!

Ao simplesmente reformular o significado da emoção que estamos a viver – ao mudarmos da ansiedade para o entusiasmo – alteramos a nossa orientação psicológica, tirando partido dos recursos cognitivos e fisiológicos de que precisamos para ter sucesso sob pressão. E acabamos por efetivamente transformar o nosso “medo dos holofotes” numa confiante presença em palco.

Nota: Artigo adaptado do livro “Presence: Bringing Your Boldest Self to Your Biggest Challenges”, de Amy Cuddy. A autora ficou globalmente conhecida pela sua intervenção numa TED Talk em 2012 – a segunda mais vista na história deste evento. Amy é professora e investigadora na Harvard Business School, onde estuda como o comportamento não-verbal e os juízos de valor precipitados influenciam as pessoas. Com os seus trabalhos publicados nas principais revistas académicas e em publicações como o New York Times, o Wall Street Journal, The Economist, Wired, Fast Company, entre outros, foi nomeada “Game Changer” pela Time, considerada uma “Rising Star” (Estrela em Ascensão) pela Association for Psychological Science, uma das “50 Women Who Are Changing the World” (50 mulheres que estão a mudar o mundo) pela Business Insider, e ainda “Young Global Leader” (Jovem Líder Global) pelo Fórum Económico Mundial.

Fonte: Fast Company

31-12-2018


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