Angola - 12 anos de Paz e de Economia a preparar o futuro do país

Angola - 12 anos de Paz e de Economia a preparar o futuro do país
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Em Junho deste ano, falei no Fórum Mundial da Paz (World Peace Forum – WPF), e também na icónica cidade de Schengen, sobre os “Resultados de 12 Anos de Paz em Angola”.

Ao contrário do que normalmente assumimos, de que a Paz só traz benefícios após algumas gerações, acredito que a Paz traz resultados rápidos e a economia angolana é a prova disso mesmo.

A contribuição do Petróleo para o desenvolvimento dos outros setores económicos:

O Petróleo foi fundamental para responder a um dos grandes desafios da construção da nova Angola – o seu Financiamento – e permitiu “pavimentar” o chão para os outros setores da economia se poderem desenvolver. Para o resto da economia singrar, é preciso haver Paz, Paz duradoura, Paz alicerçada em pilares inabaláveis. O contrário também é verdade: um dos pilares fundamentais para a Paz é o sucesso da economia e os seus agentes – Estado, Setor Público, Setor Privado, Reguladores, Investidores nacionais e estrangeiros - entre outos. A Economia saudável contribui diretamente para a Paz.

O futuro – mecanismos formais e informais para perpetuar a Paz:

A manutenção da paz é frequentemente conseguida através da gestão dos “Pós-qualquer coisa“: “Pós-Guerra”, “Pós-Eleições”, “Pós-Crises”, “Pós-gerações”, “Pós-grandes lideranças”, etc. Os obreiros da Paz são normalmente também os obreiros dos “Pós”. Um dos grandes desafios mundiais é o de encontrar mecanismos formais que permitam conseguir manter e evoluir positivamente os “Pós“ e assim atingir a consolidação da Paz e do desenvolvimento. Na Europa “Pós – 2ª Guerra mundial” começou-se imediatamente a trabalhar no que se viria a tornar em 1951 a “Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que evoluiu para Comunidade Económica Europeia, e depois para a atual União Europeia. Sem prejuízo da integração económica, o grande objetivo foi evitar uma 3ª Guerra Mundial e até à data com sucesso – nunca a Europa na sua história esteve tantos anos em Paz entre nações. Fundaram esta comunidade ex-inimigos (França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), integraram-se indústrias estratégicas e críticas para a sociedade, para a economia e para a economia de guerra (carvão e aço), e transferiram-se direitos de soberania para uma instituição maior do que os seis Estados aderentes – uma visão corajosa e inovadora que produz frutos até aos nossos dias. A maior concretização da União Europeia é a Paz na Europa, e por vezes esquecemo-nos disso.

Outra assunção comum é a de que a Guerra é terreno fértil para se ganhar dinheiro, pelo que não há interesse em se fazer a Paz. Angola provou ao mundo que a Paz é melhor para a Economia, para se fazer dinheiro e para gerar prosperidade.

Note-se o caso de Moçambique, que perdeu quase dois anos num ambiente de incerteza, com os investidores em suspenso durante esse período. Mais uma vez, a gestão do “Pós-resultados eleitorais” deste 15 de Outubro será crítica para os moçambicanos.

A criação e o cultivo da Confiança para a Paz e para a Prosperidade:

Haverá no futuro de Angola momentos de dificuldades e de dúvidas, e nessa altura, em que tudo se poderá pôr em causa, existirá algo que pode fazer a diferença entre o sucesso e a catástrofe - a Confiança entre os atores políticos, sociais e económicos.

A Confiança constrói-se através das interações entre as pessoas e as relações devem desenvolver-se nos momentos em que não há interesses antagónicos em causa. Estas devem ser caraterizadas por ambos os lados se sentirem bem após as mesmas, reconhecendo-as como sendo do tipo Win-Win. A Confiança deve desenvolver-se muito antes de se precisar dela. Construir confiança com colegas, parceiros, investidores, clientes, adversários, com angolanos e estrangeiros residentes dentro e fora de Angola, colaborar em vez de competir ferozmente, partilhar informação, recursos e acessos, é um imperativo dos agentes económicos angolanos.

A Confiança é conseguida tanto através de relacionamentos informais (permitem criar confiança mais rapidamente e a um nível mais profundo) como também de relações formais. O Networking e o Trabalho em Rede são atividades que permitem gerar Capital Social através de relações de elevada confiança – e é sabido que os profissionais escolhem trabalhar com quem conhecem, gostam e confiam – hoje, o Networking é uma competência profissional indispensável ao tecido empresarial angolano.

Ao nível dos relacionamentos informais, encontramos as relações em que os profissionais interagem voluntariamente, tipicamente em ocasiões onde partilham pelo menos um interesse, como por exemplo em casa de amigos comuns, no intervalo de um seminário, congresso ou feira empresarial, num clube social ou de negócios, num evento desportivo ou social, numa atividade de voluntariado, num culto religioso, entre muitos outros.

No grupo do Trabalho em Rede mais formal e estruturado, estão os relacionamentos que provêm de parcerias, alianças, fusões, aquisições, consórcios, associações formais de empresas, protocolos de cooperação, etc.

Com as interações de ambos os tipos, conseguem criar-se relacionamentos relevantes, numa base pessoal e profissional que conduzem a elevados graus de relacionamento individual e integração empresarial, sendo que, depois de esta rede intrincada de emoções, interesses e boa vontade estar construída, ser cultivada e capitalizada, será muito mais difícil algo abalá-la.

A Paz é o principal ativo de um povo, base de todo o desenvolvimento. Cultivar a confiança é fundamental na preservação da Paz. As redes de contatos informais e formais são a terra em que se cultivam a boa vontade e a confiança, e para além de líderes da sociedade, cada um de nós, como profissionais e nas nossas organizações, somos obreiros dessas redes sociais - somos obreiros da Paz.

Valter-BarreiraValter Alcoforado Barreira é fundador e Executive Director da Knowing Counts. Mestre em Marketing, Pós-graduado em Direcção Comercial e Licenciado em Gestão de Empresas, é Investigador em Networking e autor de uma tese e vários artigos sobre competências de Construção, Cultivação e Capitalização de redes de contactos para fins profissionais. Valter é Speaker, Formador, Coach e Consultor certificado de organizações, e disponibiliza técnicas e competências de Networking profissional, ajudando Empresas, Associações, ONG e Universidades a criarem uma NOW – a Network Oriented Workforce. É também atualmente Presidente dos Jovens Empresários e Profissionais da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, WJP – Wirtschafts Junioren Portugal.