Para José Epifânio da Franca, "o financiamento é a política de apoio mais importante", confessando que na sua vida "de empreendedor levantei 25 milhões de capital de risco". O também professor catedrático refere que, enquanto foi CEO na Portugal Ventures, "não investimos em nada" que tivesse por objetivo o mercado português.
1ª Parte da grande entrevista com José Epifânio da Franca.
Portal da Liderança (PL): O que é que um investidor mais valoriza numa start up? Há diferenças entre o investidor internacional e o nacional?
Só depois de o investidor se sentir confortável com as caraterísticas humanas da pessoa é que começa a olhar para os números.
Não investimos em nada que tenha por objetivo o mercado nacional.
PL: Quais as qualidades de liderança mais importantes nas start ups?
Ser o maestro não é tarefa fácil, sobretudo quando se deve fazê-lo para com os nossos pares.
PL: Quais as principais características dos empreendedores portugueses?
Quando se começa uma start up sabe-se tudo menos o que vai acontecer na realidade.
Se há alguém que acredita no fantástico talento que temos em Portugal sou eu.
Temos talento igual e às vezes até melhor do que encontramos noutra parte do mundo.
O que sempre me deu mais prazer foi ver o talento daquilo que somos capazes de fazer reconhecido por grandes empresas internacionais.
Temos de ser nós a ir para o mundo e não ficar à espera que seja este a vir até nós.
Na Portugal Ventures procuramos abrir o mundo aos CEO que apoiamos e que se sintam parte dele.
Muitas vezes julgamos que somos aquilo que não somos, embora possamos ser aquilo que quisermos ser.
PL: Como carateriza a evolução do empreendedorismo em Portugal nos últimos anos?
O financiamento é a política de apoio mais importante.
Olhando para o que resultou de diversas vagas de apoio ao empreendedorismo no passado, vemos muito pouco impacto gerado.
Acredito que o futuro pertence aos que estão sempre disponíveis para fazer mais e melhor.
É preciso perceber quais as condições a criar para conseguir investir em start ups capazes de gerar impacto na economia do país.
Na minha vida de empreendedor levantei 25 milhões de capital de risco.
Se pararmos ou andarmos mais devagar do que os outros ficamos irremediavelmente para trás.
O propósito de todas as empresas em que se investe deve ser o de permitir que cheguem ao topo do mundo.
O volume agregado de negócios que as empresas podem gerar pode representar um elemento decisivo no crescimento da nossa balança comercial.
Deve-se procurar apostar em empresas que a prazo podem ajudar a mudar as características económicas e empresariais do nosso país.
Se quisermos passar para uma economia do conhecimento, teremos de mudar o paradigma da nossa economia.
Espero que no Portugal 2020 venham a ser implementados instrumentos de apoio financeiro verdadeiramente compatíveis com as necessidades de capital das startups de base tecnológica.
PL: Que recomendações dá aos empreendedores portugueses?
Que não tenham medo de arriscar e sejam capazes de fazer sacrifícios.
José de Albuquerque Epifânio da Franca, empreendedor e especialista em microeletrónica, professor catedrático no Instituto Superior Técnico, é coordenador grupo de trabalho sobre empreendedorismo na CIP - Confederação Empresarial de Portugal. Empreendedor e especialista em microeletrónica, foi CEO da Portugal Ventures e chairman da PME Investimentos. É ainda administrador não executivo da PVCi - Portugal Venture Capital Initiative.
Licenciado em Engenharia Eletrónica pelo Instituto Superior Técnico, é doutorado pelo Imperial College of Science and Technology da Universidade de Londres, e com Formação Executiva no Massachusetts Institute of Technology em “Management of Research and Technology-based Innovation”. Recebeu a Golden Jubilee Medal da Circuits & Systems Society do IEEE em 1999 (existem apenas 100 no mundo e é o único em Portugal).