A Liderança e as necessárias reformas estruturais em Portugal - Camilo Lourenço

A Liderança e as necessárias reformas estruturais em Portugal - Camilo Lourenço

Uma das críticas que mais se ouve em Portugal é a de que o país está sem Liderança, no sentido em que não há figura política que se destaque por apresentar propostas diferentes que façam a ruptura com o rame-rame das últimas décadas, em que os sucessivos governos se preocuparam com a conjuntura e não com o longo prazo.

É uma "acusação" justa? As críticas têm alguma razão de ser, porque os governos que temos tido, têm centrado a sua actuação no ciclo eleitoral. Isto é, governam para quatro anos. Se não fosse assim, Portugal não teria chegado à quarta década pós-revolução sem reformas estruturais. E as poucas que tivemos, foram sempre impostas a partir do exterior, mormente nos momentos em que o país foi forçado a pedir assistência financeira: em 1978-1979, em 1983 e em 2011.

Se o leitor fizer um inquérito à opinião pública, provavelmente constatará que a maior parte dos portugueses defende essas reformas (as estruturais, aquelas que podem tirar o país do marasmo económico em que se encontra). Sendo assim, perguntar-se-á, porque é que os sucessivos governos não as implementaram?

A resposta é chocantemente simples: porque ninguém explicou aos portugueses o verdadeiro significado de reformas estruturais. Elas podem, se adoptadas, mudar a face do país. Para melhor. Mas a sua implementação tem efeitos colaterais significativos no curto prazo. Por exemplo, mexer na lei laboral vai criar, numa primeira fase, mais desemprego. Por exemplo, melhorar alguns aspectos da lei da concorrência vai levar, num primeiro momento, ao encerramento de empresas. Ainda outro exemplo: reduzir impostos, seja IRC seja IRS, vai obrigar a baixar despesas, nomeadamente com prestações sociais. Ou seja, numa primeira fase, o país terá de cortar em alguns apoios associados ao Estado Social. 

São estes efeitos colaterais que os dirigentes não gostam de explicar aos cidadãos, porque não conseguem superar o trauma do ciclo eleitoral: quem implementar aquelas reformas, muito provavelmente, perde as eleições seguintes. E daí o sucessivo adiamento de medidas que são fundamentais para o futuro do país. 

O problema é que este estado de coisas não se pode manter, sob pena de hipotecarmos o futuro e de sermos atirados para o ranking dos países mais pobres da União Europeia. 

Como resolver este bloqueio? A forma mais correcta seria renovar a classe política. Se olharmos para o panorama político actual, vemos que parte dos dirigentes se mantêm no Poder há 40 anos. Seja porque são parte da política que se vai fazendo, seja porque influenciam essa mesma política. 

Mas, como essa renovação tarda, é melhor pensarmos noutras soluções. Uma delas poderá ser a adopção de políticas implementadas noutros países, que deram resultado. Não como exercício de “benchmarking”, mas como obrigação. Por exemplo, adoptando as regras que a zona Euro vai ditando. No fundo, isto significa deixar que a Liderança de uma Federação (zona Euro) se substitua a uma Liderança de Estado federado (Portugal).

 


 
 
Camilo-Lourenco-Cronicas

Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Entre a sua experiência profissional encontramos redator principal do “Semanário Económico” (desde 1988); coordenador da secção Nacional do “Diário Económico” (de que foi um dos fundadores) desde 1990. Diretor adjunto da revista “Valor”, que ajudou a fundar (1992). Diretor da mesma revista (1993), onde se manteve até 1995. Editor de Economia da Rádio Comercial, de 1992 a 1997. Diretor editorial das revistas masculinas da Editora Abril/Controjornal: “Exame” (revista que também dirigiu); “Executive Digest”, entre outras. Comentador de assuntos económicos da Rádio Capital, de 2000 a 2005. Diretor da revista “Maisvalia” (de 2003 a 2005). Comentador da RTP e RTP Informação, onde passou também a apresentar o programa “A Cor do Dinheiro” (desde 2007). Colunista do “Jornal de Negócios (desde 2007); comentador de assuntos económicos da Media Capital Rádios (desde 2010). Numa das rádios do grupo, a M80, apresenta dois programas: “Moneybox” e “A Cor do Dinheiro”. Comentador de assuntos económicos da televisão generalista TVI, onde apresenta “Contas na TV”. A par destas funções, Camilo Lourenço é docente universitário. Lecionou na Universidade de Lisboa, na Universidade Lusíada e no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. Por outro lado leciona pós-graduações e MBA. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.