A importância do advérbio “permanentemente” - Camilo Lourenço

A importância do advérbio “permanentemente” - Camilo Lourenço

Um dos maiores desafios de quem dirige organizações é saber como manter o seu capital intelectual permanentemente focado nos objectivos traçados.

Antes de o leitor continuar pelo texto fora, volte a ler a frase anterior. E repare no provérbio: “permanentemente”. O desafio é esse: manter os seus quadros continuamente focados e interessados no que fazem. Porque é esse desejo permanente de vencer que faz a diferença em relação à concorrência.

Um dia, os responsáveis de uma empresa nacional convidaram-me para fazer uma palestra aos seus colaboradores. No final da sessão, um número apreciável dos presentes veio dar-me os parabéns. Não porque lhes tivesse explicado o que deviam fazer no ano seguinte (era um encontro de quadros), mas porque tinha falado de assuntos com os quais não lidavam no dia-a-dia. E esse contacto com o que não era a sua rotina diária tinha-os posto a pensar “fora da caixa”. 

No ano seguinte, voltei a ser convidado pela mesma empresa, para fazer o mesmo exercício. Depois de terminada a palestra, onde abordei temáticas diferentes, reparei (no Q&A) que as questões eram semelhantes às do ano anterior. Logo ali percebi que a empresa se encontrava no mesmo ponto em que a tinha encontrado meses antes. E reparei noutro “pormaior”: alguns quadros que na altura me pareciam motivadíssimos, pareciam agora desiludidos. Ou melhor, conformados. 

Passei as semanas seguintes a pensar naquele caso: como fora possível uma transformação tão grande em apenas um ano? A empresa, literalmente, estagnara. Um ano antes, todos pareciam saber o que fazer. E para onde ir. Um ano depois, a empresa estava no mesmo sítio e aqueles que deviam ser os agentes da mudança estavam conformados. 

O que se passou? Percebi algum tempo depois: quem os dirigia não conseguira manter a “chama” da motivação permanentemente acesa. Os ojectivos estavam lá, os meios também, a ambição idem. Mas alguma coisa falhara no processo de manter os quadros continuamente interessados nos desafios da empresa. Não sem surpresa, meses mais tarde o responsável foi afastado.  

Este é um dos temas mais difíceis quando se fala de Liderança. Um Líder deve ter carisma? Deve. Um Líder deve ser estratega? Claro que sim. Um Líder deve ter a ambição de vencer? Sem dúvida. Todos estes atributos (a que podemos juntar outros) são importantes. Mas o mais importante é saber o que fazer para evitar que os quadros percam a “chama” da motivação permanente. 

Não existem receitas certas e definitivas para ajudar um Líder a ultrapassar este problema. Até porque as receitas variam consoante a “moda”. Mas há uma sugestão que pode ajudar: dê a cada um dos quadros a atenção que você quereria, se estivesse no seu lugar… para vencer desafios. Ah! Mas faça isso permanentemente…

 


Camilo-Lourenco-CronicasCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Entre a sua experiência profissional encontramos redator principal do “Semanário Económico” (desde 1988); coordenador da secção Nacional do “Diário Económico” (de que foi um dos fundadores) desde 1990. Diretor adjunto da revista “Valor”, que ajudou a fundar (1992). Diretor da mesma revista (1993), onde se manteve até 1995. Editor de Economia da Rádio Comercial, de 1992 a 1997. Diretor editorial das revistas masculinas da Editora Abril/Controjornal: “Exame” (revista que também dirigiu); “Executive Digest”, entre outras. Comentador de assuntos económicos da Rádio Capital, de 2000 a 2005. Diretor da revista “Maisvalia” (de 2003 a 2005). Comentador da RTP e RTP Informação, onde passou também a apresentar o programa “A Cor do Dinheiro” (desde 2007). Colunista do “Jornal de Negócios (desde 2007); comentador de assuntos económicos da Media Capital Rádios (desde 2010). Numa das rádios do grupo, a M80, apresenta dois programas: “Moneybox” e “A Cor do Dinheiro”. Comentador de assuntos económicos da televisão generalista TVI, onde apresenta “Contas na TV”. A par destas funções, Camilo Lourenço é docente universitário. Lecionou na Universidade de Lisboa, na Universidade Lusíada e no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. Por outro lado leciona pós-graduações e MBA. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.