O FMI e o problema da Gestão empresarial em Portugal – Camilo Lourenço

O FMI e o problema da Gestão empresarial em Portugal – Camilo Lourenço

O FMI está preocupado com a qualidade da gestão das empresas portuguesas. Quem o diz é Subir Lal, o técnico encarregue do Fundo que acompanhou o programa de ajustamento português. Bem, as preocupações do Fundo vão mais longe e estendem-se a outras áreas; mas hoje fiquemo-nos pela qualidade da Gestão.

O diagnóstico do Fundo não surpreende ninguém. Quem lê esta coluna sabe que apontamos frequentemente o dedo à Gestão, como sendo um dos principais problemas da economia portuguesa (nós e outros analistas). Mas, se o diagnóstico do problema não nos deve fazer perder o sono, a solução para ele sim. Porque a má gestão (política e empresarial) é um dos problemas estruturais mais graves que Portugal enfrenta. E que precisa de ser resolvido. Mas como? Criar bons gestores não é coisa que se faça de um ano para o outro. 

Antes de prosseguirmos, vale a pena fazer uma pausa, para fazer justiça às escolas de gestão portuguesas. Elas não são competentes? Claro que são. A prova disso é que todos os anos há muitos profissionais, alguns recém-licenciados, que são aliciados para trabalhar fora de Portugal. Com bons salários...

Qual é, então, o problema? Simples: Portugal não cria oportunidades para eles. Não há investimento, não há instalação de novas empresas, nomeadamente estrangeiras (com pouquíssimas excepções), o que leva profissionais competentíssimos a preferirem outras paragens. 

A situação piora, porque a este problema soma-se outro: o tecido económico português é constituído, na sua esmagadora maioria, por pequenas e médias empresas, onde as empresas familiares têm grande peso. Ora, em boa parte delas, a gestão é influenciada por "laços de sangue", ou seja, por pessoas ligadas à família e pouco profissionais. Pergunta: se o líder de uma empresa não ultrapassa a mediania, terá coragem de contratar alguém mais qualificado, ou com mais visão, ou com mais capacidade de execução, do que ele???

Como se vê, a questão da qualidade da gestão das empresas portuguesas é muito mais complicada do que parece à primeira vista. E não sei sequer se o Fundo percebeu a verdadeira dimensão do problema. O que nos leva a outra pergunta: os alertas da Instituição vão servir para alguma coisa? Tenho dúvidas, porque o problema da Gestão em Portugal é uma questão cultural. O que, por sua vez, nos leva a uma pergunta final: como resolver o problema? Talvez criando as condições para haver mais concorrência em Portugal. Mais concorrência faz baixar os preços (de produtos e serviços), o que leva a uma redução das margens. E, ou as empresas têm gestão profissional para sobreviver num ambiente de margens baixas, ou fecham as portas.

 


Camilo-Lourenço-FotoNova-coluna-1Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.