Como detetar capacidades em falta na equipa?

Como detetar capacidades em falta na equipa?
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Com pessoas-scanners: que estão constantemente a analisar o ambiente e a dar sentido à próxima crise. Esta competência é fundamental para alcançar objetivos de curto e de longo prazo, sobretudo numa altura de mudanças rápidas.

Entre as muitas lições que aprendemos com a pandemia, uma é clara: a crise pode atingir-nos a qualquer momento. E, no sentido de estarmos preparados, precisamos de ter sistemas implementados, sobretudo nas nossas equipas e organizações. A consciência organizacional – a capacidade da empresa e dos funcionários de olharem para si próprios de forma honesta, de terem noção do seu potencial e lidarem com as limitações – ajuda a construir estes sistemas. E quando fortalecemos esta consciência, podemos lidar melhor com tempos de volatilidade.

Uma maneira de o fazer é preparar-se/sentir a envolvente, conceito apresentado no livro “The Prepared Leader” por Erica H. James, reitora na The Wharton School, e Lynn Perry Wooten, presidente da Simmons University. As docentes consideram que os animais migratórios nos dão uma lição fundamental sobre preparação: “scanear o ambiente, ver os sinais, interpretá-los e entendê-los é algo tão completamente inato na natureza, que levanta a questão: por que os seres humanos falham com tanta frequência em ir mais alto?”. Porque existem muitas limitações. As autoras afirmam à Quartz que “a tendência natural para nos focarmos no presente e não no futuro e apegarmos às primeiras impressões pode ser desafiante”. Mas, felizmente, fornecem conselhos sobre como fortalecer esta capacidade. Erica H. James e Lynn Perry Wooten sugerem quatro formas-chave para começarmos a nos preparar (ou scanear) e usar para estarmos prontos quando o inesperado acontece.

1. Fique conhecido como o scanner
Todas as equipas precisam de ter pessoas-scanners “que estão constantemente a olhar para o ambiente e a dar sentido à próxima crise. E é um conjunto de competências que precisamos ensinar”, afirma Lynn Perry Wooten numa entrevista à professora e investigadora Brené Brown. Ser capaz de scanear o ambiente é fundamental para alcançar objetivos de curto e de longo prazo, sobretudo numa altura de mudanças rápidas.
Para construir reputação como scanner, tente duas táticas fornecidas pelas docentes:
Identifique os sinais: pelo menos trimestralmente, reflita sobre o que aconteceu e o que pode estar por vir. Pode querer fazer uma análise SWOT, onde lista os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças que a sua equipa possa vir a enfrentar. Noutra opção, pode rastrear dados para um conjunto de indicadores-chave para observar ao longo do tempo.
Prepare-se para o que está por vir: crie uma estrutura para debater, prever e planear como a sua equipa irá lidar com cenários específicos, desde a necessidade de dispensar funcionários a ter de responder a crises políticas. Estes planos ajudam a minimizar a incerteza que pode distrair a organização e os seus funcionários do essencial.

2. Amplie a visão
Num mundo especializado, os generalistas que tiverem uma visão ampla detêm uma competência única, dado que ajudam a estabilizar a estratégia e a rotina em tempos de turbulência. Ao ampliar a sua visão pode fortalecer a forma como as coisas fazem sentido. Para começar:
Veja o panorama geral: implemente sistemas, protocolos e recursos para ter uma visão micro e uma macro. Tenha em atenção o seguinte ao observar o cenário geral: observe as tendências atuais, a concorrência, tecnologia, clientes, economia, oferta de mão de obra e legislação.
Tenha uma visão e compreensão abrangentes: leia várias publicações para obter uma perspetiva alargada – e não só sobre o seu setor. Oiça colegas e clientes para obter orientação em relação a estudos/investigação e conversas, e crie um diálogo para avançar com soluções criativas.

3. Aproveite diversas perspetivas
Por muito que se diga que ouve os colaboradores, a maioria das empresas luta para encontrar a cadência e a abordagem corretas – e, com muita frequência, acabam por ouvir as mesmas pessoas. Não vai precisar apenas de outras perspetivas: vai precisar de uma multiplicidade, que represente diferentes origens, funções e abordagens.
Considere estas duas formas de obter e usar a amplitude de visões:
Priorize o fluxo de informação: certifique-se que se pode partilhar na sua equipa – é tão crucial para os funcionários procurarem a informação de que precisam como para as organizações manterem as suas pessoas informadas. É necessário que tanto o empregador como o colaborador partilhem informação de forma livre, sem medo de represálias.
Capacite e incentive a partilha de perceções críticas: aprenda, e crie uma orientação de aprendizagem na sua equipa, grupo ou empresa. Se quer que os funcionários partilhem as suas perspetivas, deve criar um sistema para as reunir e utilizar, inclusive ao recompensar quem apresente o seu conhecimento/expertise.

4. Aprenda bem as lições
A falta de tempo e de capacidade nas organizações é uma grande parte do motivo pelo qual as equipas não consideram o que acabou de acontecer antes de passarem para o que vem a seguir. Mas é algo que têm de ter em atenção, até para não repetirem erros e, idealmente, aumentar o esforço e o impacto necessários para atingir os objetivos.
Experimente estes dois passos para aprender, de acordo com Erica H. James e Lynn Perry Wooten:
Aprenda com experiências anteriores: algumas organizações dissecam o que aconteceu em “fóruns de fracasso” para partilhar e aprender com o que não correu bem. Também pode usar “post-mortems” de projetos e afins para aplicar o que aprendeu no que vem a seguir.
Aplique o que aprendeu para melhorar processos: o líder preparado aprende e ajuda a construir uma cultura de aprendizagem, mas deve ter sistemas eficazes. Configure um sistema de feedback para converter o que aprendeu em processos. Quando forem feitas alterações, grandes ou pequenas, partilhe-as, para que as suas equipas vejam o progresso e fiquem motivadas para mais.

Conclusão: “A capacidade de scanear de modo eficaz o ambiente à procura de ameaças é uma componente-chave que ajuda os líderes a antecipar e, em alguns casos, a prevenir uma crise”, afirmam Erica H. James e Lynn Perry Wooten. Mas também é útil para todos nós: para nos tornarmos mais conscientes no nosso trabalho, nos prepararmos para a mudança, e estarmos prontos para enfrentar o que se seguir.

26-07-2023


Portal da Liderança

Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para a Global Agenda/Fórum Económico Mundial por Anna Oakes, editora na Quartz.