O CEO em modo híbrido afeta a cultura da empresa?

O CEO em modo híbrido afeta a cultura da empresa?
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Quando se fala em trabalho remoto e híbrido tende-se a focar nos funcionários, mas os CEO também estão a trabalhar a partir de casa. Até que ponto a cultura das empresas é afetada quando as chefias estão em formato híbrido?

Trabalhar de forma remota, forçoso na altura da pandemia, veio para ficar. No Reino Unido, por exemplo, a proporção de trabalhadores híbridos aumentou de 13% em fevereiro de 2022 para 24% em maio, de acordo com o Office for National Statistics, citado pelo site Raconteur. E 14% dos trabalhadores britânicos estavam em modo totalmente remoto. Estes números incluem não apenas funcionários, mas também os CEO, tradicionalmente vistos como baluartes do escritório. Podem as chefias trabalhar com a mesma eficiência a partir de casa? E como se sentem os colaboradores sem terem o CEO presente todos os dias? Estas são as questões colocadas num artigo no Raconteur.

O que querem os colaboradores dos CEO?
Mark Chaffey, CEO do hub de talentos tecnológicos hackajob, está em modo híbrido. “Se um CEO trabalha remotamente, tem um pouco mais de espaço para isolar o ruído e fazer qualquer trabalho profundo que seja realmente importante”, declara. “O trabalho remoto força uma cultura de produção e de responsabilidade, em vez de uma cultura de estar sempre presente e a microgerir. O que considero amplamente positivo.”

David Tuck, executivo-chefe do grupo Kin + Carta Europe, é outro líder híbrido para quem este formato funciona. “A maioria das organizações tem escritórios pelo país ou no mundo, então os CEO foram quase sempre híbridos. E trabalhar em casa permite fazer trabalho focado, como iniciativas estratégicas ou a preparação para reuniões do conselho”, diz no artigo do Raconteur. E acrescenta que “a questão fundamental é: o que querem as pessoas dos seus CEO? O tempo deles? Raramente. Por norma é a energia deles, que é o que alimenta e impulsiona” os colaboradores. E tal funciona melhor “em pessoa. Mas também pode ser feito de forma remota.”

Mas nem todos os CEO sentem o mesmo. O cofundador da Netflix, Reed Hastings, afirmou que não vê “nenhum ponto positivo” no trabalho remoto. E David Solomon, executivo-chefe da Goldman Sachs, é conhecido por ser contra a prática, tendo declarado que é “uma aberração que vamos corrigir o mais rápido possível”.

Um estudo da empresa de recrutamento Robert Walters em 2022 refere que 60% dos profissionais se sentem pouco ligados/envolvidos no formato de trabalho remoto devido à falta de contacto direto com os líderes da organização, e que a produção e moral estavam mais em baixo como resultado de verem o CEO apenas uma vez por semana. A pesquisa conclui que o trabalho remoto estava a matar a cultura da empresa, até no topo. “Existem elementos funcionais e operacionais na função de CEO que podem ser desempenhados remotamente, e há benefícios em ter mais tempo para pensar”, declara Toby Fowlston, CEO da Robert Walters. “Mas quando se trata de aspetos mais suaves da liderança, é necessário um alto grau de interação face a face. O CEO precisa sentar-se com os funcionários ao almoço e ter conversas honestas e autênticas. Os trabalhadores mais jovens também precisam observar e aprender em primeira mão com os chefes “grisalhos”. Sem tudo isto, acaba por ser uma gestão de câmara de eco.”

Permanecer visível como CEO remoto
Dan Goman, CEO da plataforma de media digital Ateliere, concorda que menos visibilidade, ao longo do tempo, é igual a motivação mais baixa. Isto apesar de elogiar o sucesso da mudança da Ateliere para uma agenda híbrida que consiste em dois dias por semana no escritório. “Observamos maior satisfação nos funcionários e maior produtividade em geral. As taxas de retenção e envolvimento estão fora do comum. E eu estou a ligar-me de maneira diferente com a equipa, via mensagens de vídeo gravadas ou boletins internos. Mas faço tudo no escritório. Às vezes sou o único aqui, mas é importante para mim, como líder, ser visível. As pessoas querem ver-me, pronto para dar respostas rápidas, apoio e feedback.”

Mark Chaffey não vê o formato híbrido como um impedimento para a sua função de liderança. “Trabalho um dia por semana no escritório e o resto em casa. Não o vejo como um problema, porque temos uma reunião geral às quartas-feiras, e a empresa sabe que terá essa interação comigo todas as semanas. Eles podem enviar perguntas anónimas em tempo real, todas as semanas, e deixo claro que as pessoas podem procurar-me diretamente se tiverem alguma dúvida ou pergunta”. E como insiste nestas questões, “as pessoas têm mais acesso a mim agora do que antes. Os funcionários realmente valorizam a confiança que lhes dou. Eles sentem-se fortalecidos e apoiados, e penso que isto é melhor do que eu estar no escritório cinco dias por semana”.

Trabalho híbrido: uma mentalidade
Outro CEO remoto, Simon Waterfall, da fabricante de refrigerantes premium Soda Folk, sente falta da camaradagem do escritório e da capacidade de fornecer suporte rápido a colegas com dificuldades profissionais ou pessoais. “Não pode ir beber um café com eles se estiverem a 300 quilómetros de distância. Mas gosto das reuniões em menor número e mais focadas, e de não ser arrastado para a política do escritório”. Adianta que “tentamos reunir regularmente, sobretudo quando precisamos de sessões criativas de brainstorming. Então, se se tratar de um negócio criativo, o trabalho híbrido pode não ser a melhor resposta a longo prazo. Mas, na verdade, trabalhar como CEO híbrido é uma mentalidade”.

Anita Williams Woolley, professora de teoria e comportamento organizacional na Tepper School of Business na Carnegie Mellon University, concorda. O CEO “ainda pode ser um modelo para os funcionários se estes tiverem acesso. Não precisa estar num local físico específico. Se as empresas estão comprometidas com o trabalho híbrido, pode ser mais eficaz se os CEO também estiverem a trabalhar da mesma forma. Tal vai garantir que todos os sistemas e processos funcionam bem”. Mas, acrescenta, “pode ser um problema para alguns funcionários se virem as chefias a trabalhar remotamente quando eles não têm essa opção” ou flexibilidade para o fazerem.

Ou seja, desde que o CEO permita aos funcionários também a opção de trabalho híbrido, este modelo pode ser um sucesso.

10-05-2023


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