Viajar em busca de ideias: polinização cruzada global

Viajar em busca de ideias: polinização cruzada global
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Ter novas ideias requer agitação e iniciativa. E viajar é uma ótima forma de nos tornarmos polinizadores cruzados mais eficazes, de importar novos insights e de criar algo original. O nosso conselho para estes dias preguiçosos de verão? Levante-se e vá à descoberta.

Jonathan Littman e Susanna Camp  

Qualquer lugar é melhor para procurar inspiração que em casa, como descobrimos na semana passada, quando liderámos laboratórios de inovação em São Francisco (EUA), para executivos portugueses e estudantes brasileiros do ensino secundário. Isto poucos dias depois de regressarmos da nossa imersão no exterior. Encontrar novas ideias requer agitação e iniciativa. E viajar é uma ótima maneira de nos tornarmos polinizadores cruzados mais eficazes, de importar novos insights e de criar algo original. O nosso conselho para estes dias preguiçosos de verão? Levante-se e vá à descoberta. O verão não é só praia e colocar a leitura em dia, é a época ideal para ir para a estrada e expandir a sua rede e a sua mente.

No final desta primavera estivemos em Portugal, num périplo de dez semanas de reconhecimento pela Europa e o Médio Oriente (após, em novembro passado, um mergulho de profundidade de cinco semanas em dez cidades europeias). Submergimos na cultura e na língua portuguesas, explorámos incubadoras e centros de negócios em todo o país, conhecemos dezenas de empresários intrigantes no viveiro que é o centro tecnológico de Lisboa (sede da Web Summit), a cidade “cool” do norte, Porto, e o interior rico e em ebulição do país.

Ao longo da nossa jornada encaixámos algumas semanas em Amsterdão, em Paris e em Tel Aviv, mantendo a nossa agenda livre para deixarmos espaço para a serendipidade. Em Paris tomámos café com um dos fundadores dos Les Napoleons, uma aliança de “digerati” [contração de digital e literati, ou literatos em italiano] internacionais de elite que se reúne em Vale de Isère e em Arles (França) para ouvir palestrantes como Barack Obama e François Hollande, artistas, gurus de start-ups e Google Xers, mas, mais importante, para construir “uma rede sofisticada e influente dedicada a players de inovação em todo o mundo”. Na StartupCity Summit, em Amsterdão, conduzimos uma sessão sobre como “Criar um ecossistema globalmente conectado”. Uma noite, nos famosos canais da cidade, conhecemos Elad Kobi, um israelita superconectado com o GKI Group de Israel, e decidimos, num impulso, que precisávamos de embarcar na loucura das start-ups em Tel Aviv. Pouco depois estávamos a visitar a Autoridade de Inovação de Israel e a reunir na cidade de Elad com fundadores de start-ups e venture capitalists moldados pela rigorosa disciplina militar do país (centrada em equipas), e até a degustar uísque na Milk & Honey, a primeira destilaria de Tel Aviv.

As viagens dão uma sacudidela no nosso equilíbrio e redefinem o nosso painel de controle, forçando-nos a contrastar ideias, produtos e modelos de negócio. Nós conhecemos pessoas fascinantes para o livro que estamos a escrever, e fizemos uma pesquisa comparativa sobre culturas de start-ups de sucesso. Na viagem recolhemos valiosas impressões de design de experiência ao estudar incubadoras de modo intensivo, novos modelos para parques empresariais, espaços de co-working e de co-living, já para não mencionar as batalhas globais travadas entre Ubers e táxis, hotéis e Airbnbs. A viagem mudou a nossa forma de pensar com dados reais, demonstrando quanto há para aprender ao ver e sentir as tremendas variações regionais em serviços, design e tecnologia.

Imersão executiva em São Francisco
A oportunidade de, no regresso a São Francisco, partilhar logo muita da nossa aprendizagem com europeus e sul-americanos foi uma extensão emocionante da nossa jornada. Um grupo de 20 executivos portugueses esteve presente no programa de imersão Global Strategic Innovation (GSI), promovido pela LBC, com sede em Lisboa. Este programa de uma semana que decorre em Silicon Valley é representativo de muitos congéneres empresariais em São Francisco, realizando visitas à Google, ao Facebook, à Intel, à Autodesk, a Stanford e a outros gigantes locais, além de passar pelas principais incubadoras (Runway, Plug and Play, The Vault), e, pelo meio, promove encontros com investidores e start-ups influentes. Este género de programa é projetado para fornecer aos participantes uma imersão na cultura de inovação e de empreendedorismo da região.

Vimos esta tendência acelerar em primeira mão – líderes inteligentes de negócios e alunos de MBA da Europa e da Ásia a deslocarem-se em cada vez maior número a São Francisco nos últimos anos. A Universidade de São Francisco, Berkeley e Stanford têm programas impressionantes que envolvem estes visitantes numa experiência de marca académica. É tipo uma doutrinação de inovação intercultural: uma nova indústria de viagens de negócios altamente focada em ajudar estes grupos a absorver a maneira de estar de Silicon Valley. Mas há uma coisa – não são apenas os executivos e alunos de MBA que afluem à Califórnia. Poucos dias depois de termos trabalhado com os portugueses, tivemos um gostinho do futuro, uma onda jovem e intrigante que prevemos que, em breve, chegue em massa: estudantes brasileiros do secundário para absorver a cultura e implementar a aprendizagem em escolas de elite no seu país.

Os empreendedores estão a entrar no jogo cada vez mais cedo. Kyle Ashby, empreendedor em série, superconector de start-ups e master networker baseado em Santa Bárbara, viu esta tendência surgir há alguns anos, tendo registado o nome de domínio startupsummercamp.com em 2013. Ocupado em construir a elegante incubadora Sandbox no hub na zona costeira, esperou até ao momento certo, e no verão passado teve o seu primeiro grupo de adolescentes. Este ano o negócio disparou, com vários grupos, como os 75 alunos do ensino secundário da semana passada, que fizeram uma profunda imersão em empreendedorismo e inovação, em simultâneo com tours pelas start-ups e grandes tecnológicas em Santa Bárbara e na baía de São Francisco.

O grupo GSI reuniu uma mistura diversificada e animada de executivos provenientes de Lisboa, do Porto, do interior de Portugal, e de Cabo Verde, que trabalham em tecnologia, nos transportes, energia, indústria e consultoria. Após a nossa apresentação sobre as “Dez Faces da Inovação”, dirigimo-nos às movimentadas lojas e cafés do Ferry Building para um exercício de polinização cruzada. Eles foram numa caça ao tesouro, em que descobriram excelentes exemplos de design de experiência, partilharam as suas descobertas com o grupo, e ficaram empolgados com a possibilidade de expandir os seus horizontes criativos. De volta à nossa sala, começaram a trabalhar, dando um salto a partir do que viram para debater inovações. As nossas ideias favoritas: um “autocarro do sono”, onde os visitantes em imersão em São Francisco, como eles, poderiam minimizar o jet lag enquanto estão em movimento. E um protótipo incrivelmente robusto de uma aplicação de “experiência da cidade”, um dashboard onde é possível agendar e gerir os destinos preferidos na cidade por alguns dias ou uma semana. Ambos foram inovadores num aspeto fulcral para novas ideias de produto: começaram a partir de um ponto pessoal de dor.

Campo de férias para start-ups 
Os estudantes brasileiros do ensino secundário viajaram mais de 10 mil quilómetros (do Colégio Loyola em Belo Horizonte e do Colégio dos Jesuítas em Juiz de Fora). Recebemo-los no Spark Social (um food truck park), onde tiveram uma apresentação e em seguida se encontraram com o empreendedor em série Carlos Muela, que aos 30 anos está à frente da explosiva cultura “foodie” de São Francisco. Carlos também partilhou conselhos com os jovens empreendedores: conheçam a vossa área e acrescentem o tempero da inovação. Kyle convidou mais dois empresários para fazerem sessões interativas: Jake Disraeli, co-fundador e CEO da Treet, e John Beadle, da YML.

Depois de terem passado pela deliciosa feira food truck os alunos mergulharam numa atividade imersiva, em equipas, para projetar clubes empreendedores para as suas escolas ou comunidades. E mostraram uma inclinação natural para reunir ideias da comunidade local e prototipar inovações: clubes de ciência para ligar estudantes e cientistas brasileiros a empresários, espaços de co-working cruzados com teatro, uma incubadora impulsionada por novas soluções tecnológicas enraizadas nas dores e necessidades da comunidade local.

De volta a casa, em São Francisco, estamos a fazer o nosso reset. Geralmente não apreciamos as atrações da nossa cidade até as vermos através dos olhos de outra pessoa; ou ao a deixarmos para trás tempo suficiente para que pareça fresca de novo. A nossa semana luso-brasileira em São Francisco lembrou-nos o motivo pelo qual o mundo continua a chegar ao nosso centro global de empreendedorismo e tecnologia, e deixou-nos com uma consciência renovada do valor da exploração, e o conhecimento de que em pouco tempo voltaremos a sentir a ânsia. O mundo chama-nos.

  

27-07-2018


Portal da Liderança


Nota: Tradução do artigo de Jonathan Littman e Susanna Camporiginalmente publicado no hub de inovação SmartUp.life, que reúne textos sobre empreendedorismo e inovação, incluindo este sobre Lisboa, ou este sobre o Starbucks do coworking, entre outros.