Ser criativo numa organização implica correr riscos. Significa partilhar as ideias de forma aberta, mesmo aquelas que ainda não estão bem desenvolvidas e longe de serem concretas.
Samuel Bacharat
A inovação é um processo de diálogo – uma troca aberta de ideias que resulta na melhoria contínua e na transformação de pensamento criativo em políticas, processos ou tecnologias tangíveis.
Recentemente a minha equipa teve a oportunidade de liderar o esforço de uma empresa para apresentar novas ideias. Notámos logo que muitas das pessoas presentes na reunião – uma mistura de engenheiros e líderes – estavam hesitantes em sugerir ideias que ainda não tinham sido bem formadas, que fossem consideradas pouco relevantes pelos colegas ou contra a corrente. A maioria das ideias propostas estava em sintonia com o paradigma da organização. Ou seja, sugeriam apenas mudanças moderadas, não se aventurando a propor algo realmente disruptor. A hesitação devia-se ao receio de passar vergonha, a questões territoriais (entre departamentos) ou de status.
O comportamento deste grupo é um bom exemplo de como, quando se quer que as pessoas arrisquem expor os seus conceitos criativos, convém criar antes um ambiente de segurança.
Para que as ideias verdadeiramente inovadoras e irreverentes possam nascer é necessário existir um profundo sentimento de segurança sociopsicológico: haver a sensação de que as ideias não vão ser todas postas de lado pelo grupo e de que a autoestima de quem fez a sugestão não é pisada pelos outros. E é aqui que entra a liderança, cuja capacidade de criar segurança psicossocial é uma característica essencial; os líderes em inovação que a suportam têm maior probabilidade de receber propostas de ideias mais disruptivas e soluções criativas.
Não adianta realizar um evento ou reunião com a equipa num local para partilhar ideias se o ambiente for dominado por regras, uma estrutura rígida ou julgamento velado. Os líderes em inovação criam um ambiente de segurança, apostando nos seguintes critérios:
1) Desafiar, não pressionar
Os líderes em inovação fazem perguntas e iniciam conversas, mas não devem ditar um caminho ou forçar uma solução. Permitem que as ideias se desenvolvam sem compelir os colaboradores para um caminho estabelecido. Como disse George S. Patton, general do 3.º Exército dos EUA na II Guerra Mundial: “Nunca diga às pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes o que fazer e vão surpreendê-lo com o seu engenho”.
Os líderes em inovação não descartam ideias – questionam-nas ou acrescentam algo. Nunca rejeitam uma ideia de imediato, porque podem estar a bloquear outra que ainda nem sequer emergiu. Lembre-se das palavras do Prémio Nobel da Paz e de Química Linus Pauling: “A melhor forma de ter uma boa ideia é ter muitas ideias”. O líder em inovação deve fomentar o maior número de ideias que puder.
Os líderes em inovação estão motivados para encontrar a solução ou ideia certa. Não fazem pausas, não verificam os e-mails, nem saem da sala ou atendem o telemóvel – estão envolvidos no processo e concentrados em fazer surgir ideias.
4) Avaliar, não julgar
Os líderes em inovação não classificam as ideias – tentam descobrir as melhores para cada situação. Julgar cria um ambiente de ganha-perde, processo em que os colaboradores têm receio de participar.
5) Reforçar o otimismo
Os líderes em inovação mantêm sempre a energia, brio e otimismo. Nem sempre a inovação é um processo que se dá de um dia para o outro. Os níveis de confiança devem ser mantidos. O líder em inovação mantém os ânimos em alta e dá apoio.
6) Intervir de forma tática
Por último, os líderes em inovação estão sintonizados com as dinâmicas de grupo e podem intervir para orientar a equipa numa direção mais focada. No entanto é um tipo de intervenção que deve ser feita com tática e muito cuidado.
Os líderes em inovação sabem como aproveitar a criatividade individual e como a concretizar. Alexander Graham Bell – a inovação em pessoa – comentou certa vez que “As grandes descobertas e melhorias envolvem invariavelmente a cooperação de muitas mentes. Posso ter o mérito de ter aberto o caminho, mas quando vejo os desenvolvimentos subsequentes, sinto que o mérito é de outros, não meu”.
A inovação é assim um esforço de equipa, e os líderes em inovação estão sempre a postos, e dispostos, para assumir a tarefa.
06-06-2018
Fonte: Inc.com
Samuel B. Bacharach, autor e professor no departamento de comportamento organizacional na ILR School da Universidade de Cornell, nos EUA, é também diretor do Smithers Institute. É ainda cofundador do Bacharach Leadership Group, empresa especializada em programas de desenvolvimento de liderança, com ênfase na liderança para a mudança e a inovação, capacidades de coaching para melhorar indivíduos e equipas ou liderar negociações.