Muitos colaboradores são medíocres. Alguns são péssimos. E depois há aqueles que são completamente tóxicos mas que vão passando despercebidos no radar. No entanto há forma de os detetar.
Jeff Haden
Todos nós conseguimos perceber quando um trabalhador é fraco: o desempenho aquém do esperado, não trabalha bem em equipa, tem dificuldade em satisfazer as expetativas… mas, curiosamente, não são estes que causam sérios danos na organização. Até porque, quer sejam incompetentes ou apenas preguiçosos, são fáceis de detetar. E embora não seja divertido enveredar pelo despedimento, pelo menos o líder sabe que há um problema – e pode dispensá-los rapidamente e seguir em frente.
Os problemas a sério são causados pelos funcionários que parecem estar a fazer um bom trabalho mas agem como o que alguém apelidou de “cancro insidioso”, dado que vão destruindo lentamente o desempenho dos colegas, atitudes e motivação – e, consequentemente, o seu negócio. Seguem-se oito sinais de que um trabalhador está a envenenar a empresa.
1 - Vibram com a má-língua. Antes de uma reunião, alguns colegas estavam a falar dos supervisores de outro departamento quando o novo chefe disse: “Parem. A partir de agora não falamos mal de ninguém, a menos que essa pessoa esteja presente. Ponto”.
Até então, nunca tinha pensado nas fofocas como uma parte da cultura da empresa – apenas existiam. E todos o faziam. E não era nada simpático – sobretudo quando se é o alvo da má-língua. (E, com o tempo, percebi que as pessoas que fofocam também não são nada simpáticas). Ao avançarem com “soubeste o que a pessoa tal fez?” estão a dizer “não tenho nada melhor para fazer que falar sobre os outros”.
Não só os funcionários que criam uma cultura de má-língua perdem tempo que seria melhor gasto em conversas produtivas, como também levam as outras pessoas a respeitarem um pouco menos os colegas – e não deve ser tolerado o que quer que diminua a dignidade ou respeito por qualquer colaborador.
2 - Apressam-se a fazer uma reunião após a reunião. Há uma reunião. Há questões que são levantadas. Preocupações que são partilhadas. Decisões que são tomadas. E quem está presente apoia plenamente essas decisões. Mas, depois, alguém faz uma “reunião após a reunião”. E fala de problemas que não mencionou anteriormente junto do grupo. E não concorda com as decisões tomadas.
Muitas vezes estas pessoas até vão dizer às suas equipas algo como “penso que é uma péssima ideia, mas foi-nos dito que tínhamos de o fazer, pelo que acho que temos de tentar fazer”. A partir disto, o que era para acontecer nunca mais acontece.
Ao esperar para depois de uma reunião para afirmar “não vou apoiar o decidido” estão a dizer “concordo com qualquer coisa, o que não significa que vá realmente executar. Vou até trabalhar contra”. Este tipo de pessoas precisa de trabalhar noutro lugar.
3 - Dizem “essa não é a minha função”. Quanto menor for a dimensão da empresa mais importante é que os trabalhadores se adaptem de forma rápida às prioridades em constante mudança e façam o que é preciso para agilizar os processos, independentemente da função ou posição. Mesmo que tal signifique um responsável de divisão ir ajudar a carregar um camião, o pessoal da contabilidade ir ao armazém dar uma mão para dar resposta a um pedido urgente, ou o CEO ter de intervir numa linha de serviço ao cliente durante uma crise de produto.
Qualquer tarefa que seja pedida a um trabalhador – desde que não seja antiética, imoral ou ilegal – é uma tarefa que o funcionário deve estar disposto a fazer, mesmo que esteja “abaixo” da sua posição. Os bons colaboradores reparam que há problemas e oferecem-se logo para ajudar sem que lhes seja pedido.
Ao declarar “não é o meu trabalho” está a dizer “importo-me só comigo”. Esta atitude destrói o desempenho geral porque transforma de forma rápida o que poderia ter sido uma equipa coesa num grupo disfuncional de indivíduos.
4 - Pensam que já fizeram o que tinham a fazer – e agem como tal. Um colaborador fez um excelente trabalho o ano passado, o mês passado, ou mesmo ontem. Enquanto líder, sente-se sensibilizado. E está grato. Ainda assim, hoje é outro dia. E a única medida real do valor de qualquer trabalhador é a contribuição concreta que faz numa base diária.
Ao afirmar que “já fiz muito” está a dizer “não preciso de trabalhar tanto”. E, de repente, antes que se aperceba, há mais funcionários a sentirem que ganharam o direito de ficar “à sombra da bananeira”.
5 - Acreditam que ter experiência é um fim em si. Ter experiência é sem dúvida importante, mas tal não se traduz em melhores competências, num melhor desempenho, e torna-se inútil. Exemplo: um colega disse uma vez aos supervisores mais jovens que “o meu papel é ser um recurso”. Excelente, mas depois ficava no seu escritório o dia todo à espera que nós passássemos por lá para que ele pudesse dispensar as suas pérolas de sabedoria. Claro que ninguém o fez, porque pensávamos “respeito a tua experiência, mas gostava que o teu papel fosse mesmo fazeres o teu trabalho”.
Os anos que se trabalhou pecam por comparação com a quantidade e qualidade de coisas que se fez. Ao proferir “eu tenho mais experiência” está a dizer “não preciso de justificar as minhas decisões ou ações”. O argumento da experiência (ou posição) nunca deve ser usado para ganhar uma discussão. A sabedoria, a lógica, e o bom senso devem imperar sempre – independentemente de em quem se encontram essas qualidades.
6 – Pressionam os pares para os prejudicar. O novo funcionário está a trabalhar no duro. Fica até tarde. Está a atingir os objetivos e a superar as expetativas. É o máximo. E acaba por ouvir, de um colega mais “experiente”, que “está a trabalhar demais e a fazer com que o resto do pessoal pareça mal”. Um bom funcionário não se compara com os outros – compara-se consigo mesmo; e quer “ganhar" esta comparação ao melhorar e fazer melhor hoje face a ontem.
Os trabalhadores mais fracos não querem fazer mais, querem que os outros façam menos. Não querem ganhar, só querem que os outros se certifiquem de que eles não perdem. Ao proclamarem “estás a trabalhar em demasia” estão a dizer “ninguém deve trabalhar tanto porque eu não quero trabalhar tanto”. E em breve poucos colaboradores o fazem – e aqueles que continuam a tentar fazer mais são afastados por terem uma qualidade de que a sua organização tanto precisa.
7. São tão rápidos a ficar com os louros... Talvez aquele colega tenha feito quase todo o trabalho. Talvez tenha conseguido superar quase todos os obstáculos. Talvez, sem ele, aquela equipa de alto desempenho tivesse sido tudo menos isso. Ou talvez não. Nada de importante é alcançado sozinho, mesmo que algumas pessoas gostem de agir como tal.
Um bom funcionário e bom jogador em equipa partilha a glória. Acredita nos outros. Elogia. Dá valor. E deixa os outros brilhar. É algo que é especialmente verdade para quem se encontra em posições de liderança – e que celebra as realizações dos outros, seguro de que o sucesso deles se reflete em si.
Ao apregoar “eu fiz o trabalho todo” ou “foi tudo ideia minha” está a dizer “o mundo gira à minha volta e preciso que todos o saibam”. E mesmo que os outros não adotem a mesma filosofia, este tipo de pessoa fica sentida por ter de lutar por um reconhecimento que é dela por direito.
8. ...Como são ligeiros a atirar as culpas para os outros. Porque um vendedor se queixou. Porque um cliente se sentiu enganado. Porque um colega de trabalho enlouqueceu. Não importa o que aconteceu: a culpa é de outra pessoa.
Por vezes, qualquer que seja a questão, e independentemente de quem é realmente a culpa, algumas pessoas avançam e assumem as culpas (levam com as críticas porque sabem que têm estofo para aguentar, e que a pessoa realmente culpada não). Poucas atitudes são mais altruístas que assumir culpas alheias. E poucos atos cimentam mais um relacionamento. E poucas atitudes são mais egoístas que dizer “não fui eu”, sobretudo quando, pelo menos em parte, foi. Ao atirar “vais ter de falar com o colega X sobre isso” estão a dizer “não estamos todos juntos nisto”.
Nas melhores empresas estão todos no mesmo barco. E quem não estiver só tem de sair.
09-05-2018
Fonte: Inc.com
Jeff Haden, um LinkedIn Influencer, é orador, autor e colabora como editor na Inc. Escreveu mais de 50 livros de não-ficção, bem como centenas de artigos e relatórios. Entretanto, reuniu quatro anos de dicas e de conselhos no livro “TransForm: Dramatically Improve Your Career, Business, Relationships, and Life... One Simple Step at a Time”.