Aposta nos recursos mas todos lhe fogem? Feche a porta à saída dos talentos e invista na motivação

Aposta nos recursos mas todos lhe fogem? Feche a porta à saída dos talentos e invista na motivação
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Um dos problemas com que os gestores se deparam nos dias que correm, é a dificuldade na retenção dos talentos. Se o mercado é hoje global, o mesmo se passa com os recursos humanos. Hoje aqui, amanhã no outro lado do mundo, ou apenas na porta ao lado, a da concorrência.

Em conversa sobre as principais dificuldades que hoje se vivem na liderança, Vasco Pedro, CEO da Unbabel, dizia-me que este é hoje um dos problemas com que se depara e ao qual faz frente com a motivação e o envolvimento das pessoas, dos talentos em que acredita e que entende serem o fator diferenciador para o sucesso da sua organização, que acaba de angariar 1,5 milhões de dólares de seed funding de alguns do maiores players no mercado global.

Muitos outros já me referiram a mesma dificuldade e alguns confessaram mesmo alguma frustração, por investirem na formação dos seus quadros que depois veem sair, muitas vezes para a porta do lado.

Será sempre uma oferta salarial superior que está na base desta saída?

E quando começa a acontecer com demasiada frequência? Continua a acreditar que é sempre a capacidade de oferta salarial o mote para a saída?

Segundo estudos recentes, um colaborador motivado é cerca de 45% mais produtivo do que um desmotivado. Se considerarmos que o envolvimento e a motivação podem ser mais difíceis de alcançar quando se entra a meio de um processo, aconselho-o a ponderar muito bem que recursos humanos alocará antes de começar um novo projeto, de modo a garantir logo à partida uma maior facilidade de conseguir envolvê-los, motivá-los e potenciar a produtividade e satisfação da equipa.

Mas o que é fundamental à motivação das pessoas que recrutamos e com quem queremos contar? Se partir do princípio de que os seus colaboradores têm um projeto de trabalho que lhes faz sentido e as necessárias condições de trabalho, procure:

  • Saber ouvir e saber falar

Quem não gosta de ser ouvido? Ao ouvir os seus colaboradores, estará a dar-lhes o sentimento de pertença, de reconhecimento e de contributo para o sucesso da empresa. Muitas vezes, eles trazem-lhe ideias de novos produtos/clientes que podem ser aquele ponto que faltava para se afirmar no mercado e/ou consolidar a sua posição. Outras vezes, trazem-lhe problemas e quezílias. Neste caso, oiça-os, acalme-os e mostre-lhes o outro ângulo do problema, o da oportunidade para fazer melhor, para tentar de novo mas com outra abordagem e, se verificar que tal se justifica, vá de encontro ao que necessitam para que, no final, apresentem um trabalho bem feito.

Porquê o saber falar? Muitas vezes, achamos que, por estarmos a pagar às pessoas, já não temos de lhes pedir nada, porque, afinal, estamos a pagar-lhes para trabalharem!

Pois, nada mais errado. Entrar nessa forma de atuar é gerir pelo terror e essa nunca traz resultados duradouros. Fale aos seus colaboradores com cortesia e educação. Se tiver de lhes pedir trabalho adicional, um esforço extra, faça-o com um: se faz favor; desculpa lá; sei que posso contar contigo; obrigada pelo esforço. No final, saiba reconhecer quem esteve ao seu lado e recompense o empenho e dedicação.

  • Dar o exemplo

O velho ditado do “Bem prega frei Tomás; faz o que ele diz, não olhes para o que ele faz” é um bom modelo do que não funciona. Não é por acaso que o ser humano aprende por imitação desde que nasce. Seja sempre o reflexo do que espera dos seus colaboradores. Se se dedicar, trabalhar com afinco, for cumpridor, atento aos outros, exigente e responsável, o mais certo é que os que lidera também o sejam. Considera ser esse espelho e não tem o esperado dos seus colaboradores? Então, reflita: Estes sabem claramente o que espera deles? Tem a certeza de que são os talentos certos para a sua equipa? Ouve-os e recompensa-os de acordo com o esperado e o que produzem?

  • Recompensar
Quando falamos em recompensa, cai-se na tentação de substituir esta palavra por remuneração, mas tal não está correto. Claro que, se perguntar a qualquer pessoa que tipo de recompensa prefere, ninguém lhe negará a financeira, mas as opções não se ficam por aí. Seja criativo. Há no mercado opções com contrapatidas vantajosas também para as empresas, como os seguros de saúde para a família, o cheque-creche, o ginásio, entre outras. Mas não se esqueça de que pode ainda ir mais longe e gratificar com dias extra de férias, uma manhã/tarde livre, um convívio, cheques-oferta de uma massagem, de um espetáculo, de um jogo de futebol da equipa querida do colaborador. Conheça os seus colaboradores e saberá o que valorizam e apreciam. Não pode dedicar o tempo necessário a cada um? Implemente um programa de mentoring ou utilize os gestores de equipa. Peça-lhes que apresentem em 30 segundos aquilo que carateriza cada um dos seus colaboradores e, em poucos minutos, ficará a conhecer mais sobre as suas pessoas.

Como disse Luis Portela, Chairman de BIAL, “Enquanto líder procurei sempre conquistar a minha equipa para um grande envolvimento, que talvez tenha sido o grande fator diferenciador, a chave para que BIAL tenha conseguido os resultados que refere.”

Deixo-lhe algumas sugestões de frases que o ajudarão a potenciar o grau de motivação, empenho e satisfação dos seus colaboradores, mas que apenas deverá usar caso acredite serem merecidas e caso as profira com convicção ou obterá o resultado contrário ao que pretende:
  • O teu contributo é muito importante para o sucesso da nossa empresa. Obrigada pelo teu contributo.
  • Agradeço-te pela tua ideia. Sem ela não teríamos conseguido.
  • Tenho consciência do teu grau de responsabilidade e dedicação ao trabalho.
  • São colaboradores como tu que nos permitem atingir os objetivos a que nos propomos/continuar a crescer.
  • O nosso objetivo é sermos sempre os melhores. Acredito que, com o teu contributo, vamos conseguir.

Como diz Dan Sullivan e Catherine Nomura, “Só uma pequena percentagem de pessoas é continuamente bem-sucedida ao longo do tempo. Esta pequena percentagem reconhece que cada sucesso é o resultado da intervenção de muitas outras pessoas, mostrando-se continuamente grata pelo seu apoio. (…) Foque-se em apreciar e pensar nos outros e as condições irão sempre melhorar para apoiar o seu sucesso progressivo.”


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Fátima Rodrigues foi gestora do Portal da Liderança e editora de conteúdos da Leadership Business Consulting, tendo sido coordenadora editorial da área de business do grupo Almedina e lecionado na Congrégation Saint-Joseph de Cluny. Esteve ligada vários anos ao Conselho da Europa, onde exerceu funções de formadora do GERFEC em relações interculturais e interreligiosas em contexto corporativo e social.