Empatia na altura de despedir? Sim, é possível

Empatia na altura de despedir? Sim, é possível
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Com duas palavras, o CEO da Microsoft mostrou que é possível demitir 10.000 pessoas com empatia. Um caso raro no cada vez maior número de despedimentos entre as gigantes tecnológicas.

Não há uma forma fácil, ou a melhor forma, de informar os funcionários da empresa que vão deixar de o ser – que vão deixar de ter os seus empregos. Mas há formas muito más de o fazer: veja-se o despedimento de cerca de metade dos trabalhadores do Twitter por Elon Musk via e-mail no final de 2022… Pode ser que, quando se é CEO de uma grande empresa de tecnologia com muitos colaboradores espalhados pelo globo, se pense nesses funcionários mais como um número do que como pessoas. No entanto, quando se ocupa o cargo de líder, quer seja de uma multinacional, quer seja de uma microempresa, deve-se tratar sempre as pessoas com dignidade e com respeito, sobretudo na altura de eliminar os seus postos de trabalho. Foi o que fez Satya Nadella, CEO da Microsoft.

Em janeiro a Microsoft juntou-se à fileira das grandes tecnológicas a anunciar o despedimento de um elevado número de funcionários, ao comunicar o corte de 10.000 postos de trabalho até final do terceiro trimestre de 2023. Colocando em perspetiva, 10.000 pessoas representam pouco menos de 5% dos 220.000 funcionários da Microsoft. Ou seja, não se trata de um número muito grande tendo em conta a dimensão da companhia como um todo. Mas é um grande problema se se encontrar entre os 10.000 trabalhadores que vão ficar sem receber salário a partir de abril.

A Microsoft não é o Twitter, e o CEO, Satya Nadella, não é Elon Musk. O responsável máximo da Microsoft parece perceber que é possível demitir pessoas com o senso de humanidade que falta muitas vezes neste tipo de processos. Na declaração em que Satya Nadella anuncia as demissões, o responsável faz um bom trabalho ao explicar como lidar com este tipo de decisão. Não é complicado – na verdade, tudo se resume a duas palavras que constam na comunicação aos funcionários que foi publicada no blog da Microsoft: “Sabemos que este é um momento desafiante para cada pessoa impactada. A equipa de liderança sénior e eu temos o compromisso de que, ao passarmos por este processo, o faremos da maneira mais atenciosa e transparente possível”. Estas duas palavras no final – “atenciosa” e “transparente”, podem ser as mais importantes quando se trata de tomar decisões difíceis.

Se bem que, do lado de quem está a ser demitido, não importa o quão atencioso é na altura de despedir, dado que o resultado consiste em deixar de se receber salário. Mas acaba por importar, porque significa que os responsáveis de topo da empresa estão a tentar tornar a situação o menos má possível.

Vamos tratar as nossas pessoas com dignidade e respeito, e agir com transparência”, escreveu Satya Nadella. “Estas decisões são difíceis, mas necessárias. São especialmente difíceis porque impactam as pessoas e as suas vidas – os nossos colegas e amigos.” O que significa na prática? A Microsoft afirma que vai fornecer aos funcionários “indemnizações acima do mercado, manter a cobertura de assistência médica por mais seis meses e a aquisição contínua de prémios de ações por seis meses”. Comparando isto com o facto de os funcionários do Twitter ainda estarem à espera da indemnização que lhes foi prometida quando a empresa anunciou as suas demissões por e-mail...

Nunca é bom perder o emprego, mas certamente torna todo o processo menos mau saber que os profissionais que tomam as decisões reconhecem o impacto que estas têm na vida de pessoas reais; e como um pouco de consideração e de transparência pode dar um senso de dignidade. Não muda o facto de que os líderes precisam de tomar decisões difíceis, mas muda a maneira como lidam com essas decisões. Na maioria das vezes, as pessoas que se está a demitir não são responsáveis por a empresa ter crescido rápido demais ou a economia ter mudado de forma drástica em seis meses. Ainda assim, são elas quem carrega o fardo. Pelo que a liderança lhes deve um processo de despedimento o mais correto e digno possível.

Em última análise, é esta a questão: pode-se fazer de uma forma má ou de uma forma correta. E fazê-lo bem significa o líder ser atencioso, partilhar informação com transparência e tratar os funcionários – mesmo aqueles que está a despedir – com respeito e dignidade.

15-03-2023


Portal da Liderança

Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para a Inc. por Jason Aten, colunista sobre tecnologia.