Miguel Pina e Cunha: A qualidade da gestão é incipiente em Portugal

Miguel Pina e Cunha: A qualidade da gestão é incipiente em Portugal
6 minutos de leitura

O Portal da Liderança esteve com Miguel Pina e Cunha, Presidente do Conselho Científico da Nova SBE e Diretor Académico do The Lisbon MBA. Segundo este, "a qualidade da gestão é relativamente incipiente em Portugal” e "o primeiro desafio que se coloca a algum líder político em Portugal é sobretudo o de definir uma visão para o país”.

Não é possível ter empresas mais produtivas enquanto não capacitarmos as pessoas.”

Portal da Liderança (PL): É especialista em gestão positiva. De que forma é que esta vai de encontro às necessidades atuais dos líderes e potencia a sua eficácia? 

Miguel Pina e Cunha (MPC): Os líderes devem em regra, ser fontes de progresso e crescimento. Nesse sentido, a liderança deve ser positiva. Num tempo de dificuldades, como este que vivemos, esta necessidade é ainda mais premente: os líderes devem ser fontes de esperança. Devem reduzir a ansiedade e “blindar” a equipa, em certa medida, do sofrimento desnecessário. Atenção: não se trata de “mimar” a equipa, mas de lhe dar a serenidade necessária para atacar os problemas com a necessária frieza.

PL: Como aconselha os líderes a criarem dinâmicas de inovação nas suas empresas? 

MPC: Criando um contexto propício à inovação. A inovação dificilmente se decreta. Ela emerge das equipas de uma forma natural, quando estas se interessam pelo seu trabalho e pelos seus clientes e quando sentem que o contexto lhes permite correr riscos de uma forma segura. Isto é: as pessoas arriscam quando consideram que assumir riscos não é excessivamente ... arriscado.


Ter processos que garantam a melhoria do desempenho na organização de uma forma contínua é crítico.


PL: É professor da Angola Business School e responsável pela área da gestão na Nova África. Quais os principais desafios que se colocam aos líderes africanos? 

É necessário investir mais esforço na gestão.”

PL: Entre muitos outros artigos, é autor do The best place to be": Managing control and employee loyalty in a knowledge intensive firm, publicado no Journal of Applied Behavioral Science. Como aconselha os líderes a gerirem as suas equipas, no sentido de garantirem a sua lealdade, empenho e máxima rentabilidade? 

MPC: Sendo eles próprios um exemplo de lealdade e de confiabilidade. Não se trata, naturalmente, de exigir conformismo ou uma fidelidade canina, mas de criar um ambiente de confiança recíproca. Criar um genuíno espírito de equipa. Num certo sentido, já estava nos Três Mosqueteiros: um por todos ....

PL: A nível público e privado, o que é necessário para potenciar o empreendedorismo em Portugal? 

MPC: De novo: criando um ambiente propício. Descomplicar a criação, mas também o fecho de negócios. Apreciar quem tenta, tanto como apreciar quem tem sucesso. Diminuir a estado-dependência. Criar um gosto pelo negócio como atividade nobre.


Seria importante ter uma visão que nos transportasse de um passado que nos orgulha para um futuro que nos apaixona.


PL: Se fosse líder político em Portugal, que medidas tomaria? 

Nos últimos anos, se pensarmos naquilo que mobiliza Portugal (…) não tenho facilidade em encontrar essa resposta.”

PL: Para si, o que é o fundamental da liderança? 

MPC: Apontar o caminho, dar o exemplo, não parar de melhorar. E cultivar as virtudes humanas. Em si – líder –, na equipa e na organização.


Em Portugal a nossa área de maior fraqueza tem a ver com todo o processo de gestão de desempenho.


PL: Qual foi a situação que o fez aprender mais em termos de liderança e o que aprendeu? 

MPC: Quando cometo erros. É muito mau; sofre-se muito. Mas aprende-se sobre nós e sobre o nosso trabalho. Se esses erros são cometidos numa nova função, lembram que “no pain, no gain”. Sair da zona de conforto é desconfortável, mas é necessário.

PL: Quais são os três principais desafios que confrontarão os líderes empresariais nos próximos 10 anos? 

Em Portugal é maior a tolerância em relação aos maus desempenhos e menor a capacidade para premiar os bons desempenhos.”

PL: Quais são as três qualidades mais importantes para um líder empresarial nos próximos 10 anos? 

MPC: Creio que as que mencionei acima não vão passar de moda. Para as lideranças portuguesas, aperfeiçoar a competência de liderança transcultural pode ter de ser maior.


Temos organizações que não retiram das pessoas o talento que elas têm.


PL: Onde mais tendem a falhar os líderes empresariais?

[Falham mais na] definição de objetivos, feedback e acompanhamento das pessoas em termos do alcance desses objetivos, compensação das pessoas que melhor alcançam esses objetivos e desencorajamento dos maus desempenhos.”

PL: Um dia o que é que o mundo vai dizer de si? 

MPC: O mundo lá saberá! Gostaria que dissesse, talvez, que ajudei a colocar algumas ideias boas na discussão: liderança como exercício de positividade e melhoria; a importância das virtudes; a liderança como amor ao próximo. Mas, na verdade, imagino que o mundo não venha a dizer nada. Francamente…

 


MiguelPCMiguel Pina e Cunha é professor catedrático na Nova School of Business and Economics de Lisboa e da Angola Business School, desenpenhando funções de diretor académico do The Lisbon MBA e Presidente do Conselho Científico da Nova SBE. Doutorado em Gestão pela Universidade de Tilburg e agregado em Teoria das Organizações pela Universidade Nova de Lisboa, tem vindo a investigar, entre outros temas, a relação entre as organizações e a sociedade. Recebeu o Prémio RH 2007 na categoria investigação, em conjunto com Arménio Rego.