O presidente da NERLEI - Associação Empresarial da Região de Leiria declara que esta “vai corresponder ao desafio” lançado pelo primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e tornar-se no “grande laboratório” da estratégia governamental gizada para a Quarta Revolução Industrial. Jorge Santos adianta, em entrevista ao Portal da Liderança, que se trata de “uma verdadeira revolução que já está em curso, e é fundamental que, mais do que espetadores, sejamos atores desta mudança”. Para tal, conta com a “robustez acima da média” da economia regional. Neste âmbito, o também diretor-geral da Vipex enumera as iniciativas que têm vindo a ser realizadas pela NERLEI, cujos 1.116 associados registaram um volume de negócios acima dos 4.350 milhões de euros em 2015.
Jorge Santos ressalva, no entanto, que “o grande desafio desta nova revolução industrial não está apenas na implantação das tecnologias mais adequadas, passa muito, e sobretudo, pela garantia de acesso a Recursos Humanos com as competências necessárias para lidar com esta mudança”. Desafio para o qual Leiria está preparada, assegura.
Quais as mais-valias do distrito de Leiria para quem queira investir/implantar o seu negócio na região?
É sem dúvida a capacidade empreendedora que permitiu a existência de um tecido económico muito diversificado, que confere à economia regional uma robustez acima da média. Além disso, há que destacar a localização geográfica central no país; qualidade das infraestruturas de acesso; a qualificação e qualidade da mão de obra; a disponibilidade de matérias primas; e o fácil acesso a fornecedores diretos. Acresce uma excelente relação colaborativa entre os municípios, as instituições de ensino, outras instituições locais e regionais e as associações empresariais.
Estão a tomar medidas para atrair mais empresas/empreendedores – com que iniciativas? Quais são as principais parcerias da NERLEI neste âmbito?
A NERLEI promoveu recentemente um “Dossier de captação de Investimento Estrangeiro”, estudo no qual foram identificados os pontos fortes da região, que descrevi, e também avançadas algumas pistas sobre os fatores a melhorar. Neste contexto, a NERLEI assinou em 2016 protocolos com os dez municípios da CIMRL (Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria), com o Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria), a AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e o IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação para atrair investimento para a região e para o aumento da competitividade das empresas. É um trabalho que está a ser feito, mas que demora o seu tempo a dar resultados.
"'A' indústria da região é, felizmente, muito mais que os setores dos moldes e plásticos"
Os moldes e plásticos são “a” indústria da região, não só pela sua representatividade como pela inovação – que outras atividades se destacam pela inovação e por se terem reinventado?
Apesar da importância destes dois setores, e de provavelmente serem os mais reconhecidos fora do distrito, como referido, “a” indústria da região é, felizmente, muito mais do que estes dois setores. É cerâmica decorativa, utilitária, estrutural e sanitária; é vidro de embalagem, decorativo e utilitário; é rochas ornamentais; é calçado e marroquinaria; é cutelarias; é iluminação; é madeiras e mobiliário; agroalimentar. E, em todos estes setores, mesmo nos mais tradicionais como a cerâmica, o vidro e o calçado, existem muito bons exemplos de inovação. Aliás, só assim as empresas que temos têm conseguido manter-se competitivas e produzirem, na sua maioria, para exportação.
E de que forma a NERLEI fomenta e apoia o empreendedorismo na região?
De muitas formas e em vários projetos, quase todos em parceria com entidades, pois acreditamos na cooperação para obter melhores resultados. Em 2001 a NERLEI foi a promotora de um estudo para criação de uma Incubadora de Empresas em Leiria. O projeto, que é hoje a IDDNET – Incubadora D. Dinis, envolveu, na altura da sua constituição, o município e o IPLeiria. Hoje a IDDNET está a laborar como um projeto autónomo e sustentado. A título de exemplo, temos mais alguns projetos que fomentam o empreendedorismo junto de vários públicos:
Empreender Leiria. Apresentado pela NERLEI ao SIAC - Sistema de Apoio a Ações Coletivas | Promoção do Espírito Empresarial, este projeto visa promover o espírito empreendedor das empresas da região, nomeadamente, contribuir para um aumento do empreendedorismo qualificado em geral, e em particular das zonas de Leiria e Oeste. O projeto divide-se em atividades intensivas de conhecimento e/ou tecnologia e em atividades das indústrias culturais ou criativas, através da avaliação do estado da arte de iniciativas de empreendedorismo; da divulgação de boas práticas e exemplos; da capacitação de empreendedores através de workshops, webinars, disponibilização de conteúdos na web; do desenvolvimento de parcerias de cooperação integrando diferentes entidades dos sistemas científico e tecnológico e outras ligadas à promoção do empreendedorismo, que visem agilizar o acesso ao conhecimento e informação relevante; da promoção de concursos de ideias com o envolvimento de empresários da região e da disseminação dos resultados obtidos.
Clube do Jovem Empreendedor. Tem como missão “promover e incentivar, de forma gratuita, experiências empreendedoras entre os empresários e potenciais jovens empreendedores”. Esta iniciativa pretende ser um espaço informal, de cariz social e profissional e tem como objetivo criar um fórum para debate de ideias, troca de experiências, promoção de iniciativas e reuniões informais de negócios ou lazer.
I-DAY Leiria. É um evento de estímulo ao empreendedorismo com o objetivo de incentivar os jovens a criar empresas. Podem participar todos os jovens que tenham uma ideia de negócio e que pretendam melhorá-la e apresentá-la. As equipas selecionadas, após um período de candidaturas, têm a oportunidade de trabalhar durante um dia nas suas ideias com apoio e orientação de profissionais, mentores e investidores convidados.
Leiria In - Semana da Indústria. A NERLEI, em conjunto com o IPLeiria e a Fórum Estudante, organiza esta semana temática, uma iniciativa dedicada a 50 jovens estudantes do ensino secundário oriundos de todo o país. Os jovens encontram-se em Leiria para cinco dias cheios de atividades relacionadas com o mundo da indústria. O objetivo é fomentar a consciência cívica dos estudantes sobre a importância da indústria para a economia e desenvolvimento de Portugal, e permite despertar vocações para as profissões ligadas a este setor.
ARRISCA C. Promovido pela Universidade de Coimbra, o Arrisca C é um concurso que visa estimular o desenvolvimento de conceitos de negócio em torno dos quais se perspetive a criação de novas empresas ou apoiar o desenvolvimento de novos produtos/serviços de empresas. A NERLEI é parceira do concurso, participando no júri de avaliação dos projetos, atribuindo um prémio a um dos candidatos. Anualmente participam no concurso, em média, cerca de 140 jovens/equipas.
"Mais importante que os rankings é aquilo que efetivamente se consegue aperfeiçoar nas empresas"
O distrito de Leiria surge em 5.º lugar na Rede PME Inovação da COTEC (com 24 empresas). Qual o trabalho que a NERLEI tem vindo a fazer para potenciar a inovação?
Antes de mais fazemos ações de sensibilização e de partilha de experiências. Por exemplo, em 2013 fizemos um ciclo de conferências dedicado à inovação, em que trouxemos junto dos empresários de Leiria pessoas como a diretora de inovação da PT, o CEO da Brisa Inovação; o IE manager da Volkswagen AE, e o diretor-geral da AESE (Escola de Direção e Negócios). Há uma partilha de experiências e vai-se despertando os nossos empresários para a importância da inovação. Neste momento temos a decorrer um projeto conjunto – o IQ + Empresas – que tem como uma das intervenções possíveis a implementação e certificação de sistemas de gestão da inovação pela norma NP 4457; e outra área de intervenção que é a inovação em diversas vertentes: desenvolvimento de novos produtos; sistema de gestão da inovação; plano de marketing de novo produto; registo de propriedade industrial. Aliás, o projeto IQ + Empresas caracteriza-se pela realização de um conjunto de ações que têm como objetivo o reforço da competitividade das empresas através da inovação, nos diferentes níveis, nomeadamente produto, processo, organização e marketing. Temos também o Target High Value, projeto que preconiza um conjunto de ações e iniciativas com enquadramento nas tipologias da inovação organizacional e gestão e da economia digital e tecnologias de informação e comunicação (TIC). E o projeto Melhor Turismo 2020, que tem como objetivo intensificar a formação dos empresários e gestores para a reorganização, a inovação e a mudança, bem como a qualificação dos seus Recursos Humanos em domínios relevantes.
É uma meta vir a figurar no top 3 deste ranking?
Mais importante que os rankings é aquilo que efetivamente se consegue aperfeiçoar nas empresas; a melhoria das posições em rankings virá depois, como resultado de um trabalho adequado. Para podermos evoluir no desenvolvimento de projetos de inovação em colaboração com instituições de ensino e investigação tudo faremos para que o IPLeiria possa não só conceder o grau de doutor como evoluir para universidade, mitigando assim o facto de a região de Leiria e Oeste serem as únicas do país sem ensino universitário público.
A NERLEI está a apostar nas TICE? Qual é a visão da Associação para esta área?
A Região Centro dispõe de recursos de reconhecida competência na área das tecnologias de informação, comunicação e eletrónica (TICE), bem como presença de empresas com competências nos vários domínios das TICE (desenvolvimento de equipamentos, serviços e aplicações), um volume de vendas na ordem dos 300 milhões de euros e um valor acrescentado superior a 40% nas 45 maiores empresas. Neste contexto, foi criado um grupo de trabalho na área das TICE, envolvendo a NERLEI, o IPLeiria e empresas do setor que terá como objetivo desenvolver mais esta área, contribuindo para o desenvolvimento da região, permitindo uma maior inovação das empresas e o aparecimento de start ups, projetando a região pela sua capacidade inovadora, quer a nível nacional quer internacional.
"O grande desafio não está apenas na implantação das tecnologias mais adequadas"
O tecido empresarial da região está preparado para a digitalização da indústria, a denominada Quarta Revolução Industrial?
É uma verdadeira revolução que já está em curso, e é fundamental que, mais do que espetadores, sejamos atores desta mudança. As empresas consideram que a digitalização vai trazer ganhos significativos à sua atividade e eficiência. Mas o grande desafio desta nova revolução industrial não está apenas na implantação das tecnologias mais adequadas, passa muito, e sobretudo, pela garantia de acesso a Recursos Humanos com as competências necessárias para lidar com esta mudança. No entanto, o distrito de Leiria está preparado para essa mudança. Aliás, recentemente, na apresentação da estratégia para a Indústria 4.0, que se realizou em Leiria [a 30 de janeiro], o primeiro-ministro António Costa disse que Leiria “tem de ser o grande laboratório” desta estratégia. E Leiria vai corresponder ao desafio.
A NERLEI, no âmbito do grupo de trabalho TICE, tem desenvolvido algumas ações nesta área. Recomendamos que as empresas estejam muito atentas e potenciem as vantagens que esta transformação pode trazer aos seus negócios no que respeita aos processos internos e de abordagem aos mercados, e que, por outro lado, não descurem as questões de segurança. Nesta área específica da cibersegurança temos um projeto conjunto, submetido ao Portugal 2020 – o Log In Innovation – que pretende reforçar as capacidades de organização e gestão das PME (pequenas e médias empresas) através da implementação de uma política de segurança na infraestrutura de tecnologias de informação (TI) e de metodologias de gestão vitais para as PME e para a sua competitividade. O projeto apoiará 70 PME nas áreas de segurança da informação e das infraestruturas de TI; organização e gestão das PME e economia digital; reforço das infraestruturas de TI.
Quais são assim os principais desafios com que se deparam os líderes da região?
Nada dispensa a intuição e capacidade de liderança dos empreendedores, que felizmente existe muito na nossa região, dada a longevidade de tantas empresas fundadas por pessoas com estas características inatas. Contudo, cada vez mais é exigido um maior domínio das ferramentas de gestão de apoio à decisão, das novas tecnologias, capacidade de envolvimento das partes interessadas e estar atento e analisar o que o rodeia e afeta a atividade empresarial. Mas estes são desafios para os líderes da região, do país e do mundo.
E a NERLEI: quais os grandes desafios que tem pela frente?
A atual direção, que tem mandato entre 2016-2018, apontou o reforço do apoio à competitividade das empresas como foco. Seja por via direta, através do apoio dos nossos departamentos técnicos: internacionalização, técnico e formação e qualificação; seja por via indireta, reforçando a nossa intervenção institucional para melhorar o contexto em que as nossas empresas atuam, a nível regional, nacional e internacional.
Mais concretamente, um dos estrangulamentos que está identificado, e pode condicionar o desenvolvimento da região, é a falta de Recursos Humanos qualificados em áreas técnicas e tecnológicas que respondam às reais necessidades das empresas, que, neste momento, estão a realizar investimentos significativos no aumento da capacidade de produção, e que correm o risco de não ter pessoas que acompanhem e viabilizem esses investimentos.
Além disso, a NERLEI quer aproveitar os fundos da forma mais eficiente possível para contribuir fortemente para aumentar a competitividade das empresas e da região em que atuamos. Como tal serão apresentados dois tipos de candidaturas: para as empresas – com vista a proporcionar condições ainda mais favoráveis ao aumento da sua competitividade, alavancando fatores como internacionalização, inovação, qualificação; e para a região – com o objetivo de a tornar mais atrativa. Trata-se de projetos de desenvolvimento regional que terão sempre o envolvimento de entidades do poder público, como as autarquias e as comunidades intermunicipais, mas também de entidades do sistema de ensino como o IPLeiria.
30-03-2017
Armanda Alexandre/Portal da Liderança
Jorge Manuel Cordeiro Santos, presidente da direção da NERLEI - Associação Empresarial da Região de Leiria desde julho de 2012, representa a instituição em várias entidades. Licenciado em Gestão de Empresas e doutorado em Marketing e Comércio Internacional, tem formação profissional em áreas como o coaching, liderança, marketing, gestão de equipas, estratégia empresarial e qualidade. Participa com regularidade, enquanto orador, em conferências e congressos. É ainda investigador convidado e membro do conselho científico do CDRsp - Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado do Produto do Instituto Politécnico de Leiria desde 2011. |