Qual é a grande verdade do século XXI? A mudança. O que era já não é; o que é nunca mais o será. O mundo em que vivemos é cada vez mais dinâmico, acelerado e, sobretudo, surpreendente. O inesperado aguarda-nos a cada momento.
There is nothing stable in the world; uproar's your only music.”* John Keats (Poeta inglês, 1795-1821)
Mudança para uns, transformação para outros. Há quem lhe chame alteração de contexto. Na realidade, a noção de tempo mudou. As organizações e as sociedades são hoje elementos vivos, fruto da tecnologia nas suas diversas formas. O tempo acontece hoje a uma velocidade mais rápida, e a mudança também.
Vivem-se tempos de expetativa, dúvida e incerteza quanto ao futuro… tempos que geram ansiedade.
As organizações reagem. Assiste-se a uma multiplicação de reestruturações, vendas, aquisições, fusões e até à queda de “impérios” que, até há pouco tempo, eram considerados inabaláveis.
E temos ainda a mudança “forçada” pelo mercado. Sobretudo pela procura, que obriga à reinvenção das marcas, potenciando a criatividade e a inovação, mesmo em casos de sucesso consolidado que, consequência do “excesso de velocidade do século XXI”, é cada vez mais efémero.
Liderar exige hoje a capacidade de estar disponível para a mudança – e de ser o motor da mesma.
Como em qualquer outro processo, a nova visão ou estratégia para a organização deve ser explicada, partilhada e assumida, para que assim se minimize o principal obstáculo de adequação das organizações aos novos modelos de gestão/negócio: a resistência à mudança.
Qualquer organização tende a procurar minimizar os impactos da mudança no dia-a-dia dos seus colaboradores, ou até mesmo a poupá-los a consequências mais sérias, como é o caso da perda dos seus postos de trabalho.
Um líder deve assim ser capaz de compatibilizar os interesses, necessidades e objetivos individuais e coletivos da equipa que lidera, contrariando o eventual clima instável e tentando adaptar toda a organização ao novo establishment.
Os processos de reorganização ou de reorientação das empresas implicam alterações na forma de estar e de fazer de cada um dos colaboradores. Podem mesmo colocar em causa muitos dos direitos que, até há pouco tempo, eram perfeitamente legítimos, mas que, no contexto atual, podem até comprometer a existência da própria organização.
Entre os principais fatores da resistência à mudança, identificamos elementos tão variados como a inércia, o medo, o interesse pessoal, a falta de autoconfiança, a ameaça do desconhecido, o primado do individual versus o coletivo, e o ego, especialmente o das chefias intermédias.
Mas, perante novos contextos, novos desafios se colocam. E, com estes, a exigência de que o líder saiba antecipar, planear e envolver cada um dos seus colaboradores, dando oportunidade à empresa de ter sucesso e de evitar que aqueles sejam vítimas dos seus próprios medos.
Nesta situação, o líder deverá assumir o papel de motor motivacional e de impulsionador da mudança, mantendo-se simultaneamente como o principal elemento estabilizador, a âncora que segura o barco no momento da tempestade.
Fácil de dizer, difícil de conseguir.
A “história” que o líder tem que ser capaz de contar aos seus colaboradores é a de que a mudança pode ser uma oportunidade única para eles: uma oportunidade para enfrentarem os próprios medos e descobrirem novas realidades.
Aos colaboradores mais resistentes, e conte com eles, sendo estes, geralmente, os mais antigos na empresa, pede-se que assumam e contrariem as fragilidades que, face aos novos contextos, são colocadas a descoberto.
Liderar é um processo complexo e é nos momentos de mudança que os bons líderes são mais necessários e se assumem (ou se descobrem) pela necessidade de mobilizar, de gerir a mudança, de encontrar soluções, de vislumbrar novos horizontes, de envolver o grupo no processo e de tomar as decisões que levem o barco a bom porto.
*Não existe nada estável no mundo; tumulto é a sua única melodia. (tradução livre)
Nuno Santiago é CEO da Masemba (Portugal e Angola), grupo editorial que detém as publicações Lux, Lux Angola, LuxWoman, Cristina, Revista de Vinhos e Divo Magazine. Iniciou a sua carreira na RDPE (agora Essentia), tendo criado a CPU Tourism Consulting, onde foi diretor executivo. Posteriormente foi diretor de desenvolvimento do grupo Amorim Turismo para Portugal, Angola e Moçambique, e administrador executivo da Fundação Essentia Príncipe, dedicada ao apoio ao desenvolvimento em São Tomé e Príncipe. Além de formado em Gestão e Planeamento e Turismo, pela Universidade de Aveiro, frequentou uma especialização em e-tourism na University of Surrey e é certificado em real estate, development and hotel investment pela Cornell University (EUA).