O que Silicon Valley me ensinou – no 1.º dia

O que Silicon Valley me ensinou – no 1.º dia
11 minutos de leitura

Em julho tive a oportunidade de participar numa viagem de uma semana com foco em liderança, inovação e networking a São Francisco e Silicon Valley: o GSI (Global Strategic Innovation: International Executive Program).

Gabriel Giehl Martins

Nos próximos artigos partilharei as minhas aprendizagens, algumas curiosidades e informação, livros e artigos recomendados, bem como o nome de profissionais e empresas muito interessantes que tive a oportunidade de conhecer.

Em suma, o programa incluiu palestras sobre inovação e a cultura de Silicon Valley; visitas a dez empresas (como, por exemplo, o Facebook, a Google, Plug & Play); uma sessão com o professor Burton Lee na Universidade de Stanford; outra sessão com Jonathan Littman (autor de “As 10 Faces da Inovação”); uma sessão no Centro para a Quarta Revolução Industrial  do Fórum Económico Mundial; e, é claro, eventos de networking.

Neste texto partilho os eventos do primeiro dia.
Começámos com uma sessão de boas-vindas sobre como criar uma cultura de inovação e quais as principais características e fatores de diferenciação que fazem de Silicon Valley o vencedor neste mercado. A sessão foi liderada por Carlos Oliveira, CEO da LBC, e Torben Rankine, partner na LBC em São Francisco, para quem as seis características por detrás do título de lugar mais inovador do mundo são:
1. Cultura de correr riscos
2. Enfoque na inovação disruptiva e perspetiva global
3. Networking pragmático e de cooperação
4. Ecossistema de capacitação (universidades, Governo, investidores, serviços de suporte, etc.)
5. Alta disponibilidade de dinheiro para investir
6. Grande pool de talentos e atrativo para talentos
Tudo isto combinado cria uma base forte para a criatividade e para o que todos aqueles em inovação desejam: escalabilidade!
Concorda com eles? Adicionaria ou removeria algumas características?

Em seguida visitámos a Autodesk, uma empresa que está realmente a criar disrupção em áreas como o design, engenharia e arquitetura, media e entretenimento, e produção, utilizando modelos matemáticos complexos e um software desenvolvido por eles que funciona na cloud. A propósito, o software está aberto a pequenos projetos, e a sua empresa pode começar a usá-lo hoje. Além do modelo de negócio, vale a pena visitar o museu deles. 

A principal lição/aprendizagem que levo desta visita é que não há qualquer limitação ou limite para ser disruptor na indústria recorrendo a tecnologias emergentes como a impressão 3D (mais sobre este tema no terceiro dia) e inteligência artificial (IA). Um projeto em particular chamou a minha atenção e pode ilustrar facilmente o que acabo de referir.

Na foto em baixo podemos ver passado, presente e futuro. O edifício mais pequeno, no meio, à frente do prédio iluminado, é antigo. O da esquerda foi concluído recentemente e já mostra algumas curvas interessantes e desafiadoras do ponto de vista da engenharia e do design. O iluminado é o futuro próximo! Foi inspirado nos carros de F1 e na forma como interagem com o vento. Toda a estrutura gira em espiral, e tem outros “recursos” como seis andares dedicados ao entretenimento, incluindo parques para ciclismo! Mas a principal diferença entre eles é o conceito e o design do último terem sido desenvolvidos por um computador e não por um ser humano. De forma simplificada, designers, engenheiros e arquitetos criam os parâmetros, inserem as restrições, o clima e condições do solo, e o software executa interações na cloud e apresenta dezenas, centenas, milhares ou até milhões de possíveis soluções. É como resolver um quebra-cabeças. 

ThreeBuildings

E depois há o exemplo do projeto denominado “Infinit seats”. Em que basicamente inserimos o nosso objetivo (por exemplo, uma cadeira simples) e as restrições no computador – quatro pernas, um assento elevado, requisitos de peso, materiais –, e em seguida os algoritmos procuram a forma mais eficiente de produzir o design. O programa fornece milhares de maneiras de construir uma cadeira, em que todas têm em conta os critérios do designer. E, dado que o computador não é limitado por noções preconcebidas de como uma cadeira deve ser, é livre para encontrar soluções que até o design mais famoso do mundo não teria imaginado, surgindo uma cadeira com exatamente a mesma função mas que demora menos tempo, tem um custo muito mais baixo e usa menos materiais.
No entanto, acredito que a criatividade humana não está a ficar atrás em relação à tecnologia. Antes o software atua como parceiro na exploração e liberta os designers, projetistas e engenheiros para que se concentrem em decisões mais críticas e na análise comportamental.

A terceira paragem do dia foi uma sessão com o CEO e fundador da Talkdesk, Tiago Paiva. Este amigável português dirige uma start-up de sucesso que trabalha com o mercado de call centers. A empresa quer simplificar o futuro do atendimento ao cliente, melhorando a experiência do cliente e a experiência do call center, expandindo os limites da comunicação em tempo real. Eles afirmam ter o “software de contact center na cloud tecnicamente mais avançado”.

O Tiago contou-nos a sua trajetória: desde não ter dinheiro para comprar um computador a ser o CEO de uma empresa com mais de 300 funcionários que em três anos obteve, de investidores de capital de risco e de angels, 24,5 milhões de dólares. Partilhou também connosco o seu maior erro até agora e o que considera que fez certo. O maior erro foi adiar demasiado a contratação de executivos e da equipa de gestão para o ajudar a estruturar e expandir a empresa. Ele não esperava um crescimento tão rápido e subestimou o processo de contratação de pessoas de talento na Bay Area [São Francisco]. E considera que fez bem em não angariar muito dinheiro no início da operação. Embora seja um pouco estranho ouvir isto em Silicon Valley, tem um bom argumento. Para o Tiago, ter uma quantidade limitada de dinheiro forçou-o a tomar decisões mais inteligentes e afinadas, e a aprender a ser frugal. Já para não mencionar a proteção do equity, claro.
Se tem um negócio que precisa de um call center ou se tem uma empresa que presta serviços de call center, veja o que a Talkdesk está a fazer.

Em seguida visitámos um espaço de trabalho colaborativo e hub de inovação fundado com base no princípio de que as pessoas trabalham melhor juntas, o The Vault. O modelo de negócios junta ao conceito básico de co-work algumas características interessantes relacionadas com a formação em empreendedorismo, apoiando start-ups de tecnologia e agências criativas em estágio inicial. São fornecidos programas de mentorship e de aceleração, bem como formação individual a fundadores e a software developers. Realizam também eventos de pitch e colaboram com investidores e outras instituições privadas no sentido de preparar o caminho para as start-ups que “alugam” os seus espaços. O The Vault diz ser um espaço mais calmo e silencioso que os grandes concorrentes, como o Plug and Play, o Runway e o WeWork. (Aviso: após ter visitado o Plug and Play e o WeWork nos dias seguintes, devo afirmar que eles estavam a dizer a verdade no que diz respeito ao ruído e ao enfoque).

Como de costume, a melhor parte do dia foi a última sessão (pelo menos na minha opinião). Visitámos a SalesHood e fomos recebidos pelo próprio fundador, Elay Cohen (ex-vice-presidente sénior de vendas e partner de produtividade na Salesforce, e autor do livro com o mesmo nome da atual empresa – que vale a pena ler se trabalhar com qualquer tipo de vendas). Elay Cohen é um showman e muito acessível. Deu exemplares do seu livro a todos os presentes e fez um pitch inspirador sobre a sua carreira e a empresa que fundou há cinco anos.

Ele começou por nos contar a história de como conseguiu multiplicar os resultados de vendas de topo da Salesforce ao arruinar um programa mundial de formação, e foi o que desencadeou os seus atuais e bem-sucedidos negócios. O seu ponto principal era o de que, embora o modelo de formação à moda antiga tivesse funcionado por algum tempo na Salesforce, a dada altura tornou-se insustentável, já que a empresa atingiu as centenas de milhares de membros de vendas em todo o mundo. “Deve ser uma solução melhor e mais eficiente”, pensava ele então. Após algum tempo a investir e depois de ter encontrado o melhor cofundador, eles criaram o que ele apelida de plataforma de capacitação para melhorar o desempenho da sua equipa de vendas, independentemente da indústria. O seu pitch é: “Ajudamo-lo a criar equipas modernas e de alto desempenho. Como? Fazemos com que a sua equipa tenha a melhor performance, permitindo que partilhem conhecimento, aprendam as melhores práticas e excedam as suas metas de desempenho”.
Se a sua empresa faz qualquer tipo de vendas, deve definitivamente dar uma vista de olhos e pedir um teste. Conecte-se no LinkedIn com Jon Titchener e Zach Turner, ou até mesmo com o próprio Elay Cohen, e escreva-lhes umas linhas.

A conclusão que tiro daqui é que houve a necessidade de criar não só um processo estruturado de vendas que pode ser replicado e escalável, mas também uma forma sistemática de permitir que os vendedores e a equipa de gestão partilhem histórias. Para dar e receber feedback, independentemente de onde se encontre no mundo! É como uma plataforma social de networking totalmente direcionada para impulsionar resultados de topo. 

Foi um ótimo primeiro dia, e as expectativas estavam em alta, já que ainda estavam para vir empresas como o Facebook e a Google, e sessões em Stanford e no Centro do Fórum Económico Mundial para a Quarta Revolução Industrial.

14-09-2018


Portal da Liderança


Gabriel Martins Small

Gabriel Giehl Martins foi senior manager na brasileira Rede D’Or São Luiz (a maior empresa de gestão hospitalar da América Latina). Formado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro, Brasil), tem mais de dez anos de experiência em projectos de estratégia e gestão com atuação em segmentos como o da saúde, logística, educação, serviços, tecnologia ou oil & gas.

Eleito Best Student Leader em 2017 após ter concluído o MBA pelo The Lisbon MBA (Universidade Nova e Universidade Católica em Lisboa, e MIT Sloan nos EUA), encontra-se na fase final da sua tese de mestrado em Business (também pelo The Lisbon MBA).

Apaixonado por conhecer novas culturas através de viagens, da culinária e da leitura, também se diverte a assistir ou a jogar um bom futebol.