Fiz recentemente uma viagem à volta do mundo em 15 dias. Durante esse período, visitei cinco países diferentes, em três continentes. A distância percorrida foi de aproximadamente 33 549 quilómetros e as diferenças horárias entre o ponto de partida e o de destino anterior oscilaram entre as -8 e as +16 horas.
A primeira escala em Londres serve de almofada entre a Europa e os EUA, onde se faz a adaptação à língua inglesa. A chegada a São Francisco, na Califórnia, acontece catorze horas após a partida, mas, na prática, chegámos ao destino 7 horas após a partida. Corremos, portanto, contra o tempo. Após uma semana nos EUA, prossegui viagem rumo à Ásia, mais concretamente ao Japão, onde são mais dezasseis horas relativamente a São Francisco e oito em relação a Portugal.
Mais do que falar sobre fusos horários, jet lags e viagens de avião, interessa-me partilhar a experiência que é estar em contacto com realidades tão diferentes num curto período de tempo.
Europa, América e Ásia. Podemos também falar de passado, de presente e de futuro. O velho continente Europeu, os Estados Unidos da América, terra das oportunidades, e a Ásia, um continente de contrastes, nomeadamente entre o tradicional e o tecnológico. Os EUA e o Japão estão no top 3 da lista das maiores economias mundiais, com o primeiro a encabeçar a lista e o segundo a ocupar a terceira posição a seguir à China. Já Portugal ocupa o 45º lugar, segundo dados do FMI referentes ao ano 2014.
Não pretendo falar de economia, mas estes indicadores são relevantes para se começar a conhecer a epiderme de um país. Já para conhecer a derme e sentir o pulsar de uma sociedade, precisamos de ir mais fundo. E tal só é possível com um espírito de abertura em relação a outras culturas muito diferentes da nossa, nomeadamente a língua, os costumes, a política, a religião e até a própria gastronomia.
Nestas viagens, procuro registar as diferenças de cada uma destas culturas e perceber de que forma podemos aprender com elas. Conhecer outras realidades e pessoas estimula a nossa criatividade, ajuda-nos a sermos mais tolerantes, mas também nos oferece a distância necessária para valorizar o que temos e o que somos, enquanto indivíduos e enquanto sociedade.
Há 500 anos atrás, os portugueses partiram em direção ao desconhecido e trouxeram conhecimento, novos produtos e técnicas. Hoje, mais do que nunca, já conhecemos os países antes de os visitarmos, através das pontes criadas pelas comunicações e pela tecnologia. Ainda assim, nada substitui a experiência de estar em contacto com estas culturas e de viver esta experiência na primeira pessoa. Viajar faz-nos sair da nossa zona de conforto e estimula os nossos sentidos. Conquistar clientes além fronteiras é um desafio maior e, para tal, é necessário estudar as diferenças culturais, criar pontes e salientar as nossas qualidades, quer enquanto marca ou produto, quer enquanto país.
Se os americanos são bons relações públicas e marketeers, já os japoneses estão no extremo da eficiência e do perfecionismo. São profissionais e adotam uma postura muito cordial e respeitosa. É esta atitude que os impede de dizer que não nos negócios. Poderão dar a entender que não estão interessados dizendo que é difícil, mas o não será uma resposta pouco provável. A preparação, o rigor e a exigência que colocam em tudo o que fazem é um traço comum da personalidade japonesa, que é transposta para os seu produtos e cujo exemplo é facilmente identificável na gastronomia, nomeadamente no sushi. No outro extremo, está o uso e abuso da tecnologia. Aterrar num dos principais cruzamentos de Tóquio transporta-nos para um filme futurista. Recebemos diversos estímulos visuais e sonoros, enquanto temos a sensação de ser esmagados por um mar de gente.
Destas viagens, para além de estabelecer contactos comerciais e pessoais, procuro ideias, não para copiar, mas para reinventar. Procuro apreender novos conceitos e afastar-me da minha realidade, para que a possa analisar com um olhar renovado à chegada. A máquina fotográfica é uma extensão da minha visão e um instrumento que não dispenso. Uso-a para relembrar e para partilhar com a equipa o que tive oportunidade de ver.
Desta amostra de mundo, registo realidades e curiosidades muito distintas, mas, mais do que rejeitar aquilo que não compreendo, procuro conhecer melhor o que escapa à minha razão.
A viagem é encerrada com uma última escala no Dubai, antes de regressar à Europa. Recuo no tempo para regressar a casa.
Estará a Europa a perder terreno nesta corrida tecnológica? Estará o Japão a perder algumas das suas tradições? Serão os EUA ultrapassados pelo gigante chinês? E as organizações, nomeadamente as portuguesas, estarão preparadas para responder a estas velocidades?
Não tenciono responder a estas questões, mas sei que, à sua maneira, cada país ou organização tem que se autoconhecer, para poder valorizar os seus pontos fortes, pois é aí que reside a sua vantagem competitiva e a sua diferenciação em relação aos demais. É também muito importante estarmos atentos ao mundo que nos rodeia e evoluirmos permanentemente, sob pena de não resistirmos à mudança.
Já dizia Fernando Pessoa que “na vida precisamos inovar novos caminhos... E eu ainda sou um mero aprendiz...”
Rita Nabeiro, Diretora Geral da Adega Mayor, é licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. O seu percurso profissional teve início em 2005 na área de design e comunicação. Primeiro numa agência de publicidade em Itália e de seguida em Portugal, na agência Brand New. Viria a integrar o negócio familiar (Grupo Nabeiro-Delta Cafés) cerca de dois anos mais tarde. Dentro do Grupo Nabeiro começou por integrar o departamento de marketing da Delta Cafés, mas a aposta do Grupo Nabeiro na área dos vinhos levou-a até à direção de marketing da Adega Mayor, onde se destacam projetos como as edições especiais e as Wine Talks. Em 2012 assumiu a direção geral da Adega Mayor, posição que ainda hoje mantém.