Perceber as “máquinas” e os interesses individuais associados a cada líder e descodificar a forma, por vezes complexa, como alcançam e mantêm essa liderança, é um exercício que não nos pode escapar.
É muito comum a discussão das caraterísticas individuais que os líderes devem “emanar”. E esse é, sem dúvida, um exercício bastante interessante e sempre inspirador. Contudo, considero muito mais desafiante e relevante percebermos a forma como são “produzidos” e nomeados alguns dos líderes mais influentes do mundo.
Isto, porque nunca se é líder sozinho. Qualquer líder, por muito genial que seja, nunca o é eternamente e por si só. E é tanto mais verdade, quanto maior a escala e a importância que está associada a esse líder, a essa liderança.
Percebemos com facilidade que liderar o quê e o porquê determina, de modo inequívoco, o perfil do homem do leme, do porta-voz, da cara de qualquer organização, do designado líder (que nunca vem só!!!).
Destaco, portanto, que cada ato de liderança é único, quer na sua anatomia, quer na sua estruturação.
Vejamos, por exemplo, e no que se refere ao segmento das religiões, a diferença entre a “nomeação” do Papa Francisco – 266.º Papa da Igreja Católica e atual Chefe de Estado do Vaticano – em contraponto com a de Sua Alteza Aga Khan – 49.º Imam hereditário dos Muçulmanos Shi’a Imami Ismailis. O primeiro foi eleito por um colégio – designado conclave – e o segundo por uma sucessão hereditária.
É então claro que esta diferença abismal determina “bastidores” absolutamente distintos.
Poderíamos igualmente comparar os “bastidores” da eleição de um Chefe de Estado, como Barack Obama – Presidente dos Estados Unidos da América e Prémio Nobel da Paz – ou de um Secretário-Geral das Nações Unidas, como Ban Ki-moon.
Em qualquer um dos casos referidos – escolhidos por serem atores e líderes ativos na questão da construção da paz nos seus diferentes habitares – é fácil perceber que a sua eleição/nomeação está intrinsecamente ligada à forma como tal se processa e implica sempre uma estratégia e uma instrumentalização muito diferenciada e complexa.
No caso de Ban Ki-moon, foi a Assembleia Geral da ONU que o nomeou, por recomendação do Conselho de Segurança. E estas nomeações, estes “bastidores” são, como podemos imaginar, muito estratégicos e táticos.
A Organização das Nações Unidas (ONU), cuja importância me importa aqui destacar, é um exemplo claro dessa complexidade de que falo, e é, por excelência, a maior e mais importante organização que se dedica à construção de um mundo mais pacífico e em diálogo e é, por essa mesma razão, que a uso como case study.
Ban Ki-moon “é o símbolo dos ideais da ONU e um porta-voz dos interesses dos povos de todo o mundo, sobretudo dos mais pobres e vulneráveis”. Certamente que, num destes dias, voltarei a ele na primeira pessoa…
Concluo, afirmando que um dos desafios (e responsabilidades) mais interessantes e determinantes que cabe ao Secretário-Geral, é certamente o de definir a sua função dentro do contexto do seu tempo de funções. Cada mandato giza uma linha de ação – prioridades – que influenciam e inspiram o mundo. E é essa instrumentalização que se torna referencial e que tem por base uma enorme e necessária estratégia de marketing.
Por isso, nunca esqueçamos que um líder é sempre a produção e a ambição de algo muito dinâmico e determinado.
Nuno Olim Marote é fundador e Presidente do Projeto Sustentar – Plataforma Multidimensional e Inclusiva para o Desenvolvimento, projeto desenvolvido e ancorado ao PhD em Estudos de Desenvolvimento do ISEG e com o Alto Patrocínio da Presidência da República de Portugal e Cabo Verde, apoio institucional da CPLP e da UNESCO. Foi auditor da KPMG Portugal e consultor da Capgemini Ernst Young. É Licenciado em Gestão de Empresas pelo ISG.