Não são poucas as vezes em que olho para os supostos grandes líderes e sinto que, de algum modo, estou dentro de uma trama de ficção, em que aquilo que vemos roça o absurdo de uma qualquer novela mexicana de segunda linha, com atores mal escolhidos, outros subaproveitados e, por vezes até, com um enredo de “cordel” que, de repente, tira da cartola um coelho ao estilo dos melhores blockbusters de Hollywood.
Na prática, este jogo de sombras e espelhos não é mais do que o reflexo dos diferentes estilos de liderança que constantemente competem pela primazia, mas, a admitir que assim é, talvez valha a pena olhar para os mesmos com base nos doutos ensinamentos da prolífica obra de George R.R. Martin, Game of Thrones.
Para quem não conhece este trabalho, a premissa é simples. Existe um mundo fictício, várias famílias que compõe um reino e uma constante luta de poder entre todas, com requintes deliciosos de intriga palaciana na busca pela conquista do célebre trono de ferro que simboliza o domínio sobre a nação. Ou, por outras palavras, se assim quisermos, existe um mercado, várias empresas que constantemente lutam entre si, com fortes ligações ao poder político e, em última análise, uma constante busca pelo domínio do DOW JONES, NASDAQ, PSI-20, NIKKEI ou outros.
Há várias formas de conseguir alcançar este objetivo, ou melhor dizendo, vários estilos de liderança assentes em cada família. Comecemos assim pelo estilo dos Lannister, os leões que alegadamente cumprem sempre com as suas promessas. Oriundos de longas gerações de líderes, são tradicionalmente colocados em lugares de poder de segunda linha, em que controlam todo o mercado financeiro do reino. Operam essencialmente com base no seu poderio económico e meandros políticos e, mesmo que dificilmente consigam atingir o trono (ou quando isso acontece rapidamente são assassinados…), não há verdadeiramente uma decisão que não passe pelas suas mãos. É a verdadeira liderança sombra intemporal e qualquer comparação com o setor financeiro é mera ilusão.
Por outro lado, temos o exemplo dos Baratheon, família menos conceituada e mais dada a proezas no campo de batalha e à conquista do poder pela força. São como que uma classe de cavaleiros rudes que ascendem ao poder em determinado período da História e que rapidamente deixam que os seus vícios e opulência destrua qualquer hipótese de continuidade da linhagem, assim como uns novos-ricos nunca verdadeiramente aceites pelo poder instituído.
Num extremo totalmente oposto, surgem os Stark, gente nobre, trabalhadora e honesta, carregada de ideais, e para quem valores como a solidariedade e a honra são mais do que jargões publicitários, mas sim um modo de vida. A estes espera-se que assumam sempre uma posição secundária, um papel de apoio aos líderes de topo, funcionando muito como um nice to have ao nível de marketing e comunicação. Pouco habituados aos meandros da economia e da política, acabam desterrados, ou eventualmente mesmo decapitados, quando alguém sente que estes podem vir a ser uma ameaça.
Que dizer então daqueles que são reconhecidamente líderes pelas suas competências – ainda que, de vez em quando, surja algum um pouco desfasado da realidade – como é o caso dos Targaryen? Senhores dos dragões que controlaram o reino durante tempos infindáveis, conduzindo à sua união e progresso. Sucede porém que os dragões (tal como a inovação, tecnologia ou outro tipo de fator diferenciador) podem não durar para sempre e, quando nos falham, o resultado é um exílio penoso, numa busca por novos meios de reafirmação da sua condição, na esperança perpétua de renovar a chama que um dia os conduziu ao trono.
Outros operam na sombra, ao estilo dos Greyjoy, salteando os seus concorrentes sempre que sentem alguma fraqueza (assim ao estilo de OPA hostil) ou abandonando o campo de batalha quando a maré vira contra si. São os mercenários, cuja lealdade depende de quem tem o poder, vendendo-se constantemente à melhor oferta que permita a manutenção do seu status quo.
Mas não se pense que apenas de líderes se faz uma trama desta complexidade. É preciso não minorar o papel que os Baelish, os Varys ou os Seaworth têm a desempenhar, nunca esquecendo que, seja qual for o estilo de liderança, há sempre alguém que tem de correr os meandros do poder, para garantir armas tão importantes como a eficácia dos negócios, a contra-informação ou a lealdade. Isto porquanto ainda não há no mundo empresarial uma Melisandre que consegue ver o futuro nas chamas ou até uns caminhantes brancos que ressuscitam de cada vez que são abatidos pelos reguladores, perdão, pela Patrulha da Noite.
Qual será então o estilo mais adequado para vencer esta luta de tronos? Só George R. R. Martin sabe e, infelizmente, ainda faltam dois volumes para o final da história….
Nuno Madeira Rodrigues é CEO do HBD Group desde 2011, fundado pelo multimilionário sul-africano Mark Shuttleworth, lidera o Omali Lodge em São Tomé, o Bom Bom Resort e a Sundy no Príncipe. Presidente da Direção da Associação Empresarial de São Tomé e Príncipe, é Vice-Presidente do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, Presidente do Conselho Fiscal da Associação Lusófona de Energias Renováveis e Membro do Conselho Consultivo da Plataforma Sustentar. Foi advogado sénior da Cuatrecasas em Portugal e Espanha, advogado da Miranda Law Firm em Portugal, Moçambique e Angola, gestor do Grupo Vasco da Gama em Portugal e no Reino Unido para a Europa e África e consultor legal da Deloitte. Licenciado em Direito na Universidade Católica Portuguesa, tem um LLM na Universidade Católica Portuguesa e é Pós-Graduado em Direito Comercial na Universidade Católica Portuguesa. Especializado em Fiscalidade pelo INDEG/ISCTE, é orador em conferências e eventos diversos.