A lutar pelo talento... desde 1997

A lutar pelo talento... desde 1997
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Já em 1997 os autores do livro “The War for Talent” afirmavam que vivíamos numa era em que lutávamos por… talento. A verdade é que se passaram 21 anos e cá estamos nós a falar do mesmo! Posto isto, a pergunta impõe-se: o que tem sido feito para acabar com esta guerra?

Vera Conceição

A minha experiência no mundo das Tecnologias de Informação (TI) comprova esta luta. O setor tecnológico sempre foi uma área em que o desafio da atração de talento é constante, mas, nos últimos anos, o cenário piorou. É um tema sobre o qual muito se tem falado, mas pouco se tem feito. A começar pelo nosso sistema de ensino, por exemplo, onde, na minha opinião, não se tem criado os alicerces necessários para que consigamos dar resposta a uma guerra que parece não ter fim.

O advento da transformação digital e a vinda para Portugal de gigantes tecnológicos e de centros de serviços de grandes empresas aumentaram o problema. E tal fez com que analisemos, repensemos e reinventemos as nossas estratégias de atração de talento todos os dias, que devem ser cada vez mais criativas e diretamente ligadas ao que é o employer branding. É neste novo paradigma que a employee value proposition (EVP) se transforma na “impressão digital” das empresas, uma vez que permite que estas se tornem mais atrativas, não apenas para os potenciais colaboradores mas também para os atuais. Esta é a chave para o sucesso.


São vários os eixos da EVP, mas acredito que a employment brand é o que maior impacto tem no que diz respeito à atração. Claro que elementos como salário, cultura, estilo de liderança e até uma história longa e forte são fundamentais, mas, no mundo de transformação cultural e tecnológica em que vivemos, uma marca construída com base num passado não é suficiente para reter e atrair as novas gerações de colaboradores, que procuram (e encontram!) culturas organizacionais inovadoras e disruptivas.


No caso das TI, as estratégias de retenção (tal como as de atração) devem ser ainda mais desafiantes, uma vez que temos jovens talentos expostos a ambientes altamente competitivos que exigem e valorizam estratégias inovadoras. Fatores como horário e regras rígidas de trabalho, políticas burocráticas, fraco incentivo à autonomia e inovação são obstáculos que consomem a energia e a motivação dos profissionais, principalmente sendo eles das gerações Y e Z. Neste sentido, avaliar o trabalho pelo resultado da entrega, políticas de bonificação e reconhecimento, flexibilidade, comunicação transparente, cultura empresarial flexível e com objetivos definidos, deverá ser o caminho.


São várias as teorias sobre este tema e as estratégias estão identificadas. No entanto, o grande desafio é como as implementar, principalmente quando falamos de organizações que fazem parte de um tecido empresarial conservador, como é o português, e que, na sua grande maioria, ainda se “movem” por padrões tradicionais de gestão.


Esta pode parecer uma análise fatalista, mas quem, como eu, trabalha no mundo do recrutamento em TI, depara-se diariamente, e há muitos anos, com a enorme escassez de recursos humanos especializados. Contudo, se é verdade que é uma dor, também é isso que nos faz continuar e repensar como fazer melhor, como dar a volta e como nos podemos diferenciar para que acabemos, finalmente, por ouvir um “Sim, estou interessado!”.

21-06-2018


Portal da Liderança


VeraConceiçãoSmall

Vera Conceição é head of people do negócio de governo, transportes e energia da Novabase. Licenciada em Sociologia e Planeamento pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, tem um percurso de 12 anos no setor das Tecnologias de Informação (TI), na área do recrutamento.
Iniciou a carreira no grupo IBM (atual Softinsa), onde tomou pela primeira vez contacto com a área de TI. Passou ainda por uma empresa espanhola de consultoria em TI, na qual foi responsável pela contratação de jovens recém-licenciados em Portugal para integração de projetos em Espanha.
Em 2009 integrou a área de Neotalent da Novabase como IT recruiter, cargo que desempenhou durante cinco anos. Em 2014 juntou-se à Gfi (Groupe Française d’Informatique), onde liderou a área de recrutamento – até ao final de 2017, altura em que regressou à Novabase.