A sensação na Bay Area e em Silicon Valley, nos EUA, é de que, após duas décadas de crescimento, estamos a iniciar um período de mudança no mundo da tecnologia. Com o avançar das demissões e o congelamento de contratações, será um momento em que a liderança vai impactar a cultura organizacional.
Torben Rankine
São várias as parangonas nos últimos tempos sobre demissões em empresas de tecnologia como a Stripe, a Lyft ou o Twitter. Outros gigantes tecnológicos têm registado dificuldades em bolsa. As ações da Meta caíram 70% este ano, e a companhia sinalizou que vai haver um grande número de demissões, enquanto a sua aposta no metaverso é escrutinada pelos investidores.
No Twitter, após meses de incerteza sobre se a rede social seria adquirida por Elon Musk, o empreendedor iniciou finalmente o seu reinado. Após a transação, a primeira ação do novo proprietário foi reduzir pela metade o quadro de funcionários.
A sensação na Bay Area [São Francisco] e em Silicon Valley, nos EUA, é de que, após duas décadas de crescimento, estamos a iniciar um período de mudança no mundo da tecnologia. Com o avançar das demissões e o congelamento de contratações, será um momento em que a liderança vai impactar a cultura organizacional. A evidência já está a sentir-se, à medida que Elon Musk varre o Twitter para reduzir o número de funcionários e controlar as perdas de US$ 4 milhões por dia. Assim que a onda de mudanças no Twitter começou, quase de imediato atuais e ex-funcionários declararam que um dos valores centrais da empresa, a “transparência”, estava sob ataque. E assim a mudança de cultura começa, com uma nova liderança e uma nova visão do que o Twitter deveria ser.
Com a nova liderança, em particular de alguém com tanto sucesso e persistência como Elon Musk, vem uma nova visão. A liderança é o pilar da cultura corporativa e traça o rumo para a visão e a missão. E os funcionários assumem os valores fundamentais estabelecidos pela liderança, ao se alinharem e trabalharem para alcançar esses objetivos.
A visão e a missão do Twitter podem estar a ser reescritas pela nova liderança. A plataforma que já foi apelidada de “praça central” global, e estava no caminho para moderar o efeito “caixa-de-ressonância”, pode estar a inverter o curso. Muitas das demissões ocorreram nas equipas de engenharia e machine learning, nas unidades de confiança e segurança que gerem a moderação de conteúdo, e nos departamentos de vendas e publicidade. Parece que tudo está a ser questionado no Twitter. A sensação é que a visão de Elon Musk inclui libertar a “praça central” para que o discurso possa ser amplamente não moderado.
Daqui a três meses o Twitter pode parecer muito diferente. Como é referido no artigo “The Leader’s Guide to Corporate Culture” da Harvard Business Review, “a estratégia proporciona uma lógica formal para os objetivos da empresa e orienta as pessoas em torno deles. A cultura expressa objetivos via valores e crenças, e orienta a atividade através de suposições partilhadas e normas de grupo”.
Não há dúvida de que a cultura vai comer a estratégia sob a alçada de Elon Musk. O tempo dirá qual será o impacto da crise tecnológica na Bay Area. À medida que os trabalhadores de tecnologia estão a voltar aos escritórios, será interessante ver o que vai significar para a Bay Area este abanar do talento, a mudança de liderança e de foco.
Apesar da pandemia, a Bay Area ainda é onde há a maior concentração de talento em tecnologia nos EUA, como mostra a infografia “The largest tech talent hubs in the US and Canada”, do VisualCapitalist.
À medida que os ventos de mudança passam pela Bay Area, estes são os possíveis impactos:
1. O talento demitido vai juntar-se a outras empresas de tecnologia ou concorrentes para preencher a lacuna na missão que deixaram para trás. Este talento também pode decidir criar start-ups ou ingressar em empresas de menor dimensão e com uma estrutura corporativa menos pesada. Tal irá impulsionar a inovação, a concorrência, e mais disrupção.
2. As empresas de menor dimensão e mais ágeis podem decidir preencher o vazio deixado pela mudança de visão e de missão em tecnológicas como o Twitter e a Meta; talvez ao assumir a curadoria, a segurança e a moderação dos feeds de notícias nas redes sociais e opiniões, ou ao avançar para a dianteira no metaverso ou inovar no espaço fintech.
3. O Twitter irá reorientar-se, e a liderança de Elon Musk terá uma equipa que acredita nas novas visão e missão da empresa. O alinhamento com a nova liderança e o novo foco trará novos recursos para a plataforma, dado que haverá uma mentalidade de possibilidade em toda a equipa.
4. A mudança permitirá que novas oportunidades venham à tona.
A mudança traz novas oportunidades. É neste sentido que incentivamos a vir explorar o ecossistema da Bay Area com o programa GSI – Global Strategic Innovation. Para saber mais só tem de aceder a www.globalstrategicinnovation.com.
28-11-2022
Portal da Liderança
Torben Rankine, com mais de 20 anos de experiência no contexto da promoção do espírito empresarial e da inovação, é partner da LBC nos EUA. Gere o programa GSI - Global Strategic Innovation, que leva CEO e empresários a Silicon Valley. E tem desenvolvido programas customizados de inovação e de tech scouting para empresas como a Embraer ou a EDP. Liderou o hub de aceleração da Portugal Ventures em São Francisco e apoiou mais de 70 start-ups da carteira da Portugal Ventures, fazendo a ligação ao ecossistema em Silicon Valley.