Liderança regional ou por setores? - Camilo Lourenço

Liderança regional ou por setores? - Camilo Lourenço

Duas finais ibéricas: Sevilha-Benfica, na Liga Europa, e Real Madrid-Atlético de Madrid, na Liga dos Campeões. Finais protagonizadas por clubes de dois países que passaram por dificuldades financeiras e económicas graves nos últimos cinco anos: a Espanha, com uma intervenção na banca, e Portugal, com uma intervenção nas finanças públicas (e com obrigação de fazer reformas estruturais para por a economia a crescer). Não obstante essas dificuldades, os dois países surgem com o expoente máximo do futebol na Europa.

É fruto do acaso? Ou existe uma estratégia que torna o futebol, do ponto de vista da Gestão, uma excepção no atraso que a Ibéria regista em relação ao resto da Europa? É preciso não esquecer que o Atlético e o Real Madrid deixaram para trás adversários com poder (financeiro e futebolístico) na Europa: o Atlético afastou o Barcelona, que está no segundo lugar do Football Money League, da Deloitte, e o Chelsea, 5º lugar do mesmo ranking. O Real afastou o poderoso Bayern de Munique, 4º lugar da lista, e o Borussia de Dortmund, 11º do grupo dos países “mais ricos” do mundo. 

Por seu lado, o Benfica, 22º do ranking da Deloitte, afastou clubes tão poderosos como a Juventus, 10º da lista da Deloitte, no caminho para a final. O Sevilha, por seu turno, eliminou o Valência, que surge imediatamente antes do Benfica naquela lista.

Há outro factor, no negócio do futebol, que leva a perguntar por que surge a Ibéria tão bem representada no panorama mundial: das 32 selecções a jogar a fase final do Mundial, no Brasil, há três treinadores portugueses. Paulo Bento orienta Portugal, Carlos Queiroz dirige o Irão, e Fernando Santos dirige a Grécia. Fruto do acaso?

São demasiadas coincidências para achar que estes sucessos são mera sorte. E, por isso, devem ser estudados. Mas não sob a forma pela qual normalmente estudamos o fenómeno da Liderança. Quando abordamos estes temas, fazemo-lo pensando na orientação que, do ponto de vista individual, alguém (ou um grupo de pessoas) imprime a uma empresa ou a uma organização.

Aqui a perspectiva tem de ser diferente: é a liderança de um sector (o futebol) e a liderança de uma área geográfica (a Península Ibérica) que têm de ser estudados. Da mesma maneira que questionamos outras realidades. Por exemplo, por que tem a Dinamarca, um país do norte da Europa, a liderança em certos sectores da agricultura e da agro-indústria? No sector da suinicultura, por exemplo, a Dinamarca está na frente da investigação mundial… Ou, no caso de Portugal, por que conseguiu o sector do calçado, em apenas vinte anos, fazer sombra à Itália na liderança do sector a nível mundial?

É sob este prisma que temos de estudar o sucesso da Ibéria no negócio do futebol. Não por uma questão nacionalista, mas para perceber o que podemos aprender com estes exemplos e tentar replicá-los noutros sectores da economia. É um bom desafio para as escolas de Gestão em Portugal e Espanha…

 


Camilo-Lourenco-CronicasCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Entre a sua experiência profissional encontramos redator principal do “Semanário Económico” (desde 1988); coordenador da secção Nacional do “Diário Económico” (de que foi um dos fundadores) desde 1990. Diretor adjunto da revista “Valor”, que ajudou a fundar (1992). Diretor da mesma revista (1993), onde se manteve até 1995. Editor de Economia da Rádio Comercial, de 1992 a 1997. Diretor editorial das revistas masculinas da Editora Abril/Controjornal: “Exame” (revista que também dirigiu); “Executive Digest”, entre outras. Comentador de assuntos económicos da Rádio Capital, de 2000 a 2005. Diretor da revista “Maisvalia” (de 2003 a 2005). Comentador da RTP e RTP Informação, onde passou também a apresentar o programa “A Cor do Dinheiro” (desde 2007). Colunista do “Jornal de Negócios (desde 2007); comentador de assuntos económicos da Media Capital Rádios (desde 2010). Numa das rádios do grupo, a M80, apresenta dois programas: “Moneybox” e “A Cor do Dinheiro”. Comentador de assuntos económicos da televisão generalista TVI, onde apresenta “Contas na TV”. A par destas funções, Camilo Lourenço é docente universitário. Lecionou na Universidade de Lisboa, na Universidade Lusíada e no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. Por outro lado leciona pós-graduações e MBA. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.