Quem são os próximos “capitães da economia”? – Camilo Lourenço

Quem são os próximos “capitães da economia”? – Camilo Lourenço

Qual o melhor período da economia portuguesa nos últimos 40 anos? A resposta é fácil e nem sequer é interessante: o final dos anos 80, princípios de 90. A pergunta interessante é esta: Porquê?

Aqui, a resposta já não é tão fácil. Uns vão dizer que foi do influxo de fundos da então CEE; outros vão avançar que foi da abertura da economia (o sector privado ganhou peso face ao público). As teorias poderão continuar por aí fora, mas julgo que a economia carburou bem pela conjugação de três factores: abertura ao exterior, baixo peso da despesa do Estado e privatizações. 

Foi a conjugação destes factores que permitiu uma extraordinária criação de riqueza naquele período e o aparecimento de novos “capitães” da economia. Apareceram projectos novos (bancos) e empresários/gestores de que quase ninguém tinha ouvido falar (Belmiro de Azevedo, por exemplo). O aparecimento destes novos protagonistas foi uma das grandes conquistas daqueles anos. De repente, parecia que Portugal tinha encontrado os substitutos dos grupos económicos decapitados pelo gonçalvismo. Havia como que uma emergência de uma nova ordem económica no país.

Passados 25 anos, o que resta? Pouco. Belmiro envelheceu e abandonou tarde demais a liderança do grupo (o mesmo aconteceu noutros grupos económicos), alguns dos projectos nascidos na década de 80 perderam pujança (ver o caso BCP) e o país não vê nascer nada de novo no seu lugar. O leitor é capaz de citar um caso notável de grupo económico e/ou de líder que tenha surgido nos últimos dez anos? Liderança, nem na política…

Esta ausência de projectos novos e de Líderes é, em minha opinião, o aspecto mais preocupante para o futuro de Portugal. E que nos deve levar a perguntar o que está mal e como pode ser corrigido.

Julgo que a pergunta tem duas respostas: temos um grave défice de gestão e falta de capital. A falta de gestão não explica tudo, dirá o leitor. Afinal, ela já existia nos anos 80, quando a economia deu o salto. Não é verdade. Nessa altura, o mundo ainda tinha fronteiras. E, por isso mesmo, o apelo do exterior não era tão grande. Quer isto dizer que boa parte dos cérebros que vinham, ficavam por cá. Ora, isso não acontece hoje. Se falarmos com qualquer jovem talentoso, nas faculdades de engenharia, gestão e economia, o trabalho no exterior é algo que já vem inculcado, por default, na sua cabeça. E como Portugal não lhes oferece desafios compatíveis com esse talento… emigram (voltaremos brevemente a este assunto). 

A segunda questão não é menos importante. Portugal é um país sem capital. Foi isso que nos levou a desperdiçar a oportunidade das privatizações. O governo da altura quis reservar a propriedade das empresas que vendeu para portugueses. Mas, como não tínhamos capital, os candidatos à sua compra tiveram de se endividar. O resultado é o que se vê: o excesso de dívida prejudicou o seu crescimento (mormente no exterior) e conduziu a uma destruição impressionante de valor. De que o BCP, a PT e o BES são apenas alguns exemplos…

Conclusão: precisamos de criar as condições para um novo “boom” da economia portuguesa, só que não podemos repetir os erros dos anos 90. Isso implica resolver aqueles dois desafios de que falámos acima: a qualidade da gestão e a existência de capitais próprios para financiar o desenvolvimento. Se não o fizermos, podemos ter uma certeza: o futuro passar-nos-á ao lado.

 


Camilo-Lourenco-colunaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.