Comunicação: O que um líder nunca deve dizer à sua equipa – Camilo Lourenço

Comunicação: O que um líder nunca deve dizer à sua equipa – Camilo Lourenço

Quando falamos em Liderança ou Gestão, temos tendência a colocar todo o esforço na parte técnica; na formação. Já se deu ao trabalho de contar o número de disciplinas técnicas de um curso de Gestão? Mas prestamos pouca atenção a um dos elementos fundamentais para as organizações e para quem as dirige: a Comunicação. De que vale ter um gestor tecnicamente competente, se não souber comunicar com a sua equipa?

O artigo de hoje aborda esta questão. Não do ponto de vista técnico, mas com exemplos práticos. Reunimos um conjunto de expressões muito ouvidas no dia-a-dia das empresas, que constituem erros crassos na forma como se lida com as equipas. E propomos alternativas. 

Ora compare as duas versões e veja qual é a mais eficaz…

1 - “Você não pode fazer isso!”. Mas, como chefe, quando nomeou ou contratou aquela pessoa explicou-lhe as suas funções? Fez a sua job description?

2 - “Já era para ter tido esta conversa mais cedo, mas esperei para ver se as coisas iam ao lugar”. Já pensou que o adiamento da conversa pode ter passado para o interlocutor a ideia errada? A de que estava tudo bem com o seu comportamento e que, por isso, não havia nada a mudar…?

3 - “Você não acerta uma”. É mesmo assim? Ou (por alguma razão) não gosta da pessoa e está a descarregar nela a sua fúria? Ok, admitamos que ela cometeu mesmo um erro. Acha que essa mensagem a vai motivar para fazer diferente no futuro? 

4 - “Estou farto de falar neste assunto”. E explicou bem o seu ponto de vista? Ou seja, acha que a pessoa a quem se dirigiu o percebeu? Se percebeu, e reincidiu, talvez seja melhor despedi-la (é um mau exemplo para os seus colegas). Há outra hipótese, a pior: você não tem credibilidade. Neste caso (se ninguém o leva a sério na empresa), é melhor demitir-se…

5 - “Não foi nada disto que pedi”. E se reformulasse a frase: “Se calhar, não fui claro quando entreguei esta tarefa. Vamos recapitular, para ver se estamos sintonizados quanto ao que a empresa pretende. Ao admitir que o problema pode ser seu, e não do interlocutor, está a revelar humildade. Por outro lado, despersonaliza a questão: não é a sua vontade que está em causa; é a da empresa. 

6 - “Quero isto pronto até amanhã”. Experimente tirar a tónica do “comando”, optando por algo do género: “A empresa tem alguma urgência em ver isso concluído. Quando acha que pode terminar a tarefa?” Ao dar ao interlocutor a possibilidade de avançar com uma data está a responsabilizá-lo. Se falhar, a responsabilidade será dele. Se, por outro lado, a data que este propuser for demasiado alargada, pode sugerir o encurtamento. 

7 - “Quem dá as ordens aqui sou eu”. Um Líder não dá ordens, afirma-se naturalmente. Se tiver de chegar a este ponto para “assertivar” a sua autoridade, das duas uma: ou alguém não percebe o seu lugar, ou você não tem capacidade de liderança. Quando recorremos à autoridade para estabelecer uma relação de hierarquia, estamos a admitir que não a conseguimos afirmar de outra maneira. E nesse caso dificilmente teremos sucesso como chefes… 

8 - “Este ano a empresa não vai pagar bónus. As coisas estão difíceis.” A avaliação não pode ser destituída de critérios, não pode basear-se em ideias gerais. Tem de ser objectiva: deve munir-se de números (vendas, custos, resultados…) para explicar o que significa a expressão “as coisas estão difíceis".

9 - “Eu bem dizia que era areia demais para a sua camionete”. E se disser antes: “Estou a vê-lo um pouco estressado para terminar o projecto. Se precisar de ajuda diga. É importante não falharmos o prazo acordado com o cliente”

10 – “Você nunca ‘entrega’ (no sentido de ‘deliver’) o que lhe peço”. E nas vezes anteriores em que falhou essa “delivery”, analisou essa pessoa o que falhou na sua metodologia de trabalho? Sem perceber as falhas é difícil corrigir os comportamentos… Nunca se esqueça de que o falhanço de um subordinado é também um falhanço do chefe.

 


Camilo-Lourenço-FotoNova-coluna-1Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.