Marco Silva, “the ultimate leader” – Camilo Lourenço

Marco Silva, “the ultimate leader” – Camilo Lourenço

O leitor sabe que encontro no futebol um manancial de informação para estudar a matéria da liderança e da gestão de empresas. A razão é simples: é um sector onde a diversidade de talentos é tão grande que conseguir colocar todos esses mesmos talentos ao serviço de um objetivo (a vitória em determinada prova) é muito difícil.

Nas últimas semanas, tivemos um bom exemplo do desafio que constitui a gestão de uma equipa de futebol: a final da Taça de Portugal, que colocou frente-a-frente Sporting e Sporting de Braga.

A equipa de Marco Silva, o Sporting, quase começou o jogo em situação de inferioridade, ao ver-se reduzido a dez unidades. Como se isso não bastasse, nos primeiros 45 minutos sofreu dois golos que colocaram o Braga em muito boa situação para vencer o troféu. Imagine você, caro leitor, o que faria se fosse CEO de uma empresa que se colocara em situação de inferioridade. Reunia as tropas, em reunião de emergência, para analisar o problema? Muito provavelmente. Mas o que lhes diria, sabendo que estavam a levar uma cabazada nas vendas, tendo perdido um dos elementos chave da equipa?

Não sei o que Marco Silva disse aos seus jogadores ao intervalo. Quem falou com os jogadores diz que a mensagem foi simples: “Se alguém acha que não conseguimos dar a volta por cima, não volte para dentro do campo!”. É uma mensagem poderosa. Mas sejamos honestos: qualquer um de nós é capaz de a dizer. Qual foi então a diferença, entre as palavras de Marco Silva e as que diríamos na nossa empresa, se nos víssemos confrontados com o mesmo desafio? 

É aqui que está a chave do problema: não basta dizer frases poderosas ou usar palavras motivadoras; é preciso levar os outros a acreditarem nelas. Foi isso que fez a diferença no discurso de Marco Silva: a sua mensagem tinha qualquer coisa que levou os jogadores a acreditarem nelas. De tal forma que uma equipa em inferioridade numérica conseguiu reagir e, a seis minutos do final do jogo, diminuir a desvantagem para 2-1. E é provável que tenha sido isso que deu a motivação para, em tempo de descontos, marcar o golo do empate. E foi seguramente isso que levou o Sporting, em todo o tempo extra (30 minutos), a jogar melhor do que o Braga, apesar de ter menos um jogador…

É isto que torna o futebol uma fonte inesgotável de inspiração para os gestores: foi “a crença”, fruto da mensagem do CEO, que levou uma equipa a transcender-se e a regressar do fundo do poço à vitória. 

Não me canso de meditar nestes exemplos e tentar tirar deles algo que possa fazer a diferença na nossa atuação como condutores de equipas. Vamos ver com mais detalhe: Marco Silva planeou antecipadamente a situação (ou seja, preparou-se para o caso de chegar ao intervalo a perder)? Muito provavelmente. Escolheu as palavras que utilizaria nessa situação? Quase de certeza. Isso facilitou a sua tarefa. 

Mas foi isso que fez “a” diferença? Não! O que fez a diferença foi a forma como falou: acreditando no que dizia, percebendo o que ia na cabeça de cada jogador (ao olhá-los nos olhos) e passando-lhes uma energia que eles naquele momento não tinham.

Você que está a ler esta prosa, e que dirige pessoas, devia fazer este teste: imagine-se no lugar de Marco Silva. Tem o carisma suficiente para tirar a sua equipa do fundo do poço e ganhar um desafio? Se tem, deixe-se estar onde está. Se não tem, dê lugar a outro. A sério!

 


Camilo-Lourenço-FotoNovaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.