Quando pergunto aos meus clientes, em abstrato, qual o desafio mais importante para os próximos anos, há uma resposta que aparece com maior frequência – “gerir a mudança”.
Carlos Oliveira
O arranque do ano de 2016, instável em várias frentes, e a rapidez com que novos desafios e novos negócios se têm desenvolvido nos últimos anos também dão uma indicação de que o principal desafio que os líderes, em todos os níveis, terão de enfrentar nos próximos tempos será a gestão da mudança.
A necessidade imperiosa da mudança e da transformação guiada
É com certeza reconhecido pelos leitores do Portal da Liderança que o ritmo da mudança nas nossas vidas está a acelerar todos os anos, como em nenhuma geração anterior. Basta ler as notícias sobre a economia global, a geopolítica, as empresas aparentemente estáveis que se afundam, ou falar com os nossos filhos ou entrevistar os recém-licenciados do “novo milénio”. Em vez de desenvolvimentos lineares, temos agora mais frequentemente desenvolvimentos exponenciais, que o nosso pensamento linear tem maior dificuldade em acompanhar.
Também é comumente partilhado, creio, que a causa principal desta aceleração são os progressos tecnológicos, especialmente nas tecnologias de informação e comunicação que, com o advento da internet, aceleraram o desenvolvimento da sociedade da informação, evidente nas redes sociais, o que está a alterar relações pessoais, modelos de negócio, estruturas organizacionais, competências necessárias, estruturas de poder, enfim, a alterar a forma de viver, de produzir e de consumir. Neste novo mundo digital, o fenómeno da cibercidadania (a massificação e democratização do acesso e da utilização do digital) será o grande impulsionador da mudança.
É mudança a mais para os líderes conseguirem acompanhar?
Os líderes conseguem acompanhar o passo? Que líderes? Há uma grande ansiedade sobre este acelerado ritmo da mudança, sobre o futuro dos modelos de negócio e das empresas, a manutenção do emprego, a carreira dos jovens, os novos desafios de liderança. Essa crescente ansiedade por vezes gera angústia e negativismo, especialmente em quem se sente potencial perdedor, e muitos líderes acabam por colapsar em termos pessoais, de forma total, ou gradualmente, visível em comportamentos tóxicos dentro das suas organizações.
A vida dos líderes de hoje está muito mais acelerada. Os e-mails, os telemóveis, os tweets, as redes sociais comprimem o tempo e a distância. As respostas dos líderes e decisores têm de ser mais rápidas. Não só nas empresas, mas também na política, no setor público, nos reguladores e nos tribunais. A gestão do tempo dos líderes é mais complexa, no sentido de poder responder a múltiplas oportunidades e vertentes. Os líderes estão também sempre mais ocupados, especialmente os decisores. Devido aos computadores portáteis, tablets e telemóveis, trabalham em casa, nos transportes, até em locais de lazer como a praia. As decisões dos líderes são mais complexas, pois hoje têm muito mais escolha e até conhecem algumas consequências antecipadamente. A estrutura organizacional das empresas está a mudar de hierarquia, regras e procedimentos para estrutura de projeto e laboratório e para cultura e talento. Os modelos de negócio estão em constante ameaça e mudança. A estrutura social e familiar está a mudar, pelo que o líder está mais só também em casa. O mundo está mais pequeno. Os fenómenos inesperados e novos tornam-se rapidamente globais. A competição é global, mesmo para pequenas empresas. Decisões e desenvolvimentos em geografias distantes estão nas notícias em menos de 24 horas e a influenciar todos os negócios.
Como podem os líderes do futuro manter-se relevantes?
Neste contexto, estar parado não é opção. A nova sociedade digital requer uma disciplina pessoal de aprendizagem constante e, depois, uma ação consequente. Ou para simplesmente responder às mudanças, porque o chão se move debaixo dos líderes; ou para ir mais longe e aproveitar o lado positivo desta mudança, que é o maior número de oportunidades pessoais, de negócio e de inovação social e económica e a abertura de novos horizontes anteriormente impossíveis. A educação formal e a formação nas empresas não chegam.
Para os líderes vencerem nesta nova sociedade digital, de ritmo acelerado de mudança, é preciso acompanhar regularmente as tendências, estar sempre melhor informado, aprender online, ler informação relevante e diferenciadora, pertencer a comunidades digitais sofisticadas, desenvolver networks globais. Procurar e seguir as melhores práticas e casos pragmáticos. Seguir com atenção o que é partilhado pelos mais destacados líderes. Trabalhar em rede com parceiros, consultores, coaches e mesmo com concorrentes.
Tudo isto lhe é oferecido pelo Portal da Liderança. E, por tudo isto, foi feito um novo investimento na renovação da plataforma, cujos resultados estão visíveis hoje, dia de lançamento do novo Portal da Liderança, e que se vão tornar visíveis também ao longo deste ano.
Acompanhe-nos com assiduidade. Participe nesta comunidade. Mantenha-se relevante e melhor preparado num mundo em mudança acelerada. Esse é o principal desafio dos líderes nos próximos anos.
Mas gerir a mudança não é fácil
Quando faço uma segunda pergunta aos meus clientes, nos vários mercados onde operamos, sobre “o que é de facto gerir a mudança nas suas organizações”, cada um dos elementos do conselho de administração ou do nível de direção ou dos operacionais das diversas áreas de atividade tende a ter uma opinião diversa da dos colegas. O mesmo acontece na minha empresa. “Gerir a mudança” é então uma espécie de buzzword que gera um caos de interpretações e torna difícil liderar um processo de transformação que aumente a performance da organização. Como endereçar este desafio é o tema do próximo artigo.
11-01-2016
Carlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.