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Há duas formas de espalhar a luz: ser vela ou o espelho que a reflete  Edith Wharton 

Edith Wharton 

Acácio Elba Bonfim: São Tomé e Príncipe é um bom mercado para acolher investidores estrangeiros

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Acácio Elba Bonfim: São Tomé e Príncipe é um bom mercado para acolher investidores estrangeiros

Acácio Elba Bonfim, Administrador Executivo do Banco Internacional de São Tomé e Príncipe, refere que "os investidores podem sentir-se encorajados a investir" neste mercado, mas que "qualquer investimento de algum vulto deve ser equacionado" e que "um investidor que não tenha em conta esta realidade está condenado ao insucesso". 


O nosso processo democrático, apesar de ainda muito imaturo, é muito dinâmico e, conjugado com interesses instalados, encurta frequentemente a vida dos governos.



Portal da Liderança (PL): É Administrador Executivo do Banco Internacional de São Tomé e Príncipe. Quais os desafios que se lhe colocam?

Acácio Elba Bonfim (AB): Antes de mais, agradeço pela oportunidade que me dá em termos esta conversa. 
Os desafios são múltiplos e grandes. Como sabe, estamos num mercado cada vez mais complicado e numa sociedade de complexidade crescente. É verdade que, desde a sua criação em 1993 e durante alguns anos, o BISTP foi o único banco comercial da nossa praça. Depois passámos a ter um “companheiro” nessa espinhosa caminhada. Alguns anos depois, voltamos a estar sozinhos, até que, a dada altura, foram surgindo mais concorrentes e, neste momento já somos 8 bancos neste exíguo mercado tentando cada um dar o seu melhor e, à sua maneira, satisfazer a procura que vem dos pouco mais de 75 mil clientes.

Como pode imaginar, não são poucos os desafios que se me colocam como executivo do Banco. Mas o mais importante deles prende-se com a necessidade de garantir o lugar e a posição de Banco Líder do nosso mercado, sem, no entanto, perdermos a cultura de rigor e de seriedade que sempre caraterizou as nossas atuações e manter a nossa tradição de serviço de excelência.

PL: Qual foi a situação que o fez aprender mais em termos de liderança e o que aprendeu? 

AB: Talvez tenha que apontar os primeiros momentos de discussão para a criação da Associação São-tomense de Bancos. Bancos de origens diferentes, de culturas diferentes e, diria mesmo até, com objetivos bastante díspares, isto é, “coisas” tão diferentes, a tentarem juntar-se. Eu presidia às sessões e foi uma excelente experiência. Havia situações em que me interrogava se, na realidade, estávamos todos interessados em ter uma associação e qual seria o seu verdadeiro objetivo. Foi preciso fazer uso de alguma habilidade, enquanto presidente da comissão instaladora, para encontrarmos uma linguagem comum. Aí, aprendi muito mais a escutar os outros, a mediar posições e, sobretudo, a tolerar alguns excessos, tudo isso em nome do interesse comum. Valeu a pena!

PL: Qual a importância que a prática da liderança assume no BISTP? 

AB: Em qualquer organização, a capacidade de transformar um grupo de trabalho em equipa de trabalho tem um papel fundamentar no seu sucesso. No BISTP não estamos perante uma exceção. Tento fazer com que os colaboradores vivam o Banco. Que sintam o Banco e os seus problemas como sendo seus, mas, naturalmente, sem se esquecerem de si próprios e das suas ambições. Não tem sido fácil. Mas, sou o primeiro a pôr a mão na massa e, ao fazê-lo, tenho a minha equipa comigo. Caminhamos juntos, e juntos vamos triunfando aos poucos.

PL: De que forma é que o BISTP cria novos líderes? Qual o papel que assume no impulsionar de uma nova geração de líderes? 

AB: Tudo começa desde o processo de recrutamento, o qual se faz sempre através de concurso. Procuramos avaliar a capacidade e as potencialidades dos candidatos e, através de testes apropriados, identificamos e selecionamos os melhores. Durante a sua vida profissional, os nossos colaboradores passam por várias ações de formação.
Temos um sistema de avaliação de desempenho, através do qual as notas não são atribuídas de forma meramente subjetiva, mas sim com a maior objetividade possível, tomando em conta toda a vida do colaborador na instituição. O próprio colaborador participa na sua avaliação, emitindo opinião, não só sobre as notas que lhe foram atribuídas, mas também sobre que áreas consideradas críticas e ter em conta durante as futuras ações de formação, de modo a melhorar o seu desempenho. Damos muita atenção ao mérito dos nossos colaboradores.

Através da avaliação contínua dos nossos colaboradores, identificamos os potenciais líderes em quem delegamos responsabilidades.
Com o crescimento do Banco, os desafios também crescem e diversificam-se. Por isso vão surgindo novos líderes. Damos oportunidade aos nossos colaboradores para se afirmarem, de modo que a liderança surge por si só, isto é, sem qualquer imposição do superior hierárquico. Só assim, teremos a garantia de continuidade e, sobretudo, de surgimento de novos líderes.

PL: Conseguirão os colaboradores distinguir o líder do chefe? Qual o impacto que esta distinção assume nos quadros do BISTP? E na sociedade santomense? 

AB: Embora a diferença seja evidente, para aqueles que entendem do assunto, nem sempre ela é tão nítida ao ponto de os colaboradores fazerem a distinção de forma óbvia. Penso que é muito mais fácil ser-se chefe do que ser-se líder. Pessoalmente, tento fazer com que os colaboradores do Banco me vejam e me aceitem como líder e não como simples chefe. Dou mostras de que confio nos elementos da minha equipa e dou o meu melhor para que haja um clima de confiança mútua entre todos. A generalidade das pessoas faz confusão entre ser chefe e ser líder. Até acontece que, paradoxalmente, certos responsáveis preferem ser tratados por chefes do que por líderes. Acho que é por mera ignorância, ligada ao exercício do poder na sua organização. Pode ser também uma questão de medo, sobretudo, o medo de partilhar o sucesso.

PL: Enquanto administrador do primeiro banco comercial privado de São Tomé e Príncipe, que conselhos dá aos empresários/gestores que desejem investir e atuar no país? 

AB: Eu sou de opinião que São Tomé e Príncipe é um bom mercado para acolher investidores estrangeiros. Agora, mais do que nunca, em que se pode constituir uma empresa em 48 horas; em que é generalizada a preocupação em melhorar o sistema judiciário; em que há um acordo de parceria económica com Portugal, através do qual é garantida a estabilidade cambial da Dobra face ao Euro; em que os indicadores de desempenho macroeconómico dão mostras de visível tentativa de recuperação. Acho que os investidores podem sentir-se encorajados a investir em São Tomé e Príncipe.

No entanto, o nosso mercado é muito exíguo, o que pode constituir um fator de desencorajamento. Por isso, insisto em dizer que, qualquer investimento de algum vulto em São Tomé e Príncipe, deve ser equacionado, pelo menos numa perspetiva regional. Devemos ter a consciência de que o nosso país tem dois elementos em que parece ser cronicamente deficitário. Refiro-me à população para produzir, por um lado, e, por outro, à população para consumir. Um investidor que não tenha em conta esta realidade, está condenado ao insucesso. 

PL: Foi ministro do Plano e Finanças da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Como vê a atuação governativa de São Tomé e Príncipe? 

AB: A governação em STP depende de inúmeros fatores, muitos dos quais escapam ao controlo dos governantes. Um país que produz tão pouco, mas que tem a obrigação de satisfazer as mesmas necessidades económicas, políticas e sociais que outro país qualquer, não pode ser facilmente governado. Os meios são muito escassos e a maior parte provém de ajudas externas. Os programas dificilmente são realistas face à real capacidade de mobilização de recursos, daí que dificilmente são executados com alguma satisfação. O nosso processo democrático, apesar de ainda muito imaturo, é muito dinâmico e, conjugado com interesses instalados, encurta frequentemente a vida dos governos, sendo que os programas nunca são cabalmente executados. Perante estes fatores e outros mais, a atuação governativa tem tendência a ir atendendo às questões do dia-a-dia, o que pode pôr em causa o ditado que diz que “governar é prever”. No entanto, constato alguns sinais positivos e dignos de menção. 

PL:  Quais os desafios que, no seu entender, se perspetivam para o futuro próximo do país? E para a banca santomense? 

AB: Acho que as dificuldades vão continuar ainda por alguns anos. Não vejo saídas milagrosas para STP. Enquanto continuarmos a ser tão dependentes do exterior, para execução financeira das políticas do Estado, os desafios serão grandes.
No entanto, apesar de todos os possíveis problemas que o petróleo tem trazido na maior parte das sociedades cuja economia se baseia neste recurso natural, acredito que ele poderá constituir solução para o nosso desenvolvimento. Mas há duas condições importantes: A primeira é que devemos aprender com os erros dos outros e evitarmos cometê-los; a segunda é que devemo-nos ir preparando para acolher o petróleo e, a meu ver, não estamos a fazer isto. No entanto, enquanto ele não chega, acredito muito na área dos serviços. STP deve rapidamente transformar-se na famosa e tão propalada plataforma de prestação de serviços. O grande problema, está em mobilizar recursos para satisfazer esta aspiração, nas condições do mundo financeiro de hoje.

No que toca à banca, acredito que ao perdurar este estado de coisas, vamos assistir a uma redução de número de bancos que, aliás, já me parece ser exagerado, para o nosso mercado. Acho que, dentro de alguns anos, não teremos mais do que 3 ou 4 bancos.

PL: O que faz falta aos líderes de São Tomé e Príncipe para uma melhor e mais eficaz liderança? 

AB: Na minha opinião, fazem falta cinco elementos fundamentais, entre outros:

  •  A capacidade de transformar o seu grupo de trabalho numa equipe;
  •  A capacidade de auscultar, inspirar e motivar os seus colaboradores;
  •  A capacidade de cultivar o bom relacionamento interpessoal;
  • A capacidade de dialogar e ter abertura para ouvir as opiniões dos outros;
  • O reconhecimento das suas insuficiências e limitações e a consequente disponibilidade para aprender com os seus colaboradores. Numa palavra, humildade.



PL: Foi criado recentemente o Clube dos Empresários de São Tomé e Príncipe, estando a seu cargo a presidência do mesmo. Qual a sua visão para este clube a curto, médio e longo prazo?

AB:

  • A curto prazo: Congregar um número razoável de membros;
  • A médio prazo: Promoção do empresariado nacional;
  • A longo prazo: Ser uma organização de referência e de motivação para o sucesso empresarial em STP.

PL: De que forma é que este poderá impulsionar a inovação, o crescimento e a expansão empresarial de São Tomé e Príncipe? 

AB: Através de ações concretas tendentes a criar estímulos à inovação. Vamos promover ações com o objetivo de criar espaços de debate de temas ligados à organização e à gestão e de estabelecer intercâmbios com organizações estrangeiras congéneres. Tudo faremos para que os nossos associados, e não só, sejam tidos em devida conta na busca de soluções para o país e que tenham uma participação ativa como verdadeiros motores de desenvolvimento. Em todo este processo, uma ação fundamental será o estabelecimento de parcerias estratégicas que possam servir para mobilizar e direcionar investimentos para São Tomé e Príncipe. É preciso, igualmente, melhorar o nível de conhecimentos no domínio de gestão empresarial e da qualidade da informação contabilística.

PL: Onde mais tendem a falhar os líderes empresariais? 

AB: Penso que o maior problema está no método. É necessário aprendermos a ser democratas. Muitas vezes os líderes não confiam nos seus colaboradores. Até há casos em que está-se perante uma boa estrutura organizacional, um modelo de negócio bem definido, regras de procedimento bem claras, etc. No entanto, a empresa não atinge os níveis de sucesso desejados devido ao tipo e à postura do líder: não sabe ouvir; não sabe motivar; é exigente para com os colaboradores mas não é uma referência para eles; confunde o respeito com o medo, etc. Na minha opinião, estes são os fatores que mais ditam o falhanço dos líderes empresariais.

PL: Quais as três qualidades mais importantes para um líder nos próximos 10 anos? 

AB:

  • Carismático (Influenciador natural e positivo);
  • Visionário (Ter visão estratégica);
  • Estudioso (Investir no conhecimento).

PL: Um dia o que é que o mundo vai dizer de si? 

AB: Sabe, nunca pensei nisto. Mas já agora, pergunto: Será que o mundo dará conta de que eu existi? Se sim, será que estará preocupado em emitir opinião sobre mim e/ou sobre a minha pessoa ou feitos? Bom, sendo o caso, então, provavelmente, o mundo dirá o seguinte: Pois é: O Acácio não fez grande coisa, nem se destacou como líder, mas, pelo menos nunca deixou de tentar!

 


Acacio-Elba-BonfimAcácio Elba Bonfim é Administrador Executivo do Banco Internacional de S. Tomé e Príncipe. Formado em Economia na EX-URSS e com mestrado em Banca e Finanças, pelo Instituto Giordano Dell'Amor, em Milão, Itália, acumula 30 anos de experiência profissional. Foi Ministro do Plano e Finanças de 1996 a 1999 e Diretor de Contabilidade da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) em Libreville, Gabão, entre 1988 e 1994. Preside ao Clube dos Empresários de São Tomé e Príncipe.

 

 

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