O receio de fracassar é uma das grandes razões para as empresas não serem mais bem-sucedidas – aponta um relatório da britânica PA Consulting – “Innovation as Unusual”, que tem por base um inquérito realizado junto de 751 executivos em 15 países e nove setores.
O documento refere também que há indícios de que a inovação está relacionada com melhores resultados de negócio. Entre o grupo dos “líderes em inovação” (aqueles que acreditam firmemente que a sua liderança é boa a incentivar e a fomentar a inovação), o estudo constatou que “35% atingiram mais de 10% de crescimento no EBITDA no ano anterior, em comparação com apenas 16% do resto dos entrevistados no setor privado”. Estes valores são bons, mas depois há uns "incómodos" 65% neste grupo da frente que não veem tais diferenças de desempenho.
O objetivo do estudo era encontrar as características-chave fundamentais associadas aos inovadores que mais se destacam. Os resultados são alimento para a mente dos executivos de topo que querem ser mais inovadores enquanto evitam fracassos dispendiosos – uma situação referida por quase metade (47%) dos entrevistados. Um total de 50% afirma ainda ter visto uma ideia brilhante falhar por motivos que podiam ter sido evitados.
Peter Siggins, especialista em negócios no PA Consulting Group, afirma que a cultura das empresas é o principal culpado. Ou seja, se a liderança é avessa ao risco (muitas vezes por um bom motivo, outras porque não lhes é vantajoso em termos pessoais), os colaboradores não são encorajados a assumir riscos.
Outro fator é a falta de mecanismos de recompensa que incentivem a inovação ou então que fazem o oposto – costumam punir quem assume riscos – combinação que sufoca a inovação. Neste sentido, Peter Siggins sugere que se “recompense o comportamento certo, independentemente do resultado” obtido, em vez de apenas em caso de sucesso. Isto porque a inovação tem a ver com correr riscos, mas de tal forma que não esgote os recursos quando alguns esforços acabam por falhar.
O relatório de 100 páginas examina a inovação por setor, e chegou à conclusão de que as ciências da vida têm a maior percentagem de líderes em inovação (52%). Curiosamente, a tecnologia ficou a meio da tabela (30%). Em segundo lugar surgem os serviços financeiros, que ficam exatamente dentro da média, com 38% das empresas classificadas como líderes em inovação. O documento observa que uma cultura de conformidade e sistemas de “herança”/legado podem minar os esforços de inovação.
Analisando os dados por país, as cinco nações no topo da inovação são o México, a Suécia, os EUA (na média, com 38%), a Noruega e a Alemanha. O Reino Unido surge numa posição inferior, com apenas 23% dos entrevistados no grupo dos líderes. Os respondentes no Reino Unido gostam de falar sobre inovação, mas são traídos pela falta de enfoque (o que é a inovação, afinal?) e pela preocupação com atingir o ROI (return on investment).
O relatório tem alguns exemplos interessantes, como as recentes toalhitas de papel Ora, cujo design permite que uma embalagem tenha duas vezes mais toalhitas que o formato tradicional, e que podem ser usadas apenas com uma mão. O produto, desenvolvido pela britânica Better All Around – com o apoio da PA Consulting, passou do processo de conceção diretamente para as prateleiras da cadeia de retalho Tesco em menos de 12 meses.
Voltando ao relatório, o documento faz as seguintes recomendações para “converter em lucro o investimento realizado em inovação”:
1. Ser visionário, agressivo e corajoso no que diz respeito à inovação
2. Dar nova vida ao tradicional conselho de administração
3. Ter anticorpos para combater os assassinos da inovação
4. Calcular tendo em conta o valor
5. Falhar com segurança, falhar de forma frugal
6. Ir além da tecnologia convencional
7. Olhar para lá do setor em que se encontra – e continuar a olhar
Este relatório pode ajudar a destacar a importância da inovação e a mitigar alguns dos desafios. Caso contrário, pode haver mais empresas na mesma posição que os taxistas – que assumiram que tinham um negócio seguro até uma tecnológica inovadora (Uber) ter descoberto uma forma de transformar pessoas comuns em concorrentes dos seus serviços enquanto proporciona uma melhor experiência ao cliente.
13-12-2018
Fonte: CustomerThink.com