É comum pensar-se que os homens tendem a ter maior ousadia que as mulheres. E são vários os estudos que mostram que os líderes empresariais do sexo masculino costumam assumir mais riscos. Mas Jack Zenger, CEO da consultora americana Zenger/Folkman, e Joseph Folkman, presidente da empresa, analisaram um banco de dados da companhia com avaliações de 360 graus de 75 mil líderes a nível mundial e perceberam que, em média, as mulheres são mais ousadas que os homens. E explicam porquê, num artigo na Harvard Business Review.
Os dois consultores criaram um “índice de ousadia” com base em sete tipos de comportamentos que costumam analisar (sim, pode avaliar quão ousado é com base nas descrições). Dado que estes estão entre os comportamentos com os quais se deparam nas avaliações de liderança de rotina, Jack Zenger e Joseph Folkman consideram que “podem ser mais relevantes para os gestores reais do que os estudos que avaliam o “risco”, quer em situações de laboratório ou em termos puramente financeiros”. E o que se segue é a lista dos sete comportamentos-tipo dos líderes em termos de ousadia:
- Desafia as abordagens padrão
- Cria uma atmosfera de melhoria contínua
- Faz todos os possíveis para atingir metas
- Leva os outros além do que se pensava inicialmente possível
- Energiza os outros para que assumam objetivos desafiantes
- Reconhece de forma rápida as situações em que é necessário mudança
- Tem coragem para fazer as mudanças necessárias
Com a ousadia definida desta forma, as mulheres situam-se, em termos médios, no percentil 52, alguns pontos acima da classificação média dos homens, no percentil 49 de ousadia. Os autores notam que, por haver mais homens nas posições de topo, a lista era composta por quase o dobro de líderes no masculino. E, embora a diferença não pareça assim tão grande, talvez explique por que motivo a ideia de que “os homens assumem mais riscos” está tão enraizada na ciência social. Pelo que os autores quiseram ir um pouco mais longe e ver como esta disparidade funciona em vários cargos nas empresas. E repararam que diferentes funções têm “pontuações de ousadia” bem distintas – tanto entre as ocupações, como entre homens e mulheres na mesma função. Não é de surpreender que o trabalho de vendas apresente a maior pontuação em ousadia, e que a engenharia e segurança tenham o valor mais baixo. Em cada função, as mulheres líderes têm, em média, classificações mais altas que os líderes masculinos no que diz respeito à ousadia.
Os consultores também notaram que as funções com as maiores disparidades em termos de género são as de investigação e desenvolvimento (I&D), de instalações, TI e produção – tudo ocupações que tendem a ser dominadas pelos homens. No sentido de o quantificar, analisaram a percentagem de homens e de mulheres em cada grupo e correlacionaram com a diferença entre aqueles (eles e elas) que têm liderança ousada. E encontraram uma correlação de 0,45, “o que é bastante forte” (sendo que 1 é a correlação perfeita, e zero significa que não há qualquer correlação). Nas funções exercidas predominantemente pelo sexo feminino, como a de Recursos Humanos, em média, a ousadia das mulheres não é muito diferente da dos homens. Já nos cargos em que a percentagem de homens é maior, o comportamento ousado por parte delas aumenta.
Em seguida analisaram as oito funções de topo dominadas por líderes no masculino e as duas funções onde predomina a liderança no feminino, por sexo e idade. Será que as mulheres se tornam mais ousadas com o passar do tempo, ou são mais ousadas logo à partida, no início das suas carreiras? Os dados mostram que as na faixa dos 30 anos e mais jovens que estão em profissões dominadas pelos homens são classificadas no percentil 62, enquanto as da mesma faixa etária e nas profissões dominadas por mulheres estão no percentil 42. Ou seja, “parece que ser uma mulher mais jovem num cargo dominado por homens requer uma personalidade bastante ousada – uma vontade de desafiar o status quo, de se esforçarem mais para obter resultados, e de fazer algo fora do comum”. Então, voltando à questão inicial – são as mulheres mais ousadas que os homens? Provavelmente não, na população em geral. Mas aquelas que têm sucesso no mundo dos negócios, especialmente em áreas maioritariamente lideradas no masculino, podem ter de ser.
09-04-2018
Portal da Liderança