Liderança segundo Maquiavel: os fins só justificam os meios quando há um bom objetivo

Liderança segundo Maquiavel: os fins só justificam os meios quando há um bom objetivo
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Passados cinco séculos, “O Príncipe” permanece atual, sendo considerado leitura obrigatória para os líderes ambiciosos, e não só.  

Quinhentos anos depois de ter sido escrito, “O Príncipe”, o tratado de Nicolau Maquiavel (1469-1527) sobre o regime monárquico, ainda é considerado leitura essencial para os executivos ambiciosos e que almejam o poder. Escrito como orientação para que Lourenço II de Médici, Duque de Urbino, reinasse com êxito em Itália, “O Príncipe” valoriza o sucesso terreno em detrimento dos princípios morais. No entanto os seus ensinamentos são muitas vezes mal interpretados como advogando métodos inflexíveis e astuciosos para atingir os objetivos a qualquer custo.

O dito “comportamento maquiavélico” tem muito mais nuances do que parece. Aliás, estudos recentes sobre os trabalhadores nas companhias alemãs revelam que não só os traços maquiavélicos estão ligados a uma maior antiguidade no cargo e a funções de liderança na empresa, como, surpreendentemente, os gestores com estes traços têm maior probabilidade de gostar do seu trabalho. Seguem-se algumas dicas de como os líderes de empresas podem aplicar as táticas de Maquiavel nas organizações de hoje.

Gestão da reputação
É vital que os soberanos e líderes projetem uma imagem forte para ganhar o respeito dos seus subordinados. Como Maquiavel observa, “os homens, geralmente, julgam mais pelos olhos que pelas mãos”. Sobretudo nas grandes organizações, embora todos os funcionários saibam quem é o chefe, poucos desfrutam do contacto direto, por isso é importante projetar uma imagem poderosa junto dos colegas e da concorrência. Este é um aspeto que é sem dúvida mais difícil de concretizar nos dias de hoje que na Florença do séc. XV. Com o feedback das linhas da frente a ter de alcançar os executivos de topo em tempo real, os líderes de agora devem estar mais envolvidos e ser menos enigmáticos.

Assim, elabore o seu perfil nas redes sociais com cuidado e esteja atento à correspondência interna com os seus colegas. Da mesma forma, deve limitar qualquer crítica que tenha a fazer aos seus executivos aos canais de feedback adequados (e até mesmo privados), no sentido de garantir que o negócio corre de forma eficiente, enquanto, na qualidade de líder, mantém a autoridade intacta.

Um maquiavélico também sabe que “o primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que ele tem à sua volta”. As pessoas que o líder escolhe para seus assessores imediatos e chefes de departamento serão vitais para o manter atualizado sobre o desempenho de cada divisão, e para o ajudar a delinear a estratégia. Mas porque eles são uma extensão da sua autoridade, também devem ter o respeito das respetivas equipas.

Clemência no lugar de crueldade
Desfazendo o mito de que os seguidores de Maquiavel são implacáveis, um bom governante, argumenta Nicolau, deve procurar ser “clemente e não cruel”. No entanto, acrescenta que ser temido é mais seguro que ser amado. Esta visão é corroborada por uma investigação publicada no Journal of Personality and Social Psychology (de 2011 e que compilou dados de três estudos ao longo de 20 anos junto de 10 mil trabalhadores), cujas conclusões apontam que os homens que são agradáveis têm maior probabilidade de ganhar menos que os seus homólogos desagradáveis.

Podendo escolher, um líder deve procurar ser querido e temido. Ray Fisman, professor na americana Columbia Business School, e Tim Sullivan, editor na Harvard Business Review, concordam, afirmando ao The Wall Street Journal que “um pouco de dor bem direcionada pode ser bom para levar os trabalhadores a concentrarem-se em tarefas que poderiam optar por esquecer, e também para aumentar a produtividade global”.

Bons propósitos
“Aquele que deseja o sucesso constante tem de mudar a sua conduta com os tempos”, escreve Maquiavel. No entanto, e ao contrário da crença popular, Maquiavel não argumenta que se deve procurar atingir o sucesso a qualquer preço, antes que os métodos pragmáticos devem servir um propósito maior. Maurizio Viroli, professor na Universidade de Princeton, EUA, afirmou à Strategy + Business que um executivo maquiavélico deve ser “um inovador capaz de criar novas e melhores formas de produzir e distribuir produtos e serviços”. O docente argumenta que ter um comportamento desonesto seria desculpável – embora não justificável – se fosse necessário no sentido de avançar com uma inovação valiosa para um grande número de pessoas, desde os clientes aos colegas…


01-06-2018


Fonte: City A.M.

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