Para o diretor executivo da Xerox Corporation e presidente da Xerox Technology Business, o líder é quem marca o ritmo. Responsável por uma mudança fundamental no core da companhia americana, redirecionando o enfoque da multinacional, considera que “nunca o princípio de Darwin foi tão válido aplicado ao negócio”.
Armando Zagalo de Lima, presidente da Xerox Technology, é o vencedor dos Best Leader Awards* 2014 na categoria de Líder Internacional.
Como definiria o seu estilo de liderança?
Evoluiu ao longo do tempo de um estilo mais diretivo para um mais colaborativo. Esta mudança veio do reconhecimento de que os objetivos se atingem em equipa, e a probabilidade de os atingir aumenta substancialmente quando a equipa faz parte da construção da solução, em vez de esta lhe ser imposta. No entanto, é importante notar que o estilo deve adaptar-se às circunstâncias particulares do momento em que se aplica, assim como às caraterísticas do grupo.
Quais as caraterísticas-chave num bom líder internacional?
Penso que as caraterísticas de um bom líder nacional são as mesmas que se impõem a um internacional, dado que a liderança é válida independentemente das fronteiras onde opera. Diria que capacidade de adaptação, inteligência emocional, honestidade inteletual, objetividade, senso de justiça, boa visão estratégica e excelente capacidade de execução são características fundamentais.
Como as aplica na sua organização?
Muitas das caraterísticas necessárias a uma liderança efetiva são inatas e, portanto, a sua aplicação é razoavelmente espontânea. Não quero com isto dizer que essas qualidades de liderança não se possam desenvolver, pois acredito e sou um bom exemplo de evolução e desenvolvimento das minhas.
Já passou por Portugal, Bélgica, Reino Unido e EUA. Que adaptações teve de fazer?
Os desafios no mesmo país ou entre diferentes nações e continentes são similares. Estamos a lidar com pessoas, independentemente da sua localização, e este é o ponto verdadeiramente importante. Os países e as pessoas têm culturas que podemos tentar caracterizar, mas todos conhecemos bem os riscos da generalização. Por isso, coloco sempre muita atenção na compreensão da pessoa que tenho à frente para definir a melhor maneira de lidar com ela. Se estamos a falar com um grupo, é preciso adaptarmo-nos às especificidades da sua cultura, para comunicarmos de forma mais eficaz. Alguns grupos esperam direções claras e outros preferem contribuir para a construção da solução. Se queremos ser bem-sucedidos, temos de selecionar a abordagem certa para cada caso.
Desempenhou vários cargos na Xerox até chegar à presidência. Que importância teve este percurso?
Beneficiei do facto de essas experiências terem sido realizadas numa multiplicidade de geografias, culturas e funções, que ajudaram no meu desenvolvimento como líder. O que trouxe para cada função foi a experiência acumulada vinda dos sucessos e também dos insucessos, porque se aprende com ambos. O que foi curioso ao longo da minha vida profissional foi o facto de nunca ter planeado a minha carreira, mas antes ter sempre estado concentrado em fazer o meu melhor.
Qual foi a maior realização da Xerox sob o seu comando?
Foi a criação de uma nova oferta de serviços na área de impressão que veio revolucionar este mercado e a criar um novo segmento que hoje representa um standard nesta indústria.
E o maior risco?
A implementação de um novo sistema ERP através de todos os países da Europa.
De que forma se assegura de que a Xerox está em linha com os objetivos que vão sendo estabelecidos?
Há dois aspetos importantes. O primeiro é garantir que os objetivos são os corretos. É inaceitável que uma empresa tenha objetivos demasiado fáceis, mas ainda pior é gerir uma com objetivos impossíveis de atingir. A magia está em ser capaz de definir objetivos que sejam suficientemente agressivos para levar a organização a exprimir o seu melhor, mas não a um ponto de levar os colaboradores a desistir. Uma vez essa meta atingida, a fase seguinte, que é igualmente fundamental, é definir responsabilidades e um sistema de gestão que permita a deteção atempada de qualquer desvio ao plano e uma implementação rápida das consequentes ações corretivas. Fácil de descrever, mas difícil de fazer...
Qual é a questão que mais coloca a si mesmo enquanto líder? O que costuma ter como resposta?
A função do líder é levar uma equipa a atingir determinados objetivos num tempo determinado e em circunstâncias específicas. A pergunta mais frequente é se o estamos a fazer da melhor forma possível. A resposta varia de dia para dia e às vezes durante o mesmo dia. O líder sem dúvidas é arrogante e a arrogância é o seu maior inimigo. Ter dúvidas leva-nos à reinvenção contínua e isso é a base do sucesso.
Qual considera ser o erro mais frequente cometido por quem ocupa cargos de liderança?
O líder que se deixa cair na arrogância perde o contato com a realidade e a confiança da sua equipa. Sem ambas, o sucesso torna-se difícil.
Que lições de liderança gostaria de legar a um sucessor?
Não tenho lições, mas experiências para partilhar. Penso que o instrumento mais importante de um líder é a liderança pelo exemplo. O líder é quem marca o ritmo: é difícil pedir às pessoas que corram quando se está apenas disposto a andar.
Quais os grandes desafios que a atual conjuntura coloca aos líderes?
O maior desafio é sem dúvida o da adaptação. Tudo muda a um ritmo que impõe necessidades de mudança constantes. Nunca o princípio de Darwin foi tão válido aplicado ao negócio.
Em tempos de crise, como se alavanca a motivação e retém talento?
Antes de mais, motivação e talento são aspetos fundamentais em qualquer momento, de crise ou de crescimento. Na fase de crise, normalmente, impõem-se sacrifícios, o que faz crescer o risco de quebra de motivação e consequente perda de talento. A comunicação é crítica: do plano de recuperação, do contributo de cada um e dos benefícios para cada um, uma vez os objetivos atingidos. A criação de um senso de missão é sempre útil, pois ajuda a criar um sentimento que está acima dos interesses materiais.
Inovação é uma palavra-chave ou verbo de encher?
A inovação é a única fonte sistemática de crescimento em qualquer negócio. Parar de inovar é morrer, e a melhor maneira de liderar é criar.
Quais as grandes dificuldades que o seu setor enfrenta a curto/médio prazo?
O volume de páginas impressas vai diminuir, o que está a provocar uma reinvenção da indústria. Nunca vale a pena, em qualquer área de negócio, tentar combater uma tendência de mercado. A última acaba sempre por vencer e algumas empresas aprenderam isso de uma forma dolorosa. A única resposta é seguir, ou idealmente, liderar a mudança inovando.
E oportunidades?
As oportunidades são o facto de o volume de páginas a diminuir. Não estou a tentar fazer uma brincadeira, mas antes a falar bastante a sério: a inovação vai ser ajudar as empresas a transformarem os seus processos de trabalho para que envolvam menos papel, e uma componente digital e de automatização mais importante.
E Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos?
Os desafios são continuar a tomar as ações necessárias para fazer crescer a economia de forma saudável, o que significa atrair investimento e facilitar o financiamento das PME (pequenas e médias empresas) que, em Portugal, são a essência do tecido empresarial.
Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar/eliminar?
A estratégia para a “empresa” Portugal não é diferente da que se definiria para qualquer outra empresa em dificuldades. Crescer receitas, diminuir custos e melhorar a rentabilidade. Começou-se por trabalhar na diminuição de custos e no aumento das receitas, através do acréscimo da carga fiscal. Recentemente, tem-se trabalhado na criação de novas receitas, através do aumento de exportações e da atração de novos investimentos para o país. Será importante continuar a trabalhar no aumento da receita fiscal através de políticas que garantam uma distribuição mais justa e equilibrada da carga fiscal, criando incentivos ao pagamento e reduzindo as oportunidades de evasão.
Fundou o Conselho da Diáspora Portuguesa. Como veem o país lá fora?
Portugal tem uma ótima reputação fora do país. Os portugueses que trabalham fora são geralmente vistos como sérios, bem qualificados e disciplinados.
Como se pode melhorar ainda mais essa imagem?
Estando confiantes no que somos e não tendo receio de nos expor e de ambicionar ser os melhores no que fazemos. Não temos nada a temer quando o nosso melhor é confrontado com o melhor de outras partes do mundo.
Entrevista conduzida por Armanda Alexandre (Oje) e por Ana Serafim (SOL).
*O Best Leader Awards distingue anualmente as personalidades que se destacam enquanto líderes em várias áreas. Sob o mote “o reconhecimento dos líderes que inspiram a sociedade”, esta iniciativa levada a cabo pela Leadership Business Consulting, tem como principal critério o impacto positivo que os profissionais têm nas organizações onde trabalham e nas pessoas que lideram. Os nomeados e galardoados são selecionados e avaliados de acordo com um processo que conta com duas comissões, uma de nomeação, dirigida por José Lamego, e outra de avaliação, presidida por Eduardo Catroga. As categorias de atribuição dos prémios são: Líder na Internacionalização; Líder nas Novas Tecnologias; Líder na Administração Pública, Institutos e Universidades; Líder na Gestão de Empresa Pública; Líder Internacional; Líder na Gestão de Empresa Privada.
Armando Zagalo de Lima, com um mestrado em Tecnologia da Informação e Engenharia Eletrónica da Universidade Técnica de Lisboa, é um dos executivos portugueses mais bem-sucedidos dentro da americana Xerox, tendo demonstrado, ao longo da sua carreira, grande capacidade de conceber e de implementar transformação na organização. Na companhia desde 1983, onde ingressou como delegado comercial, o seu caminho fez-se de forma rápida, num âmbito cada vez mais abrangente e com impacto crescente. Uma forte ética profissional e visão para os negócios permitiram a sua ascensão na organização e um aumento contínuo do seu contributo para o desempenho da empresa. Em 1990 Armando Zagalo de Lima deixa a Xerox Portugal para iniciar um percurso internacional. Quatro anos depois é nomeado CEO da multinacional na Bélgica. Com base nas suas capacidades de liderança e nos resultados obtidos, em 1997 é nomeado CEO para a Europa do Sul (Itália, Espanha, Portugal e Grécia). Passados três anos assume a chefia da Xerox European Solutions Organization, em Londres, sendo posteriormente nomeado CEO da Xerox Europa, liderando as operações da companhia nos 16 países da Europa Ocidental. Ascende ao cargo atual em 2012. Enquanto presidente da Xerox Technology Business, a maior divisão da Xerox Corporation, Armando Zagalo de Lima é responsável pelo negócio de fornecimento de tecnologia de impressão, software e serviços de gestão documental a nível mundial, representando mais de 12 mil milhões de dólares (cerca de 8,8 mil milhões de euros) em receitas. No desempenho desta função, está baseado na sede da Xerox Corporation em Norwalk, Connecticut, nos EUA. O contributo e influência do responsável no sucesso da Xerox ao longo da sua carreira são realçados pela confiança e respeito que tem conquistado junto dos seus pares, bem como o reconhecimento do mercado, tendo já conquistado 61 prémios.