Tony Dolton, diretor geral da Unitel Angola, acredita que é preciso “trazer algumas das ideias [de Silicon Valley] para Angola para que consigamos ser ainda mais inovadores no mercado” e que “Se quisesse investir em África estaria a ponderar em Angola porque existem (…) oportunidades gigantescas” em muitos setores.
Portal da Liderança (PL): O que mais o marcou nesta experiência em Silicon Valley?
Tony Dolton (TD): Quando fui abordado acerca do programa que mais tarde vim fazer a Silicon Valley, a palavra inovação foi a que mais se destacou. Aquilo que mais me interessava era como poderíamos ser mais inovadores na nossa empresa e criar uma cultura de inovação na Unitel em Angola. Já somos bastante inovadores, mas penso que poderemos ir mais além. Penso que este programa me deu a oportunidade de ver como os outros o fizeram. O local por excelência da inovação é Silicon Valley, pelo que acredito que é um bom local para se começar. Este permitiu-me conhecer outras pessoas em Silicon Valley e ficar por dentro do que têm feito, mas também de conhecer outras pessoas de África e de Portugal e de ouvir o que estas têm também a dizer e aprender também com as suas experiências.
PL: O que falta em Angola para as empresas serem mais inovadoras e capazes de manterem o foco e de atingirem os resultados ambicionados?
TD: Acho que não é bem do que falta, mas de quais as oportunidades que existentes. Olhando para a Unitel, penso que é umas das empresas mais inovadoras do mercado, mas, se perguntarmos se é suficientemente inovadora, provavelmente a resposta é não. Acho que em Angola há uma cultura muito hierárquica que acho que também é uma coisa muito portuguesa. Isto é visível na forma como as pessoas se dirigem umas às outras, se tratam umas às outras. Acho que temos a oportunidade para acabar com algumas dessas formalidades, de uma forma positiva. Penso que, se conseguirmos ser um pouco menos hierárquicos e talvez um pouco mais comprometidos uns com os outros, desde o mais sénior ao que está mesmo na base da estrutura, haverá muito a aprender. Penso que é este o modelo que domina em Silicon Valley, onde há CEO que trabalham na mesma sala ou gabinete que o estagiário que acabou de entrar. Para mim, trata-se de saber como poderemos trazer algumas destas ideias para Angola, para que consigamos ser ainda mais inovadores no mercado.
PL: Acredita que é possível criar uma cultura de compromisso (engagement) em Angola?
TD: Não acredito que esta questão das hierarquias se trate de um traço particular das empresas em Angola, mas de muitas e muitas empresas por todo o mundo. Sou um grande crente no compromisso com e para com as pessoas. Penso que tenho é de encontrar uma forma de ensinar os meus gestores e os meus diretores de que é realmente seguro comprometerem-se com as pessoas, perguntar-lhes as suas opiniões, agir de acordo com o ponto de vista que outro alguém apontou. Acho que há um pouco de medo de que, se agirem de acordo com o que foi o ponto de vista de um jovem gestor, o seu cargo possa estar em risco. Não sei.
PL: Como perspetiva Angola daqui a 5 anos?
TD: Angola é um país muito interessante. Acredito que é um local de oportunidades. Na área das telecomunicações, acredito que Angola estará daqui a 5 anos aberta ao ICT, onde neste momento não há fornecedores suficientes. Também o NCK que está a ser planeado, e em que os americanos permitiram que os angolanos venham a ser o eixo do ICT para a África subsaariana e talvez também para a África central. Vejo assim Angola num crescimento contínuo. O governo está a investir em força nas infraestruturas, como em estradas, caminhos-de-ferro, novos edifícios, aeroportos, pelo que espero que daqui a 5 anos exista algum turismo, que é hoje escasso. Espero que haja um vibrante setor de telecomunicações e de ICT. Neste momento, isso acontece com as telecomunicações, mas não com as ICT. Penso que se trata de uma terra de oportunidades. Se quisesse investir em África estaria a ponderar em Angola, porque esta tem oportunidades gigantescas, por exemplo ao nível da agricultura, da saúde, educação, entre muitas outras, mas também, é claro, ao nível da exploração mineira e petróleo, mas penso que também ao nível do ICT.
PL: Liderou em países como o Reino Unido, Gana, Egito e Angola. Qual a situação que o fez aprender mais em termos de liderança e o que aprendeu?
TD: O momento em que senti que a minha vida mudou foi quando fui para o Gana. Já tinha vivido em África, mas foi a primeira vez que vivi num país da África subsaariana e foi muito interessante. Trabalhava na altura na Vodafone e tínhamos comprado a Gana Telecom, que era o antigo fornecedor de telefone fixo. Mudou-me a vida, porque conseguimos dar a volta ao negócio num curto espaço de tempo, 2 ou 3 anos, mas a interação com as pessoas e o potencial que estas detinham era impressionante. Fui para África com algumas ideias feitas que caíram todas por terra. Adorei o Gana, o Egito e Angola. É uma terra de oportunidades com grandes sorrisos por todo o lado!
Tony Dolton é diretor geral da Unitel Angola. De nacionalidade inglesa, engenheiro de formação e com mais de 12 anos de experiência neste setor, Tony Dolton colaborou com a Vodafone, onde desempenhou funções durante sete anos. Desde 2011 até assumir o cargo na Unitel, foi Chief Technology Officer (CTO) na Vodafone Egipto, tendo estado anteriormente no mesmo cargo na liderança da Vodafone Ghana. Durante os cinco anos anteriores desempenhou funções na Motorola como Diretor de Serviços na África Subsariana. Anteriormente tinha estado ao serviço da Royal Navy do Reino Unido.