Quer ter comunicação autêntica? Treine que isso passa

Quer ter comunicação autêntica? Treine que isso passa
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O melhor comunicador que há em nós encolhe-se perante o desconhecido, e isso é ser natural e autêntico. Mas significa ser um bom comunicador? 

Sara Batalha 

“Eu só quero melhorar, Sara, não quero mudar.” Provavelmente, o mais profundo medo empresarial é este. Ouvi-o esta semana, de novo. A voz que o disse estava séria, o rosto revelava micro expressões de medo, a postura manteve-se rígida e o discurso bastante emotivo. As mãos, essas, acalmavam-se em seco.

Ouvi-o esta semana de novo porque já perdi a conta às vezes que, um outro executivo qualquer, atrás de uma secretária, me apresentou o mesmo bicho papão: “Quero continuar a ser quem sou, Sara. Não quero que pensem que treinei. Quero manter a minha autenticidade”.

Ah! Chegámos à mítica questão: a autenticidade. O mito da perda da autenticidade.

Acredito que a autenticidade é um mal-entendido paradoxal. Pense, por exemplo, numa entrevista de televisão. A voz fica diferente quando se enerva ou quando está tenso, não é? A comunicação objetiva, de repente, resvala para uma comunicação nada empática, certo? E então as mãos, que até parece que ganham vida e lugar próprios? E porque é que isto nos acontece?

Quando muda o contexto, o objetivo, a audiência com a qual comunica, também a sua forma de comunicar se altera. De facto, deixa de ser autêntica. Reage ao desconhecido e à emoção sentida. O melhor comunicador que havia em nós encolhe-se perante o desconhecido, e isso é ser natural e autêntico. Mas significa ser um bom comunicador? Não, pois não?

O desafio da comunicação autêntica coloca-se quando temos de mudar, evoluir, ter um melhor resultado através do que comunicamos. Então, o que fazer?

Treine para voltar a ser autêntico. Treine, que isso passa. Quem o disse a primeira vez foi o alpinista João Garcia. Funcionou para este atleta, funcionou para o senhor do início do artigo, e funciona com todos aqueles que têm a coragem de se perguntarem: “Mas afinal, do que é que tenho medo?”

O executivo da voz séria tinha medo que “alguém” o transformasse num robot, igual a tantos outros. Tinha medo de ter de fingir ser outra pessoa. Tinha pavor de que os aterradores jornalistas percebessem que ele se tinha preparado para dar entrevistas. Como se fosse uma falta de respeito, preparar-se. 

Ora, o medo paralisa e é uma emoção, por isso, recorremos aos factos. Em conjunto com a MTW Portugal, elaborámos um inquérito a jornalistas portugueses e descobrimos que 68% dos inquiridos consideram que a autenticidade numa entrevista pode ser treinada. Defendem até que a “autenticidade trabalha-se e, quanto mais treinada uma experiência, mais natural se pode tornar”. E vão mais longe, revelam ainda que, na sua perspetiva, “é possível ser autêntico sem perder a organização do discurso, o foco na eficiência da boa comunicação”.

De facto, a experiência é essencial para quase tudo, até mesmo para ser e parecer autêntico. E como está na moda, aproveite.

Já agora, vale a pena partilhar isto.

05-09-2016
 

SaraBatalha2Sara Batalha (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.), CEO da MTW Portugal (que integra a Media Training Worldwide Global, empresa de origem americana especializada em media training, public speaking e presentation training skills), recebeu formação em Nova Iorque pelo presidente da MTW Global, TJ Walker. Autora do método “desconstrução do discurso” (com o qual treina a comunicação de políticos, CEO, empresários e profissionais que querem influenciar através da sua comunicação), é certificada em coaching pela International Coaching Community, em DiSC 2.0 pela Inscape, e em micro expressões pelo Paul Ekman Group, aplicando esse conhecimento na especialização em communication behaviour profile analyst.
Acumula cerca de 20 anos de experiência em comunicação, tendo sido jornalista e coordenadora de redação por mais de uma década (“Expresso”, RTP1 e RTP2). Foi consultora de comunicação para agências e empresas, lecionou no CENJOR - Centro de Formação Avançada para Jornalistas, e é docente convidada em universidades do país. É ainda oradora frequente em conferências nacionais e internacionais, marcando presença nos media com análise política em linguagem não-verbal.