Trabalhar em equipa é fundamental. Trabalhar em equipa é poderoso. Trabalhar em equipa produz verdadeiros milagres. Já todos ouvimos isto. E, na realidade, sabemos que é verdade. Mas vamos a factos.
Quão maravilhoso é trabalhar em equipa? O que precisamos de abdicar de cada um de nós para que a equipa funcione? E como conviver com os tiques, os traumas por resolver, as necessidades de afirmação – nossas e dos outros? Existem equipas que – simplesmente – não funcionam, por mais bulas de gestão que lhes sejam aplicadas?
Sobre a promoção do trabalho em equipa. Não há gestor, chefe, consultor, guru que não o defenda como fundamental para o sucesso de qualquer projeto ou de qualquer empresa. Fazem-se formações, workshops, treinos de liderança com o objetivo de obter este magnífico desiderato: trabalhar em equipa.
Sem desprimor para as técnicas de gestão, no dia-a-dia de trabalho, o grande segredo é, tão simplesmente, não nos esquecermos de coisas básicas, como: ser leal, pedir ajuda, agradecer ajuda, conseguir ver as coisas pela perspetiva do ’outro’, respeitar opiniões diferentes, controlar os nossos demónios – os que todos temos, mesmo (ou sobretudo) os que juram que não têm.
Claro que todas estas coisas, tão humanas, tão simples, se tornam um caldeirão de emoções, quando da sua tradução resulta a nossa imagem pública, o nosso reconhecimento, o nosso status, a nossa progressão numa empresa ou em qualquer organização, e, só no fim disto tudo, o dinheiro que levamos para casa no fim do mês.
O facto de, para a maioria das pessoas, o reconhecimento ter uma importância superior ao dinheiro é, para muitos, intrigante e tem sido para outros uma arma poderosa de gestão. Sobretudo quando os orçamentos são curtos. Mais uma vez, é um pau de dois bicos. É importante reconhecer quem faz bem. Mas ‘too much ego’ é destruidor a médio e a longo prazo – e quem paga em ego, um dia, recebe essa fatura.
O que nos traz de volta ao trabalho em equipa. São cada vez mais raros os negócios e as empresas que conseguem ter sucesso numa lógica de silos. O resultado final – o sucesso que todos ambicionam – precisa de contributos de pessoas diferentes, de equipas diferentes, de visões diferentes.
A grande arte da liderança é, cada vez mais, saber interpretar esses contributos, estimulá-los e dosear a sua participação a cada momento. Sabendo que, pelo meio, estão pessoas, com os seus humores e as suas manias. Ter um grupo de iluminados é tão ou mais perigoso do que ter uma equipa às escuras. Não importa a origem desse grupo, a sua representatividade numérica ou as patentes hierárquicas que o integram. Não importa se são cool, se desdenham no fato e na gravata ou o contrário. Importa sim que, nesse mantra do ‘trabalho em equipa’, arriscam-se a estragar tudo – sobretudo porque uma empresa não é uma festa privada, para onde só se convidam os amigos. O que torna esta coisa maravilhosa do trabalho em equipa uma tarefa árdua. Porque é próprio dos homens e das mulheres viverem em competição, procurar o ‘nós’ contra o ‘eles’. As empresas são um espaço tribal – o nós e os eles estão a cada esquina. E é por isso que algumas das empresas mais inteligentes não deixam cristalizar equipas, menos ainda o ‘status quo’.
P.S. - Na semana que passou, ouvi de um gestor uma avaliação do sucesso que vou guardar. Dizia ele que todos precisamos de compreender que a parte mais difícil do sucesso é tentar encontrar quem fique feliz por nós, pelo que conseguimos alcançar. Parece detestável e muitos podem interpretar esta afirmação como vinda de alguém só. Eu não a li assim. O sucesso é fraturante – e quanto mais alguém se distingue, mais se acentua essa fratura com os outros. Este tipo de sucesso não é comum, nem se encontra todos os dias. Ainda bem, porque, provavelmente, não saberíamos viver uns com os outros assim.
Rute Sousa Vasco é jornalista, diretora editorial do Portal SAPO e partner da Videonomics. Como autora, tem desenvolvido vários trabalhos nas áreas de gestão, comunicação e responsabilidade social, tendo publicado até ao momento o livro “A Sorte dá Muito Trabalho: O percurso de 23 CEO portugueses” e "Banco Bom, Banco Mau". Na vertente multimédia, tem-se dedicado à produção de conteúdos em temas de empreendedorismo, liderança e criatividade. Frequentou o curso de Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e tem uma Pós-Graduação em Marketing pela Universidade Católica Portuguesa e uma Pós-Graduação em Televisão e Cinema pela mesma universidade.