E a verdade é esta: todos nós somos empreendedores. Todos os seres humanos desafiam a vida todos os dias, arriscam todos os dias, aprendem com os seus erros e colhem os louros do seu sucesso. O grande desafio é este mesmo, encontrar o equilíbrio entre a nossa vida profissional e pessoal, empreendendo todos os dias da nossa vida.
Quem sou eu?
Ser empreendedora nasceu comigo, ser líder nasceu comigo, foi algo que não aprendi, porque já me era inato desde miúda. O que tenho feito ao longo desta minha, ainda curta, vida é aprender a ser uma melhor empreendedora e líder, procurando dar asas ao que já era inato em mim.
O meu empreendedorismo começou na Serra Algarvia, junto dos sobreiros e dessa matéria-prima única e maravilhosa que é a cortiça. Foi aqui que o meu avô, António Correia, criou a sua fábrica de transformação de cortiça, em 1935. A fábrica do meu avô, originalmente, produzia rolhas para vinho, cabos para canas de pesca e palmilhas para sapatos. Mais tarde, o meu pai, César Correia, continuou o negócio e especializou-se na produção de discos de cortiça natural para rolhas de Champanhe. O espírito de empreendedor sempre fez parte do meu ADN de família. No entanto, a minha jornada não foi tão linear como podem imaginar, até porque nunca tinha imaginado um dia ser empreendedora.
Passei a minha infância a brincar e a explorar a cortiça na fábrica do meu pai. Com uma média de vida entre 150 a 200 anos, o Sobreiro tem a capacidade de se regenerar em cada 9 anos, após a tiradia, que ocorre entre este espaço de tempo em cada árvore. É uma árvore única e em Portugal é produzida cerca de 60% de toda a cortiça consumida a nível mundial, o que faz com que seja líder a nível mundial.
Nasci aqui e foi aqui que me apaixonei por esta árvore maravilhosa e pela sua capacidade de regeneração e longevidade que todos os dias me conta uma nova história.
Aos 23 anos, comecei a trabalhar na fábrica do meu pai e, com os seus ensinamentos, a aprender como se transformava a cortiça e todos os seus segredos. Finalmente, podia aprender mais sobre o Sobreiro e conhecer o seu cheiro, a sua textura e a sua beleza. Era uma indústria 100% masculina, mas eu queria aprender.
Ao fim de vários anos e já dominar este setor em termos de conhecimento básico, desde a produção, a transformação e área comercial, percebi que a fábrica era o sonho do meu pai e não o meu.
Sabia que tinha algo para dar a esta matéria-prima e, em 2012, começou a minha aventura. Num ano em que o setor dos discos de cortiça natural para rolhas de champanhe, o nosso core business, teve um momento menos bom, que “costumam chamar de crise, mas eu chamo de criatividade”, surgiu a oportunidade de criar uma linha de acessórios de moda em pele de cortiça, com o primeiro guarda-chuva que apresentei numa feira em Espanha. E assim nasceu a Pelcor.
Falei com o meu pai, que me apoiou desde o início, com a ideia de tornar a cortiça mais apelativa, mais feminina, mais disponível a todos e mais estilizada, de forma a expandir esta nova área de negócio e a criar mais um nicho que contribuísse para a sustentabilidade da floresta e do sobreiro. E foi assim que me tornei empreendedora. Finalmente estava a criar algo meu, com a paixão de empreender, criar, fazer, e confesso que foi um empreender com muito trabalho e uma visão pouco apoiada em experiências anteriores, porque não existiam. Eu era a primeira. A Pelcor é a primeira marca nesta área a fazer história.
A cortiça tem duas caraterísticas naturais – maleabilidade e impermeabilidade – que me inspiraram a criar algo revolucionário e completamente “Out of the Box” – o guarda-chuva em pele de cortiça. A partir do guarda-chuva, hoje considerado o modelo icónico da Pelcor, nasceu toda uma série de acessórios que hoje assentam em duas coleções por estação, Outono/Inverno e Primavera/Verão, sempre na senda da excelência, estilo, design, não só em Portugal, mas em todos os países onde a Pelcor está presente, com o objetivo de levar este legado português ao seu lugar na moda e no mundo.
O crescimento da Pelcor tem sido feito passo a passo, mas sempre com reconhecimento por todo este bom caminho, o que fez com que, ao longo destes anos, sinta um desafio ainda maior, não só como empreendedora, mas também como mulher: manter o equilíbrio.
Muitas vezes, quando somos desafiados pela vida para empreender, liderar, sufocamos com tantas solicitações da vida, porque ser líder significa estar sempre disponível, e todos nós temos uma vida pessoal com outras solicitações e deveres. Tenho, por isso, como lema de vida “reservar qualidade de tempo” para mim, ou seja, tempo que me permita sonhar, criar e avançar.
Tal como o sobreiro que se regenera, também nós temos de nos regenerar entre as “tiradias” criativas. Passar tempo na floresta, apreciar esta árvore, compreendê-la, vivenciar a cidade e os desfiles de moda, as tendências é um grande contraste, mas este é o desequilíbrio que mantém o equilíbrio. Networking com os amigos, partilha de ideias com outros líderes e empreendedores é a minha principal fonte de inspiração e criatividade, que fazem com que esteja sempre atenta a novas mudanças que nos ajudam a melhorar o nosso próprio negócio.
A Pelcor é o meu amor. A minha paixão é a filantropia. Costumo dizer que sou uma empreendedora de sonhos e fazedora de sonhos, os meus e os dos outros.
Em Setembro de 2013, fui selecionada para passar três semanas nos EUA, em representação de Portugal, no programa “New Beginning” criado pelo Presidente Obama. Ao todo, éramos 28 empreendedores com países de origem diferente, onde partilhámos ideias sobre os nossos negócios, colaboração entre os diferentes países, acesso a novos mercados, visão, estratégia, marketing, relação humanas e finanças. Estas foram a base deste desafio que todos vivemos. Foi, sem dúvida, uma experiência única, mas, sem dúvida, a grande lição que aprendi foi: Não interessa qual é a tua origem cultural ou pessoal. Como empreendedores que somos, todos partilhamos o desejo de sonhar/concretizar e de inspirarmo-nos uns aos outros!
Nesse sentido, criei o “A New Beginning for Portugal”, onde empreendo com outros indivíduos sobre os seus sonhos e concretizações, para Portugal poder ser um País de Empreendedores e líderes do futuro…
Assim sou eu. Tenho 43 anos, sou empreendedora, líder, sonhadora, fazedora de sonhos…e só desejo que a minha história te inspire tanto como tenho inspirado outros tantos nesta minha ainda curta vida.
Até breve e obrigada!
Sandra Correia fundou e é CEO da Pelcor desde 2005. Foi gestora da qualidade da Novacortiça e é formada em economia pela Universidade de Huelva, em empreendedorismo e gestão da inovação pela Universidade Católica e em comunicação empresarial. Conta com um extenso currículo, que inclui coleções para o MoMA de Nova Iorque e trabalhos desenvolvidos para personalidades como Barack Obama, Hillary Clinton, Angela Merkel e Madonna. Inclui também peças customizadas para a Cimeira da NATO em Lisboa (2010). Em 2011, Sandra Correia foi nomeada Melhor Empresária da Europa, prémio atribuído pelo Parlamento Europeu e Conselho Europeu das Mulheres Empresárias.