Como liderar investidores

Como liderar investidores
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O conceito de liderança esteve sempre associado, de forma errada, a uma posição de chefia. Na realidade, “liderança” é o processo segundo o qual uma pessoa consegue influenciar outros a maximizar os seus esforços de forma a atingir determinado objetivo. 

Henrique Gomes

Um líder não precisa de subordinados para liderar. Em contexto empresarial, uma pessoa pode assumir uma posição de liderança quando colabora com clientes, fornecedores ou até junto dos acionistas da sua organização.

Vejamos este último caso através de um exemplo. O Joaquim é o CEO de uma start-up que angariou recentemente uma ronda de investimento. Entre os seus investidores contam-se business angels apaixonados pelo projeto e pela equipa, empresas de capital de risco corporativas que acreditam que as atividades da start-up e do grupo são sinérgicas, e empresas de capital de risco que estão acima de tudo interessadas no potencial retorno do investimento.

O Joaquim está satisfeito com o levantamento da ronda, acreditando que terminou um capítulo que lhe ocupou demasiado tempo e o afastou do que realmente interessa: transpor a visão da start-up para a realidade. De facto, o Joaquim está de parabéns, mas não pode esquecer que arrancou de imediato um novo capítulo com mais intervenientes. A partir do momento em que os investidores decidiram apostar na start-up, iniciaram um capítulo de preocupação e incerteza constantes relativamente ao seu futuro.

O Joaquim vai passar a reunir-se frequentemente com representantes dos investidores – conselho de administração, caso a start-up seja uma sociedade anónima. Entre os representantes estarão pessoas interessadas nos resultados financeiros e perspetivas de saída, assumindo uma postura interventiva apenas em momentos-chave; mas também intervenientes ativos na definição da estratégia e/ou roadmap tecnológico. Mesmo que não seja eleito presidente, o Joaquim terá de assumir uma posição de liderança de forma a poder tirar partido dos seus contributos e, em simultâneo, mitigar as suas preocupações.

Em primeiro lugar, o Joaquim deverá colocar-se no lugar de cada representante, procurando identificar as áreas em que o seu contributo será crucial, e de que forma poderá influenciar o seu voto.

Mediante o perfil de cada representante e a dinâmica do grupo, o Joaquim irá adotar determinada estratégia, que poderá ir desde a partilha de atualizações/updates entre as reuniões à exposição das tendências de evolução do mercado e da tecnologia, ou até à formulação colaborativa da estratégia de go-to-market. No entanto, em última instância deverá sempre garantir que as reuniões são conduzidas com espírito de transparência, abertura e confiança.

O fator crítico, e que pode ser fundamental para o sucesso, irá residir na sua capacidade para “ler” cada representante e o grupo, de modo a ajustar a sua estratégia e conseguir retirar o máximo retorno possível destas pessoas. O segredo está em influenciar outros a maximizar os seus esforços de forma a conseguir transpor a visão da start-up para a realidade. É desta forma que a liderança do Joaquim é colocada à prova, e só através do conhecimento que tem do grupo, e acreditando na estratégia, irá alcançar o sucesso.

05-09-2017


Portal da Liderança


Henrique Gomes Small

Henrique Gomes, analista de investimentos na Novabase Capital desde 2014, é responsável pela identificação, análise e due diligence de projetos de investimento e pela gestão operacional dos fundos de capital de risco do grupo português Novabase.
Anteriormente foi principal na VoiVoda Ventures, um business angel sedeado em São Francisco, e consultor na Leadership Business Consulting, com enfoque no apoio do empreendedorismo nacional em Silicon Valley.
Licenciado em Gestão na Universidade Nova e mestre em Gestão, tem um major em Estratégia e Empreendedorismo na Universidade Católica.