Mid-life crisis is hard to beat – Camilo Lourenço

Mid-life crisis is hard to beat – Camilo Lourenço

É comum dizer-se que nós chegamos a uma idade em que entramos em crise. Pessoal e profissional. É verdade. Mas é uma verdade que não se esgota aqui; as empresas também passam por este problema. 

É comum dizer-se que nós chegamos a uma idade em que entramos em crise. Pessoal e profissional. É verdade. Mas é uma verdade que não se esgota aqui; as empresas também passam por este problema. O último exemplo disso é a Microsoft. Fundada nos anos 70 revolucionou a tecnologia, colocando-a no centro de tudo o que fazemos. O sistema Windows, por exemplo, que fez dela uma das melhores empresas do mundo (e com mais lucros também), chegou a equipar nos anos 90 cerca de 85% de todos os PC à face da Terra. O Office, uma suite de produtividade, fez maravilhas pela produtividade pessoal e empresarial. 

À frente deste gigante tecnológico, que parecia não derrotável, estava Bill Gates, um dos fundadores. Como que a confirmar que ninguém consegue estar sempre na mó de cima, ainda nos anos 90 chegaram os primeiros sinais de que a empresa estava a perder o pé à inovação: falhou a guerra dos browsers e só o seu enorme poderio financeiro conseguiu que o Internet Explorer, um “late comer” ao mercado dos browsers, suplantasse o mais avançado “Netscape”.

Gates teve a visão de perceber que já não tinha o “drive” para manter a Microsoft na vanguarda da inovação e retirou-se para um novel cargo, o de “chief software arquitect”, entregando a direção executiva a outro fundador, Steven Balmer. De nada serviu: a empresa ziguezagueou e foi perdendo todas as batalhas, nomedamente a aposta na mobilidade. De repente o mercado acordou: a poderosa Microsoft, símbolo da criatividade e inovação, passara de “leader” a “follower”. 

Balmer percebeu também que o seu tempo havia passado e deixou o cargo de CEO. O inquilino que se lhe seguiu, Satya Nadella, deu sinal de que percebeu o problema da empresa: aos comandos de postos chave continuavam pessoas ligadas ao anterior modelo de negócio. Alguns deles com mais de 30 anos de casa. Pessoas que, naturalmente, não conseguiam lidar com os desafios do futuro. Nadella tem feito um esforço notável para corrigir erros do passado, levando a empresa para novas áreas de negócio (como a “cloud”, onde tem ganho terreno). Mas não há milagres. E as contas do último trimestre mostraram isso: a Microsoft perdeu 3,2 mil milhões de dólares devido a provisões que teve de fazer para cobrir prejuízos relacionados com apostas erradas. V.g. a compra da Nokia, que implicou um “writedown” de 7,5 mil milhões de dólares.

Como explicar esta transformação, de “leader” a “follower”? Simples: as empresas também têm crises de meia idade. Como a história empresarial comprova. Algumas conseguem recuperar (veja-se a GE); outras acabam por perecer (Kodak, por exemplo). 

Pergunta: é possível evitar estes ciclos de expansão extrema a que se segue a “débacle”? É. Mas não há fórmulas sagradas e as que vão aparecendo não são de aplicação universal. Veja dois exemplos: a GE, em que um CEO com visão (Jack Welch) conseguiu colocar três pretendentes a competir entre si, para no final escolher um: Jeffrey Immelt; a IBM, em que os accionistas escolheram um “outsider”, sem ligação ao mundo da tecnologia, para reinventar a empresa (embora os CEO seguintes tenham sido escolhidos dentro da organização).

Como se disse, nenhuma destas fórmulas é sinal de sucesso garantido. Eu, se tivesse de escolher, optaria pela segunda: a solução exterior. Se Gates e Balmer tivessem percebido isso em seu devido tempo, a empresa não teria chegado tarde à revolução móvel e teria feito uma aposta mais prematura no aproveitamento da “could”. Mas isto são “ses”, da autoria de Camilo Lourenço. Se eu tivesse a certeza de ter uma fórmula infalível para estes problemas, provavelmente seria consultor. E estaria rico. Muito rico…

 

 

Camilo-Lourenço-FotoNovaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.