Quanto vale o seu trabalho?

Quanto vale o seu trabalho?

Há dias, Ricardinho, o conhecido jogador de futsal, dizia em entrevista que não voltará a jogar em Portugal a menos que algum clube lhe pague 50 mil euros por mês. A ousada afirmação de Ricardinho caiu mal em certos setores. Afinal 50 mil euros é o salário de muitos jogadores de futebol da 1.ª Liga…

Camilo Lourenço

Ricardinho fez bem em falar abertamente sobre as suas ambições salariais? Ou foi apenas uma manifestação de arrogância por parte daquele que é considerado o melhor jogador de futsal do mundo?

Vejamos: todos temos uma ideia concreta do que valemos. Mesmo os mais inseguros sabem dizer a diferença entre um salário justo ou injusto. A questão não está no facto de dizer se merecemos 5 mil, 10 mil ou 50 mil (como fez Ricardinho). Está em saber se temos os argumentos suficientes para convencer quem está do outro lado do valor que pedimos. Ou seja, quando estabelecemos um patamar para a nossa remuneração, temos forma de convencer quem está do outro lado do porquê dessa pretensão?

Voltemos ao caso de Ricardinho. Ele tem esses argumentos? Por aquilo que conhecemos da sua carreira, sim. Começou no Benfica, mudou-se para o Japão e agora joga em Espanha. Tudo Ligas que movimentam muitos milhões de dólares e que conseguem atrair os melhores craques do planeta. No caso de Ricardinho, o seu trajeto em qualquer delas não deixa dúvidas de que se trata do melhor jogador do mundo. E, poucos dias antes de fazer aquela declaração, fez um dos melhores golos da sua carreira, ao serviço da seleção portuguesa, no campeonato da Europa. Ou seja, se dúvidas houvesse, aquele golo (ainda na memória de todos) serviria para as tirar.

O problema é que a nossa vida profissional não tem a dimensão mediática da dos jogadores de futebol. E quando estamos perante um potencial novo empregador não temos no portefólio os golos mediáticos que, por si só, desequilibram a balança. Por outras palavras, temos a vida mais dificultada que a de Ricardinho. Isto significa, naturalmente, que temos de alavancar os argumentos que nos levam a defender determinado salário: quais os sucessos que tivemos em missões anteriores? A nossa carreira foi feita sempre na mesma área de atividade? Ou em empresas de áreas diferentes? Algum dos sucessos implicou fazer o “turnaround” de uma empresa? E (mais importante que tudo) a nossa carreira profissional foi feita de criação de valor? Estas questões são meramente indicativas. No fundo, o que precisamos de fazer é garantir que os argumentos que levam a reivindicar certa remuneração suportam o que pedimos.

Se depois de responder positivamente às questões que considera fundamentais achar que o valor que reivindica está correto, não hesite. Mesmo que se trate de ordenados milionários. Não há nada pior que um executivo que vale milhões atuar como um jogador da 2.ª Liga quando negoceia o salário.

29-02-2016

CamiloOPCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e a University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita. No seu livro mais recente, “Fartos de Ser Pobres”, volta "a pôr o dedo na ferida", analisando os resultados eleitorais, os vários cenários políticos e os novos desafios para a economia.