Felizes, empenhados e produtivos – é assim que a maioria das empresas gostaria que os funcionários fossem. Mas são poucas as que estariam dispostas a dar um dia de folga por semana aos seus colaboradores nesse sentido, por exemplo.
Esta foi a abordagem da neozelandesa Perpetual Guardian, que gere património, lida com aplicações monetárias e investe capital. Um artigo na Global Agenda, do Fórum Económico Mundial, explica como a empresa fez um teste de oito semanas, em que deu um dia de folga por semana aos cerca de 200 funcionários, mantendo as condições salariais inalteradas. E os resultados falam por si. Apesar da redução de horário, a produtividade aumentou em 20% e os trabalhadores mostraram-se mais felizes. O diretor-executivo da empresa, Andrew Barnes, considera a experiência um “sucesso absoluto”.
Jarrod Haar, professor de Gestão de Recursos Humanos na Universidade de Tecnologia de Auckland, acompanhou o processo. E chegou à conclusão de que a satisfação com o emprego e com a vida aumentaram em todos os níveis – tanto em casa como no local de trabalho, os funcionários revelaram melhor desempenho e desfrutaram mais as suas funções, por comparação com o período antes da experiência. A conclusão é exatamente o que o diretor-executivo da Perpetual Guardian tinha previsto. Para Andrew Barnes, a decisão de testar a nova forma de trabalhar foi “a atitude mais acertada”, após ter analisado vários relatórios globais de produtividade.
Mas esta experiência tem várias implicações, reavivando questões sobre produtividade e a cultura instalada de longas horas de trabalho, bem como a forma como os trabalhadores em part time são valorizados e recompensados.
As horas não são todas iguais
Um aspeto que ficou claro é que um dia com mais horas de trabalho não significa necessariamente maior produtividade. A Coreia do Sul, por exemplo, está próxima da base dos países da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico em termos de produtividade, apesar de ter uma cultura em que se trabalha muitas horas de seguida. Da mesma forma, na Europa, a Grécia tem uma das semanas de trabalho mais longas, mas fica em último lugar na OCDE em termos de PIB por hora de trabalho. O Japão é outro exemplo em que a cultura de longas horas de trabalho não corresponde a um aumento na produtividade. O país está a reduzir de forma deliberada as horas extra (recorrendo a táticas como apagar as luzes no final do dia) no sentido de reverter esta tendência.
Um longo dia de trabalho
Têm sido realizadas várias tentativas que visam aumentar a produtividade enquanto se encurta o dia de trabalho (em vez de reduzir a semana). Na Suécia, por exemplo, o Governo fez uma experiência em que os colaboradores de uma casa de repouso trabalharam seis horas por dia. Embora os funcionários tenham notado melhor qualidade de vida, com menos stress e mais tempo para estar com as respetivas famílias, esta foi uma experiência cara para o empregador, que teve de contratar mais trabalhadores para compensar as horas em falta.
A Islândia realizou um teste semelhante, permitindo que alguns funcionários da cidade de Reiquejavique reduzissem a semana de trabalho em quatro ou cinco horas. Neste caso a produtividade permaneceu no mesmo nível, o que significa que os custos também se mantiveram. Também aqui os funcionários registaram maior satisfação e meteram menos dias por motivo de doença.
Estes dois estudos sugerem que a natureza das funções desempenhadas pode ser fundamental para decidir se é rentável reduzir a duração do dia de trabalho. No caso dos colaboradores por turnos, por exemplo (como enfermeiros, seguranças ou assistentes sociais), é necessária uma presença contínua, o que significa que o empregador precisará de encontrar alguém para colmatar as horas de trabalho “em falta”. Mas para quem trabalha num escritório pode bem ser o exemplo da lei de Parkinson, que afirma que “o trabalho se expande para preencher o tempo disponível para a sua conclusão”. Ou, colocando de modo diferente, os colaboradores tornam-se mais eficientes se houver menos tempo para concluir uma tarefa.
Ironicamente, os trabalhadores em part time recebem, por norma, menosque os colegas que trabalham a tempo inteiro, isto apesar de muitos reconhecerem que alcançam em quatro dias o que os outros fazem em cinco.
Trabalhar a meio tempo também pode ajudar a diversificar a força de trabalho, e é apontado como sendo uma das razões por detrás da experiência da Amazon com dias mais curtos.
Equilíbrio entre vida pessoal e profissional
Helen Delaney, professora na Business School da Universidade de Auckland, explica que o sucesso da neozelandesa Perpetual Guardian se deve ao envolvimento da equipa no projeto, dado que todos participaram no planeamento da experiência. “Os funcionários projetaram uma série de inovações e iniciativas para trabalharem de forma mais produtiva e eficiente, desde a automação de processos manuais à redução ou eliminação do acesso à internet não relacionado com o trabalho”, declarou a docente ao jornal “The Guardian”.
Entretanto, o diretor-executivo da Perpetual Guardian está a equacionar, em conjunto com o conselho de administração, se a semana de quatro dias deve ser introduzida na empresa de modo permanente.
Enquanto isso, os Governos fariam bem em considerar os resultados obtidos quando estiverem a estudar formas de aumentar a produtividade e de melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
13-09-2018
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