Há chefes que são mais difíceis de esquecer que outros. Enquanto alguns podem ser “inesquecíveis” porque tornam insuportável o ar que se respira no escritório, os mais memoráveis permanecem connosco porque nos mudam para melhor.
Travis Bradberry
Nos meus seminários, quando peço às pessoas que descrevam o melhor e o pior chefe que já tiveram, tendem a ignorar características inatas (como inteligência, extroversão, atratividade, e assim por diante) e concentram-se nas qualidades que estão completamente sob o controlo do patrão, como a paixão, visão e honestidade. Estas palavras descrevem os líderes que têm uma elevada inteligência emocional (IE). E não são só excelentes chefes para trabalhar com – estudos realizados junto de mais de 1 milhão de pessoas mostram que os chefes com elevada IE têm melhor desempenho que aqueles cuja IE é mais... escassa.
Os grandes líderes veem mais em nós do que nós próprios, e ajudam-nos a aprender a ver também. Eles sonham em grande, e mostram-nos todos os grandes feitos que podemos realizar.
Se olharmos melhor para as qualidades únicas dos chefes inesquecíveis, podemos apreender atributos valiosos, inspirar os nossos colegas de trabalho, e preparar o caminho para nos tornarmos também inesquecíveis. Eis algumas das características mais comuns e significativas nos chefes memoráveis.
Poucas coisas são mais desmotivantes que um chefe que está aborrecido com a sua vida e o seu trabalho. Se ele não se preocupa, por que há de mais alguém se incomodar? Os líderes inesquecíveis são apaixonados pelo que fazem. Acreditam no que estão a tentar realizar, e divertem-se a fazê-lo. Isto faz com que todos à sua volta queiram juntar-se à festa.
Os chefes inesquecíveis são o que são, o tempo todo. Não mentem para encobrir os seus erros, e não fazem falsas promessas. Os seus colaboradores não têm de despender energia a tentar descobrir quais são as suas motivações ou a prever o que eles vão fazer a seguir. Igualmente importante: não escondem aquilo que têm a liberdade de divulgar. Em vez de acumular a informação e guardarem segredo para aumentar o seu poder, partilham os dados e conhecimentos de forma generosa.
Alguns chefes atiram os outros para a linha do comboio sem sequer pestanejar. Os grandes líderes safam os seus colaboradores antes que estes fiquem em perigo. Fazem trabalho de coaching e tiram os obstáculos do caminho, mesmo que tenham sido os seus colaboradores a colocá-los. E por vezes vão por trás limpar aquilo que a sua equipa nem sequer sabia que tinha feito. E se não conseguirem parar o comboio saltam para a frente do mesmo para levarem com o embate na vez dos funcionários.
Os grandes chefes jogam xadrez e não damas. Pense na diferença entre os dois jogos. Nas damas todas as peças são basicamente as mesmas – este é um fraco modelo para a liderança porque ninguém quer sentir-se como mais uma peça sem rosto na engrenagem. Já no xadrez cada peça tem um papel único, capacidades únicas e limitações únicas. Os chefes inesquecíveis são como grandes mestres de xadrez – reconhecem o que é único em cada membro da sua equipa, conhecem os seus pontos fortes, fraquezas, do que gostam e do que não gostam, e usam essa perceção para extrair o melhor de cada indivíduo.
Os líderes inesquecíveis não se deixam abalar, mesmo quando está tudo de pantanas. Quando estão sob grande pressão, agem como Eugene Kranz, o diretor de voo da missão Apollo 13 – nos momentos após a explosão, quando a morte parecia certa e o pânico parecia ser a única opção, Kranz manteve o sangue frio. Disse: “ok, agora, vamos todos manter a calma. Vamos resolver o problema, mas não vamos piorá-lo a tentar adivinhar”. Naqueles momentos iniciais ele não tinha ideia de como iria trazer os astronautas de volta, mas, como explicou mais tarde, “não se passa a incerteza para os membros da equipa”. As pessoas que trabalharam para um chefe inesquecível, mais tarde, quando olham para trás, ficam maravilhadas com a sua calma sob pressão. É por isso que, 45 anos após o Apollo 13, ainda se fala de Eugene Kranz e da sua liderança durante aquela crise.
Os chefes inesquecíveis são humanos e não têm medo de o mostrar. São pessoas fáceis de se relacionar com. São acolhedores. Têm noção de que as pessoas têm emoções, e não têm receio de expressar as próprias emoções. Relacionam-se com os colaboradores primeiro como pessoa e só depois como chefe. Por outro lado, sabem como controlar as suas emoções quando necessário.
Os líderes inesquecíveis não se gabam ou procuram reconhecimento. O seu trabalho é realmente um esforço de equipa, e os seus colaboradores sentem-se realizados quando os objetivos do grupo são atingidos. Dado que este género de chefes não pensa que está acima de alguém ou de alguma coisa, fala abertamente dos seus erros para que todos possam aprender com eles. A sua modéstia estabelece uma linha de humildade e de força que todos os outros seguem.
Para muitos chefes inesquecíveis, tudo se encaixou a partir do momento em que pararam de pensar no que é que os seus colaboradores podiam fazer por eles para passarem a pensar sobre o que poderiam eles fazer para ajudar os seus funcionários a ter sucesso.
Inspire. Ensine. Proteja. Remova obstáculos. Seja humano. Se cultivar estas características vai ser aquele chefe que os colaboradores vão lembrar para o resto das suas carreiras.
11-05-2018
Fonte: Entrepreneur.com
Travis Bradberry, premiado coautor do best seller “Inteligência Emocional 2.0”, é cofundador e presidente da TalentSmart (consultora que trabalha com “mais de 75% das empresas na Fortune 500”). Os seus best sellers estão traduzidos para 25 idiomas e disponíveis em mais de 150 países.