O que temos a aprender sobre liderança com os mais novos – muito mais novos

O que temos a aprender sobre liderança com os mais novos – muito mais novos
5 minutos de leitura

As crianças mais pequenas, que ainda não se sentem inibidas por questões de hierarquia, fornecem-nos de forma espontânea insights refrescantes sobre os adultos. E sobre liderança também.

Jeff Boss, coach de executivos, não deixa de se surpreender com o que as crianças dizem. Os pensamentos dos mais pequenos não têm filtro: são sinceros e brutalmente honestos, ao contrário da atual cultura de muitas companhias, refere o autor e empresário num artigo na “Entrepreneur”. O também orador acrescenta que há utilidade em pensar sobre o seu comportamento e as implicações que podemos extrair em termos de liderança. Isto porque as crianças não se preocupam com o status quando estão juntas, por exemplo. E depois vão todas dormir uma sesta.

Quando trabalha com equipas para as ajudar a melhorar o desempenho, uma das primeiras coisas que Jeff Boss procura são as normas – as regras tácitas/não mencionadas, como chegar a tempo, cumprir com o que se comprometeram, a escolha de lugares nas reuniões, quem fala mais (ou fala menos), etc. – que guiam o comportamento. Com o tempo estas normas vão enraizando-se no seu pensamento, comportamento e rotina diária, muitas vezes em detrimento da equipa.

Já as crianças estão constantemente a aprender normas. E nós podemos colher valiosos insights de liderança com este processo de aprendizagem, diz Boss. Seguem-se três ideias de liderança que o coach de executivos aprendeu com os mais pequenos. 

Clareza
Um dia, ia Jeff Boss com o filho de seis anos no carro, quando pararam ao lado de um autocarro que tinha anúncios de lado.

“Pai, olha: um alce-burro!”, exclamou a criança.

“Um quê?!” – Ele não percebeu o que o filho queria dizer.

“É um alce-burro!”

“Ronan, aquilo é um camelo”, respondeu o pai. Tratava-se de um anúncio aos cigarros Camel.

O que o filho fez foi pegar na sua perceção da realidade e traduzi-la numa realidade que ele percebia. E é exatamente o que os funcionários fazem quando não recebem as orientações ou informação de que precisam. Sem detalhes, as pessoas constroem a sua própria realidade. Para o filho de Jeff Boss era claro que a imagem naquele autocarro era um “alce-burro”. E o pai diz que nunca mais vai olhar para os camelos da mesma forma.
Das muitas responsabilidades de se ser líder, liderar com clareza está no topo da lista, porque a clareza leva a algum lugar. E esse “algum lugar” vai mudar à medida que a empresa for crescendo, o que é normal; mas a falta de clareza é um caminho que vai dar a lugar nenhum.

Identidade
A sobrinha de Boss, Audrey, tem sete anos. Um dia destes cuspiu para o passeio. Reação da mãe: “Audrey, pára de cuspir. Ninguém quer pisar o teu cuspo”. Sem pestanejar, Audrey respondeu de volta: “E se eu dissesse que era o teu cuspo? Iam importar-se?”. A lição a tirar daqui tem a ver com identidade. Para Audrey, o problema não era ter cuspido, mas a quem pertencia a cuspidela.

A identidade existe em todas as esferas da vida – incluindo no passeio, aparentemente. Na cultura corporativa, a identidade reflete-se na marca de uma empresa, nas suas normas, nas saudações interpessoais, nos objetos (tem uma sala/escritório só para si?), na maneira como as pessoas se vestem e a linguagem que usam, apenas para citar algumas. As diferentes maneiras pelas quais as organizações examinam o passado, seja de forma textual, verbal ou via artefactos, constituem experiências diferentes, que podem ser usadas para reconstruir a identidade atual e adaptar melhor a proposta de valor. Para avançar, há que começar por olhar para trás.  

Limites
A dada altura Boss e o filho esbarraram, à saída do elevador, na administradora do prédio onde moram. O autor explica que a vizinha é sempre muito divertida e oferece ao filho doces que não lhe fazem falta nenhuma. Quando estavam prestes a sair do edifício ela disse à criança: “Ok, fica bem!”. O que o pai interpretou como o equivalente a “Tem um bom dia!”. O filho olhou para ele e disse: “Mas pai, eu estou sempre bem”.

O que Boss depreendeu da conversa foi que o filho sabe quem é; sabe o que é bom e o que é mau e, mais importante, sabe como gerir os dois aspetos. Transpondo este conceito-base para o mundo empresarial, estabeleça limites para si e para a sua equipa de modo a saber em que pé está e onde não está.

Aprender é uma via de sentido duplo, concluiu o autor. Aprendemos a ensinar, a criar filhos, mas também aprendemos a ouvir e a refletir sobre o que eles nos ensinam. Como frisa o autor, temos de arranjar tempo para aprender – não há vantagem competitiva sem esta vertente.

12-09-2018


Portal da Liderança