Na data em que se celebra o Dia Internacional de Nelson Mandela (1918-2013), recuperamos o artigo em que lhe deixamos 10 dicas para liderar como o Prémio Nobel da Paz (em 1993), aquele que foi eleito o primeiro presidente da África do Sul livre, e considerado o mais importante líder da África Negra.
“Se falares a um homem numa língua que ele entende, chegas-lhe à cabeça; mas se lhe falares na língua dele, alcanças-lhe o coração.”
Nelson Mandela
Martin Kalunga-Banda, autor do livro “Leading like Madiba” (“Liderar como Madiba”), ligado à Universidade de Cambridge e à Universidade da Zâmbia, destaca 10 princípios para conseguir liderar como Nelson Mandela. Martin Kalunga-Banda diz-nos que “os grandes líderes criam caminhos que podemos seguir para encontrar a nossa própria grandeza. Isto não significa que nos tornemos seus clones, pois isso seria impossível e, para além disso, significava perder a riqueza da variedade de personalidades. No entanto, estas grandes pessoas inspiram-nos como modelos e os seus exemplos ajudam-nos a perceber quais devem ser os nossos objetivos ao criar o nosso próprio estilo”.
1 - Cultivar um sentimento de admiração profundo pelos seres humanos
A liderança é sobre pessoas e cada pessoa é importante. Mandela, tal como Mahatma Gandhi e Madre Teresa, não tinha um plano de negócios quando começou a sua missão. Tinha, somente, um respeito tremendo pelas pessoas.
Aprenda a tratar todos aqueles com quem contacta com o máximo de respeito. Todos merecem a sua atenção. Isto deve ser uma rotina, bem como a sua disposição geral.
Quais as suas atitudes para com os outros? O que está a fazer para aprofundar o respeito que tem por eles?
2 - Deixar-se inspirar pelos dons das outras pessoas
De uma forma prática, mostre que reconhece que cada pessoa tem um dom especial que é utilizado tanto para o seu bem-estar como para o bem-estar da comunidade ou da organização.
Deve, da mesma maneira, ver e celebrar os talentos da sua organização ou comunidade. Quando os membros partilham as suas capacidades de forma consistente, os talentos da equipa começam a emergir. Reconhecer esta capacidade ajuda a espalhá-la.
Os líderes que não têm fontes claras de inspiração normalmente não conseguem inspirar as suas organizações ou comunidades. O que o inspira a si? O que valoriza nas outras pessoas?
3 - Aumentar a coragem
Os grandes líderes são corajosos. Isto não significa não ter medos, mas aprender a reconhecê-los, enfrentar a dura realidade da situação e escolher a melhor forma para agir. Num primeiro momento, isto não será fácil. No entanto, se o praticar de forma repetida, irá ajudá-lo a tornar a coragem numa das suas qualidades.
A coragem na liderança também significa escolher não utilizar totalmente o seu poder, o que implicaria acreditar na lealdade e habilidades daqueles que o rodeiam. Isto capacitará os outros para crescer.
Em que medida está a aprender a enfrentar a realidade, a praticar as ações corretas, independentemente dos seus medos, e a defender a verdade como a vê?
4 - Ir e pregar o evangelho. Quando necessário, utilizar as palavras
Lidere pelo exemplo. Não deve pedir aos outros aquilo que também não está preparado para fazer. Ao liderar por exemplo inspirará mais os outros do que simplesmente dizer o que precisa de ser feito. O seu papel ativo deixará uma impressão profunda e duradoura naqueles que lidera.
Ter o dom da palavra ajudará, mas é a sua habilidade para liderar pelo exemplo que conquistará os outros. Quando as pessoas sabem que se esforça e que faz sacrifícios para um bem comum, a sua lealdade e ajuda serão inabaláveis.
O que está a fazer para diminuir a não correspondência entre as suas palavras e as suas ações?
5 - Criar uma marca própria de liderança
O nome e imagem de um líder devem estar relacionados com um conjunto de valores. Isto é o que o tornará muito eficaz. Quando as pessoas pensam em si como um líder, devem pensar automaticamente nos seus princípios. Estes são essenciais para orientar a sua organização ou comunidade pelos vários dilemas éticos que, com certeza, enfrentarão.
Avalie, de uma forma consistente, o impacto que está a causar. Se for positivo, faça o que puder para o aumentar e consolidar. Se for negativo, encontre formas para se adaptar ou descarte-o.
Existem três aspetos em particular que o poderão ajudar a avaliar o seu impacto: criar um ambiente onde as pessoas se sentem à vontade para dizer o que pensam, mesmo quando está presente; encorajar os seus colegas e mentores a darem feedback honesto; encontrar, regularmente, o espaço e o tempo para fazer uma reflexão sua.
Quais os valores que descrevem a sua marca de liderança? O que está a fazer para aumentar uma discussão franca consigo mesmo?
6 - Praticar a humildade
Os grandes líderes reconhecem os seus fracassos. Em vez de fazer com que percam a fé em si, admita os seus erros e diga quais são as suas limitações. Esta ação fará com que os outros se disponham a ajudá-lo e trabalhem consigo. Ao ser capaz de pedir desculpa pelos seus erros, enviará a mensagem de que a procura pelo pensamento e ação correta são uma prática comum. Isto não pertence nem é controlado por si ou por nenhum outro líder.
Mostrar que estava errado não é sinal de uma liderança fraca. Na realidade, fortalece a sua ligação com os outros, pois está a mostrar que é um deles. Pedir desculpa é uma ação de humildade e a humildade atraí e inspira, o que a sua ignorância não faz.
A humildade é uma qualidade que valoriza? O que está a fazer para se tornar mais humilde?
7 - Aprender a viver com o paradoxo Madiba
A vida é uma mistura de esperança e desespero, alegria e dor, sucesso e fracasso, visão e desilusão. Como líder, tem a tarefa de ajudar os outros a viver com estas contradições com sucesso. Foi o que Madiba fez. Deve acreditar firmemente e mostrar, pelas suas ações, que as atuais dificuldades têm de ser confrontadas, independentemente da dor que causam, ao mesmo tempo que acredita que a vitória chegará. Poderá seguir este paradoxo, por um lado, ao inquirir honestamente e ao partilhar os seus medos e frustrações, e por outro, ao acreditar firmemente no ilimitado espírito e génio humano para encontrar soluções.
Como enfrenta os brutais factos da sua vida e da sua organização? O que está a fazer para não perder a esperança no meio da adversidade?
8 - Surpreender os concorrentes ao acreditar neles
Haverá sempre pessoas que discordem do seu estilo de liderança e com aquilo que faz. Não tente silenciá-las, humilhá-las ou derrotá-las. Tente entender os seus pontos de vista e trabalhe no sentido de identificar os elementos positivos.
Deverá esforçar-se para reconhecer, pública e privadamente, o que é digno de elogiar naqueles que se opõem a si.
Como trata as pessoas que não concordam consigo? O que está a fazer para se pôr no lugar delas? Conseguirá aprender a retribuir o mal com o bem?
9 - Celebrar a vida
A atividade e a conquista de qualquer tipo são sinais de vida que afetam a vida em si mesma. Trabalhamos para melhorar a nossa vida. Pretendemos ser excelentes pela mesma razão e não só porque parece bem. Tendo isto em conta, devemos celebrar não só o nosso desempenho individual e os nossos dons, mas a vida em si. Enquanto líder, tem de participar em práticas e cerimónias que honram a vida das pessoas que lidera.
Que símbolos e rituais utiliza para honrar a vida e as pessoas?
10 - Saber como e quando deve ser substituído
Os grandes líderes sabem quando retirar-se do palco principal e ir embora. Preparam a sua saída e certificam-se de que têm um sucessor que continue a construir aquilo que conseguiram. Capacitam os outros para emergir como potenciais candidatos. É isto que sustenta o legado do líder e que permite uma transição suave. Não tem a ver com clonar-se, mas sim com reconhecer que não podem liderar para sempre e criar as condições para emergir uma nova liderança.
18-07-2016
Martin Kalunga-Banda, consultor especial do presidente da República da Zâmbia, está ligado à Universidade de Cambridge e à Universidade da Zâmbia. Autor do livro “Leading like Madiba: Leadership lessons from Nelson Mandela”, pela Academic Press, Martin conduziu programas de potenciamento da liderança do Gabinete da Zâmbia. É formado em Relações Internacionais, Filosofia e Antropologia pela Universidade de Warwick.