Três lições de liderança por Jon Stewart – sim, leu bem, o comediante

Três lições de liderança por Jon Stewart – sim, leu bem, o comediante
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Jon Stewart, que apresentou o “The Daily Show” durante anos (entre 1999 e 2015), está de volta ao programa de televisão. Mais que um humorista com talento, o também apresentador é um líder excecional. Seguem-se três lições de liderança que podemos aprender com o comediante americano, não só com a forma como aborda o seu trabalho mas também como gere a sua equipa. 

1. Contratar pessoas com mais talento
Esta é uma frase de livros de gestão citada com frequência, mas que também é frequentemente ignorada na prática. Quantas vezes os egos são mais fortes, tanto nos negócios tradicionais como nas start ups? Então na narcisista Hollywood… Afinal pode ser tentador – para todos nós – seguir o impulso de montar equipas que nos façam bem à autoestima, de modo a sermos a pessoa mais brilhante do grupo, em vez de reunir o melhor talento possível.
Jon Stewart contratou de forma consistente e com sucesso correspondentes com mais talento que ele. A começar pelo ator Steve Carrell, que se tornou numa estrela internacional de cinema; passando por Stephen Colbert, que eclipsou Stewart quando passou para o “Late Show” do canal CBS; a terminar em John Oliver, que tem o seu programa na HBO. O “The Daily Show” tem um excelente registo de alumni. E não se fica por estes nomes – Stewart cercou-se de comediantes acutilantes como Lewis Black, ou excelentes presenças em cena como é o caso de Samantha Bee. Talento que ficou bem patente quando os ex-correspondentes estiveram presentes no último “The Daily Show” apresentado por Jon Stewart (em agosto de 2015), enchendo o palco com o denominado “star power”. Stewart identificou talento e o seu programa serviu de rampa de lançamento para dezenas de carreiras.

2. Ser claro no “porquê” e flexível no “como”
Jon Stewart não só se rodeou de comediantes talentosos como, ao longo dos anos, o seu programa destacou uma enorme variedade de estilos, de que é exemplo a exuberância teatral e propensão para cantar de forma exagerada de Ed Helms (um dos protagonistas da saga “A Ressaca”). Ou seja, a lista de correspondentes representa uma pluralidade de estilos e abordagens.
O que não mudou, no entanto, foi o “porquê” do programa – a utilização da sátira para expor os meios de comunicação tradicionais, bem como os políticos vacilantes. Quando Stewart assumiu o “The Daily Show”, após a saída de Craig Kilborn, tornou a sua visão bem clara. No entanto, ao longo dos 16 anos seguintes ele conferiu uma flexibilidade incrível à sua talentosa equipa, permitindo que esta escolhesse o seu próprio “como” para realizar o “porquê”. Jon Stewart contratou comediantes talentosos e diversificados, e depois deixou-os seguir na direção da visão coletiva de uma forma que tirou partido dos pontos fortes de cada pessoa.
Um grande líder concentra a sua equipa na visão e em seguida dá-lhes bastante confiança de forma a colocá-los numa posição de realizarem o “porquê” sem no entanto ter de ditar o “como”.

3. Liderança servidora funciona
Stephen Colbert, no seu tributo a Stewart no último “The Daily Show” por ele apresentado em 2015, declarou: “Há uns anos disseste-me, e a muitas outras pessoas, para nunca te agradecermos porque não te devemos nada. É uma das poucas vezes em que estás redondamente errado. Nós estamos em dívida para contigo. E não só pelo que fizeste pela nossa carreira, contratando-nos para este tremendo programa que construíste; devemos-te porque aprendemos contigo. Aprendemos com o teu exemplo como fazer um programa com intenção, como trabalhar com clareza, como tratar as pessoas com respeito”. Elogio a que Stewart reagiu baixando a cabeça de forma tímida, mostrando-se grato e ao mesmo tempo aparentemente envergonhado com a luz dos holofotes na sua liderança. Se houvesse qualquer dúvida, as palavras de Colbert e a reação de Stewart mostram que este é um verdadeiro líder servidor.
No livro “Good to Great”, Jim Collins aponta o que diferencia um grande líder de um verdadeiramente notável, de Nível 5: a humildade. E era exatamente a este aspeto que se referia Colbert – Stewart ajudou a lançar inúmeras carreiras e a transformar comediantes em estrelas. E no entanto – como se pôde ver pela sua reação ao elogio – fê-lo por gostar, em vez de ser conduzido pelo ego, e sem esperar nada em troca.
Para um líder servidor, é difícil imaginar um tributo com maior significado que o de Stephen Colbert. E o sucesso tanto do programa como dos seus colaboradores demonstra que a liderança servidora é uma estratégia que funciona. 

14-02-2024


Portal da Liderança

Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para o Huffington Post por Alex Budak, membro do corpo docente da UC Berkeley, cofundador do site de crowdfunding para inovadores sociais StartSomeGood.com, autor de “Becoming A Changemaker”, e orador sobre temas como mudança e liderança.