Lições de liderança “ready-to-wear” por Anna Wintour

Lições de liderança “ready-to-wear” por Anna Wintour
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Com as semanas da moda a desfilarem nas passerelles de Nova Iorque, Londres, Milão ou Paris, recuperamos as lições de liderança de Anna Wintour. Enquanto líder, a executiva é por norma retratada de forma negativa pelos colaboradores, como sendo uma… “megera”, na melhor das hipóteses. Ter reputação de difícil pode ser complicado quando se ocupa cargos de topo. Mas, no caso da “diva da moda”, dá-nos umas dicas de liderança “must have”. E prontas a usar em qualquer estação do ano.

Numa altura em que decorrem as semanas da moda um pouco por todo o mundo, analisamos o estilo de liderança de Anna Wintour. Para os mais distraídos, este nome pode não ter qualquer significado, mas e se dissermos que o filme “O Diabo Veste Prada” foi inspirado nela? Também não? A diretora da revista americana Vogue e diretora editorial do grupo Condé Nast é “só” considerada a mulher com maior influência no mundo da moda. E conhecida por ter um dos feitios mais complicados do universo. Trata os colaboradores que a rodeiam com frieza pontilhada por desprezo – por exemplo, ninguém pode dirigir-lhe a palavra sem que ela tome a iniciativa. Além de que é de um perfecionismo que muitos apontam como sendo prepotência. E são todas estas características que nos ensinam que os melhores líderes nem sempre são os mais agradáveis.

Vanessa Merit Nornberg, CEO da Metal Mafia (empresa de acessórios e bijuteria que vende para mais de 5 mil lojas da especialidade e cadeias de retalho em 23 países), não gosta do rótulo de “megera” que se colou a Anna Wintour. E questiona: quando foi a última vez que alguém se referiu a Jack Welch como o “mau da fita”? Merit Nornberg refere que Welch tomou decisões difíceis e enfrentou tantos céticos e negativismo como Anna Wintour, mas que, no entanto, ninguém o rotulou com um termo menos simpático. Neste sentido, apresenta três pontos em que o exemplo de Wintour nos ensina sobre “como cultivar a nossa megera interior” – e que todos os homens e mulheres numa posição de liderança podem colocar em prática.

1 - A determinação afeta diretamente o sucesso
A principal tarefa de qualquer líder é tomar as decisões difíceis que mais ninguém quer tomar. E, por norma, as decisões difíceis são controversas e têm opositores que verbalizam a sua resistência. Ser determinado, em vez de deixar arrastar a situação ou analisá-la até à exaustão, é a chave para o sucesso – algo em que Anna Wintour tem sido excecionalmente boa na Vogue.

Vanessa Merit Nornberg considera que, se estar disposto a fazer escolhas difíceis e a assumir a responsabilidade grangeia a denominação de “megera”, então “qualquer líder que se preze deve fazer sobressair as suas características de megera de forma regular”.

2 - Delegar de forma inteligente abre as portas à inovação
Enquanto editora, e para tornar a sua visão realidade, Anna Wintour conta com a contribuição de fotógrafos, redatores, designers gráficos, etc. Neste sentido, tem de delegar responsabilidades em terceiros e depender dessas pessoas para que cumpram o que lhes foi solicitado, para que os objetivos de Wintour sejam atingidos. Como evidencia o seu percurso à frente da revista de moda mais conceituada do globo (desde 1988), a predisposição para delegar tem-se mostrado uma fórmula de sucesso.

No entanto, a dura realidade em qualquer empresa é que os colaboradores em quem se delega tarefas nem sempre as cumprem, e quando tal acontece tem de haver repercussões. Mas nem sempre o ser chamado à atenção é bem recebido pelo visado. Só que faz parte das funções de um líder falar com, e encaminhar, quem não está a ter um bom desempenho – aliás, é algo que deve estar na lista trimestral de “a fazer” de todos os líderes.

3 - Cultivar uma certa distância mantém as pessoas alerta
Anna Wintour, como muitos líderes, tornou-se numa figura pública pela posição que ocupa. Enquanto não se coíbe de tornar públicos os seus pontos de vista sobre moda, é também famosa por manter as esferas pessoal e a profissional num círculo bem apertado, estabelecendo em simultâneo uma linha rígida entre a persona pública e a privada. Esta recusa em partilhar tudo fez com que surgissem muitos detratores, que veem o seu recato como mais uma prova de que é uma “megera”. Contudo, os grandes líderes sabem que, se é boa política as pessoas confiarem neles para os seguirem, também o elemento surpresa é, por vezes, a forma mais eficaz de ganhar batalhas cruciais. Suscitar curiosidade nos outros é uma ferramenta muito poderosa na altura de negociar, quando se trata de instigar a mudança, ou para manter uma vantagem competitiva. Ser um enigma é algo que os melhores líderes sabem fomentar.

Wintour descreveu e resumiu bem a sua visão de liderança quando declarou que “não se pode ser uma pessoa difícil, tímida, que não é capaz de olhar alguém na cara. Tem de saber apresentar-se, tem de saber falar sobre a sua visão, o seu foco, e naquilo em que acredita”. Palavra de “megera”.

28-09-2016

Fonte: Inc.com