Liderança de alto risco: 4 lições de um piloto de aviões solares (e CEO)

Liderança de alto risco: 4 lições de um piloto de aviões solares (e CEO)
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Por definição, os exploradores enfrentam o desconhecido: é o que os motiva e é a sua fonte de energia. Mas o desconhecido inclui riscos – financeiros, pessoais, mentais, emocionais e físicos. É um líder-explorador?

André Borschberg

A pioneira americana da aviação, Amelia Earhart, é um exemplo do espírito de explorador, ao quebrar vários recordes – como ter sido a primeira mulher aviadora a cruzar o Atlântico sozinha; e que desapareceu em 1937, quando tentava circum-navegar o globo.

É porque desafiamos os limites e as convenções – o nosso avião, o Solar Impulse 2, pesa o mesmo que um carro e tem a envergadura de um Boeing 747! – que fomos capazes de bater um recorde de dez anos e voar durante cinco dias, sem parar, com um único piloto, do Japão até ao Havai, via o Oceano Pacífico.

Mas como é que nós – e como é que outros exploradores – encontrámos a perseverança e o nível correto de energia para avançar para o desconhecido? Como alcançamos o que as outras pessoas pensam ser impossível?

1. O explorador também é líder
Há momentos na vida dos exploradores em que têm de ser tomadas decisões importantes – das que fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso, e que podem ir contra a sabedoria convencional. É o momento em que os exploradores têm de se tornar líderes! Como o que aconteceu no meu voo do Japão para o Havai: algumas horas após ter descolado do aeroporto de Nagoya com o Solar Impulse 2, detetei uma falha no sistema de supervisão do avião. Com um voo com a duração de pelo menos cinco dias e noites, e eu sozinho no cockpit, este sistema era de vital importância. Quando chegámos a um ponto de não retorno, e com o sistema ainda a não funcionar como devia, os meus engenheiros aconselharam-me a regressar ao Japão para corrigir o problema. Mas pela primeira vez o tempo sobre o Pacífico estava extremamente favorável, após dois meses de espera e a adiarmos a partida. Então olhei para a questão de forma diferente e concluí que o risco global da missão era razoável, e que iria encontrar forma de compensar o equipamento defeituoso. E decidi continuar, o que levou a uma reação emotiva na equipa. Mas era a única maneira possível. Foi uma decisão difícil, mas senti que era o momento certo.

2. Ter confiança na equipa
Um explorador tem uma visão e a vontade de a concretizar, mas tal só é possível graças a quem o rodeia. Ter confiança na equipa é essencial quando se gere ações de alto risco em áreas desconhecidas. Lembro-me sempre da missão Apollo 13, em que, dois dias depois da descolagem, um dos tanques de oxigénio do módulo espacial explodiu, forçando a missão a voltar para trás. A tripulação foi capaz de regressar em segurança à Terra unicamente graças ao forte espírito de equipa e à confiança que os astronautas tinham nos engenheiros no terreno. Assim, e para nos lembrarmos do que é essencial ​​quando se embarca numa aventura pioneira, fixámos o emblema do Apollo 13 numa das paredes do centro de controlo da missão, no Mónaco.

Os exploradores só podem ter sucesso se forem capazes de extrair o melhor das pessoas em seu redor. É uma questão de motivação e de capacitação. Cada pessoa deve compreender qual é o seu papel na aventura, e ser incentivada e reconhecida pelo seu trabalho. Quando o objetivo é tão nítido e preciso, todos os colaboradores têm-no sempre presente. Os engenheiros que construíram o nosso avião sabiam que estavam a fazer algo revolucionário. A segurança do piloto tornou-se numa preocupação primordial para todos. O objetivo era continuar a explorar, no entanto a segurança dos pilotos e do avião tornou-se no seu foco principal. E ficaram tão envolvidos que, de certa forma, se transformaram em coproprietários do projeto. A apropriação do projeto a nível individual torna-o um empreendimento de vida para todos os envolvidos.

Ao voar com o Solar Impulse 2 durante as missões, dependíamos em grande medida do centro de controlo da missão (CCM). Localizado a milhares de milhas do avião e do piloto, o CCM determina as condições meteorológicas, monitoriza a aeronave, e assegura o funcionamento do sistema. Determina, dia após dia, hora após hora, a rotina do aparelho, e também ajuda a supervisionar, a fim de identificar qualquer mau funcionamento o mais cedo possível. As expetativas eram altas e eu sabia que todos estavam a dar o seu melhor para garantir que tínhamos sucesso. Estavam todos tão preocupados que eu sabia que, se não conseguíssemos, não seria por falta de perseverança ou de boa vontade, mas por causa do destino!

3. Construir o nível de energia
É crucial ter um momento de reflexão numa altura de risco extremo
. No final, cada experiência de exploração depende da pessoa, e o resultado verdadeiro vem da viagem interior.

4. Não se trata de estar fisicamente apto, mas sim mentalmente forte
Uma forma de se preparar para o risco é preparar-se para o pior, tornando o panorama menos assustador. Saber que se pode lidar com uma situação muito difícil (como ter de se ejetar do avião sobre o oceano) permite que a ansiedade que se tinha diminua, e faz com que se concentre no presente. Também penso que ajuda tornarmo-nos observadores de nós mesmos, examinando as nossas reações, comportamentos e sentimentos. Para praticar esta capacidade, penso que o yoga e a meditação são ferramentas muito boas; o yoga não é apenas mais um tipo de exercício, é o desenvolvimento de um estado de espírito, de alinhar a mente com o corpo. A observação de nós mesmos faz parte desta formação, para vermos como o nosso corpo reage quando se assume uma posição, como respiramos, como nos sentimos. E isto é exatamente o que precisa de ser feito quando confrontados com uma situação de stress.

Fonte: Global Agenda  

27-01-2016  


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AndréBorschbergAndré Borschberg, CEO da Solar Impulse, escreveu este artigo para a Global Agenda no âmbito do Fórum Económico Mundial.