Analisámos as características da cultura dos líderes e da prática de liderança das empresas baseadas em Silicon Valley, nos EUA, e identificámos três elementos que se afiguram como chave para o sucesso de um líder empresarial na economia global do séc. XXI.
Carlos Oliveira
Qual a relevância de Silicon Valley?
Silicon Valley exerce uma liderança em todos os níveis empresariais e económicos; é líder na geração e crescimento de start ups, e é berço e sede das maiores empresas mundiais da atualidade. Adicionalmente, Silicon Valley está focada na inovação e no desenvolvimento tecnológico, por forma a criar novos modelos de negócio e novas soluções orientadas para o mercado global. Ora, a tecnologia vai transformar a economia e as nossas vidas mais do que podemos agora antecipar.
Porque têm sucesso os líderes de empresas de Silicon Valley?
São muitos os fatores de sucesso empresariais que têm a ver com Silicon Valley em si e não com cada líder e prática de liderança. No entanto, parte do sucesso das empresas baseadas em Silicon Valley tem a ver com uma certa cultura e prática de liderança, cujos elementos mais distintivos podem e devem ser conhecidos, adaptados e aplicados por líderes de organizações privadas e mesmo públicas onde quer que eles estejam.
Isolámos os três elementos ou princípios de liderança mais salientes da cultura e da prática de liderança presente em Silicon Valley(1), que podem ser compreendidos e memorizados em três simples frases:
- Olhar diferente;
- Mudar o mundo;
- Ser a mudança.

Sob estes três princípios está a forma como estes líderes estão preparados para assumirem riscos e gerirem o fracasso. Quanto maior o risco, maior o ganho. O fracasso não é tratado como um fim de linha, uma vergonha, mas antes como aprendizagem e material para ser reciclado e aproveitado, para alavancar a próxima aposta de risco.
Princípio 1. Olhar diferente
Uma das características dos líderes de sucesso em Silicon Valley é o permanente desafio ao status quo, a procura incessante da inovação, especialmente a inovação de rutura. Vencer dentro do modelo estabelecido traz um benefício limitado. Mas, a partir do momento em que se descobrem novos modos de fazer, produzir e consumir, as vantagens competitivas tornam-se enormes.
Neste sentido, os líderes empresariais em Silicon Valley imaginam o mundo numa perspetiva diferente, abordam os desafios com uma mente aberta, criam uma cultura e assumem comportamentos que estimulam a criatividade nas suas equipas, promovem a constante procura pela inovação, são permissivos da tentativa e erro, não ridicularizam ideias diferentes, estudam a antropologia do comportamento do consumidor, promovem a polinização entre conhecimentos e ciências diferentes, apoiam a colaboração radical.
O design thinking é um exponente desta forma de atuar. A gestão otimiza, a engenharia resolve, o design cria – procura um olhar diferente para problemas “bicudos” que a gestão e a engenharia não resolvem.
Como dizia Marcel Proust, “a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens,mas em ter um novo olhar”. Quantas pessoas vão ao mesmo sítio, mas não vislumbram as mesmas coisas? Uns olham e descobrem, outros não.
Princípio 2. Mudar o mundo
Outra das características dos líderes de sucesso em Silicon Valley é a elevada ambição que colocam nas suas apostas. A maior parte dos investimentos do capital de risco em Silicon Valley concentram-se em ideias que endereçam necessidades fundamentais e um mercado potencial acima de 1 bilião de dólares. Em certos casos, os investidores procuram as ideias que se encontram na fronteira da loucura em termos da racionalidade económica vigente, mas que, se vingarem, alteram o modelo de negócio de um negócio ou setor, assumindo assim uma grande vantagem competitiva.
Neste sentido, os líderes empresariais em Silicon Valley criam uma cultura e assumem comportamentos que promovem a paixão, a ambição, o sonho, o risco. Definem uma visão ambiciosa e um plano de concretização. Promovem as transformações/inovações necessárias ao sucesso e colocam a “atitude” antes da “experiência”.
Como dizia Steve Jobs, “as pessoas que são loucas o suficiente para pensarem que conseguem mudar o mundo são aquelas que o mudam”.
Princípio 3. Ser a mudança
Outra das características dos líderes de sucesso em Silicon Valley é a liderança pelo exemplo e pela colaboração, o foco no operacional, a prática de realizar.
Neste sentido, os líderes empresariais em Silicon Valley criam uma cultura e assumem comportamentos que promovem a interação para ir descobrindo o caminho em vez de o teorizar, o método ágil para estar focado nos resultados e no cliente, o conceito lean para conseguir fazer e executar com poucos recursos. Influenciam a equipa a interagir com todos os stakeholders para obter os resultados pretendidos. Planeiam, empoderam, monitorizam, responsabilizam, celebram para obter resultados concretos.
Como dizia Mahatma Gandhi, “se quer mudar o mundo, seja a mudança”.
A vivência de uma experiência marcante
Mais dos 230 executivos que passaram por Silicon Valley no âmbito do programa Global Strategic Innovation(2) testemunharam exemplos concretos deste tipo de liderança na interação com líderes, professores e especialistas, e confessaram o elevado impacto que esta imersão em Silicon Valley teve na forma como atuam enquanto líderes.
Lembre-se e pratique: 1. Olhar diferente, 2. Mudar o mundo, 3. Ser a mudança.
Notas:
(1) A partir da atividade do nosso escritório em São Francisco e da experiência de conceção e gestão do Global Strategic Innovation – International Executive Program, com a colaboração das universidades de Stanford e de Berkeley.
(2) O Global Strategic Innovation é um programa de imersão de executivos em Silicon Valley e São Francisco durante uma semana, envolvendo: formação em liderança e inovação estratégica (com a colaboração das universidades de Stanford e Berkeley), visita e interação com empresas líderes, networking e aceleração de negócios.
Carlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como a África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.