Silicon Valley como referencial

Silicon Valley como referencial
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Neste texto abordo os traços fundamentais de Silicon Valley que caracterizam a “De Silicon Valley”. No próximo artigo referencio o que podemos ganhar, enquanto pessoas, empresas e nações, com uma maior ligação e proximidade a Silicon Valley.


Carlos Oliveira 


Silicon Valley, nos EUA, é o local onde mais novas ideias e novos negócios emergem, são financiados, crescem e se tornam nas maiores empresas do mundo. É também um estado de espírito – um imaginário, um ideal, um referencial. Silicon Valley tornou-se no “hub mundial de inovação empreendedora” com o qual as maiores economias, as maiores empresas e os maiores centros académicos e de pesquisa promovem ligações. Para os empreendedores individuais, estar e competir em Silicon Valley é como estar e competir nos Jogos Olímpicos. “De Silicon Valley” torna-se assim num referencial importante para líderes e decisores a todos os níveis.


Os traços fundamentais
Sete traços fundamentais tornam Silicon Valley líder na inovação empreendedora e contribuem para a formação da rúbrica. 

1. Cultura de risco 
Silicon Valley é acima de tudo um estado de espírito que está baseado no conceito de alto risco, alta remuneração. O risco não é evitado mas sim assumido, sem ficar manietado pelo receio de falhar e ficar marcado por essa falha. 


“Pensar diferente”, “pensar mudar o mundo”, “arrojar implementar a mudança” são conceitos bem acolhidos que marcam a irreverência, a diversidade de pensamento, a cultura de inovação e de risco de Silicon Valley. 

2. Foco no consumidor 
Em Silicon Valley todos os modelos de negócio estão focados na “remuneração pelo consumidor”. A validação final de qualquer ideia/negócio assenta na premissa simples de quantas pessoas/entidades vão querer pagar pelo serviço/produto. É um capitalismo democrático que procura e serve as necessidades mais profundas das pessoas enquanto entidades económicas com vontade de pagar por algo. 


O Estado e os burocratas são mantidos totalmente fora das decisões de negócio, especialmente de investimento em novas ideias e negócios. 

3. Inovação de rutura e global 
O foco do investimento é na “next big idea”. O risco é assumido verdadeiramente através do foco na inovação de rutura, que desafia modelos de negócio a uma escala da economia global, em todos os setores económicos, e que por isso tem uma remuneração potencial muito elevada, se tiver sucesso. 37% dos investimentos realizados reportam a negócios focados em segmentos de mercado superiores a 10 mil milhões de dólares e 69% a valores superiores a 10 mil milhões.


A tecnologia é vista como o principal disruptor e o instrumento primordial de transformação da economia e dos comportamentos sociais, sendo por isso o foco da maior parte dos investimentos de risco. 

4. Elevada capacidade de financiamento inteligente
Silicon Valley conseguiu atrair e fomentar uma elevada capacidade de “financiamento inteligente”, ou seja, elevadas somas de capital com conhecimento de negócio. Este ecossistema financeiro permite assim mobilizar muito rapidamente, e em concorrência uns com os outros, elevadas somas de capital para financiar negócios à escala global e por vários estágios de desenvolvimento muito pesados em termos de investimento.

Adicionalmente, este financiamento é experiente e interventivo, alavancando a capacidade dos fundadores iniciais. Complementarmente, o Estado disponibiliza elevadas somas financeiras para pesquisa avançada em áreas críticas através das universidades e institutos de pesquisa. 

5. Rede cooperativa pragmática
Silicon Valley conseguiu desenvolver uma cultura de cooperação pragmática (vinda da cultura de fronteira do tempo da corrida ao ouro) com capacidade de construção de relacionamentos de confiança muito alargados e de forma rápida que facilita a partilha de ideias, de esforço e de risco. Esta cultura cooperativa permite respostas muito rápidas que colocam as ideias no mercado de forma mais rápida, com as competências certas e com riscos partilhados.

Adicionalmente, esta rede cooperativa recicla a aprendizagem. Os empreendedores de sucesso não abandonam o mercado mas regressam ao mesmo apoiando novos empreendedores e ideias, tornando-se nos famosos “serial entrepreneurs”. As pessoas e os negócios que falham não são ostracizados, mas a sua experiência é aproveitada para retomar o esforço a partir de onde falhou. 

6. Ecossistema de suporte completo
Com a evolução do tempo, este sistema amadureceu de forma a proporcionar apoio especializado completo e inigualável a nível mundial, a novos empreendedores, na componente de financiamento (venture capital e business angels), jurídico (proteção intelectual e parcerias), científico (universidades focadas na economia, como Stanford), prestadores de serviços e instituições especializadas em apoiar novos negócios.

7. Pool de talento e diversidade cultural
Este ecossistema consegue assim gerar talento focado na economia inovadora, nomeadamente a partir da Universidade de Stanford, mas, acima de tudo, consegue atrair talento dos EUA e de todo o mundo. O talento gera um elevado pipeline de ideias e de oportunidades que depois atrai mais capital, gerando assim uma vantagem cumulativa de Silicon Valley sobre outros ecossistemas.

Adicionalmente, os novos ecossistemas de inovação empreendedora que estão a emergir a nível mundial estão a ligar-se cada vez mais a Silicon Valley, tornando esta área no hub mundial da inovação empreendedora.

Esta combinação de características torna Silicon Valley líder e um referencial.

No próximo artigo endereçamos o que podemos ganhar, enquanto pessoas, empresas e nações, com a maior ligação e proximidade a Silicon Valley, enquanto local, e à “De Silicon Valley”, enquanto forma de estar. 



SiliconInov2



01-09-2015


CMO-PLCarlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como a África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.