Cuidado: um robot quer o seu emprego

Cuidado: um robot quer o seu emprego
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Os avanços tecnológicos vão provocar uma revolução no mercado de trabalho que irá desafiar modelos sociais, económicos e políticos. – Toda a forma como produzimos, consumimos e vivemos.

Carlos Oliveira

Regressei esta semana de uma estadia em Silicon Valley, nos EUA, onde fiquei mais consciente de que a combinação de um conjunto de avanços nas tecnologias de informação e comunicação, especialmente a internet of things, na robótica e na inteligência artificial, são capazes de mudar as nossas vidas mais rapidamente e mais profundamente do que pensamos.

Estas transformações trarão ameaças e oportunidades, ganhadores e perdedores. A questão que se coloca, em primeiro lugar, é se a nossa sociedade está consciente e, em segundo lugar, se está preparada. Ou se está distraída com politiquices. Os conscientes e os preparados serão os vencedores.

Estes avanços irão provocar uma revolução no mercado de trabalho que irá desafiar modelos sociais, económicos e políticos. – Toda a forma como produzimos, consumimos e vivemos. As máquinas serão capazes de ter um desempenho superior aos humanos num conjunto cada vez maior de atividades, mesmo as mais complexas e interdependentes. Enfim, na maior parte das atividades hoje desempenhadas pelas pessoas.

As questões que se colocam são avassaladoras de mais para não se pensar nisso com maior intensidade no atual debate económico, político e modelo social. Teremos cada vez mais um crescimento sem criação de emprego? Teremos novos tipos de empregos a serem criados em número suficiente para compensar os que são reduzidos por substituição pelas máquinas? Isto é, teremos mesmo destruição líquida de emprego, associada ao novo tipo de crescimento económico? Teremos de gerir um quotidiano com grandes períodos de lazer? Ou de desemprego numa grande parte da população? Corremos o risco de o crescimento da riqueza económica de um país ficar muito desligado do crescimento do rendimento da maioria da população e ficar nas mãos de um número reduzido de empreendedores?

Se estas questões parecem demasiado dramáticas, vejamos. É provável que o que tem vindo a acontecer na agricultura e na indústria ao longo de décadas aconteça agora em novas áreas. Fábricas inteligentes no novo modelo industrial 4.0 que fazem a maior parte do trabalho, em autogestão, com o mínimo de intervenção humana, de forma mais rápida, sem erros, conectadas com todo o mundo, com fornecedores, clientes, decisores. Existe uma estimativa de que a condução automóvel poderá estar totalmente automatizada dentro de 25 anos e crescer progressivamente pelas várias economias. Cadeias logísticas complexas podem ser simplificadas por sistemas de decisão inteligentes e por drones inteligentes. Mesmo grande parte do trabalho criativo poderá ser feito maioritariamente por sistemas digitais inteligentes, como já acontece no cinema, na arquitetura, na engenharia, nos moldes, entre outras áreas. Hoje muitas decisões de investimento são já tomadas com recurso a computadores supercomplexos que comparam terabytes (10 elevado a 12) ou mesmo yottabytes (10 elevado a 24) de informação em segundos.

Estas transformações não têm data anunciada, do género, “a partir de dia tal vai passar a ser assim”. Vão acontecendo, de forma quase impercetível mas muito rápida, que pode não dar tempo à sociedade para se adaptar, criando assim roturas sistémicas.

Por este motivo, quanto mais depressa os economistas, os empresários, os políticos, os agentes sociais de um país tomarem consciência e se prepararem para as evoluções tecnológicas que vão decidir os vencedores e perdedores nos anos próximos, melhor para as pessoas desse país. Por vezes, o foco dos políticos, dos empresários e da sociedade está demasiado no curto prazo ou em coisas que fazem pouco sentido para o bem-estar comum.

22-02-2016 

CMO-PLCarlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como a África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.