Lide com a pressão como um atleta olímpico

Lide com a pressão como um atleta olímpico
5 minutos de leitura

Muitos atletas de alta competição atribuem parte do sucesso ao estado mental antes e durante as competições. Quer bata um recorde mundial da modalidade ou faça a melhor apresentação da história, trata-se de ter um conjunto de ferramentas para lidar com o stress, explica uma psicóloga que acompanha desportistas de topo. 

Quando pensamos no treino de atletas para competições como os Jogos Olímpicos, é comum focarmo-nos mais na parte física: quanto comem num dia (muito), como esculpem o físico perfeito para competir, como aliviam a dor, etc. Mas depois há o outro tipo de treino – o mental. O que significa, por exemplo, estar psicologicamente preparado para uma maratona? É algo que não se quantifica como se conta as calorias ingeridas. Ainda assim, muitos atletas de alta competição atribuem o seu sucesso, pelo menos em parte, ao estado mental antes e durante o evento. A golfista americana Lexi Thompson, por exemplo, refere que tem de “manter uma atitude positiva, porque o golfe é 80% parte mental”.

A psicóloga americana Kristin Keim, que acompanha atletas de alta competição, muitos dos quais participaram nos Jogos Olímpicos Rio 2016, no Brasil, explicou à revista Business Insider que o esquema de treino mental que usa é diferente para cada cliente. Mas, em geral, o seu objetivo é ajudar os atletas a criarem um conjunto de ferramentas ao qual podem recorrer quando se sentem stressados ou sobrecarregados – e que são as mesmas ferramentas que recomenda a quem se sinta sob pressão no trabalho.  

Por exemplo, Kristin Keim ensina os clientes a “controlarem o controlável”, por comparação com os eventos que estão fora do seu controlo. Para esse fim, incentiva os atletas a desenvolverem uma rotina que praticam antes do treino e antes da competição em si. Outro aspeto em comum no seu treino é a visualização. A psicóloga pede com frequência aos clientes que visualizem como irá ser todo o seu dia – desde o acordar à ida para o trabalho (caso tenham um emprego), passando por um percurso de bicicleta de duas horas, por exemplo. Uma vez mais, trata-se de assumir o controlo sobre aquilo que pode. Sim, o dia vai ser stressante, mas em vez de se sentirem assoberbados, os clientes de Kristin Keim aprendem a dizer: “Estou no lugar do condutor. Estou aos comandos. Vou ter um dia bom”. Estes também são incentivados a manter um diário/registo, especialmente se se estiverem a sentir demasiado pressionados ou com dificuldade em dormir.

No caso da ciclista americana Megan Guarnier, que Kristin Keim acompanhou nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, a psicóloga ajudou-a a não pensar em demasia nas coisas. “Confia apenas que és a melhor”, declara ela à atleta e a clientes com dificuldades similares. Curiosamente, Kristin Keim afirma que a parte mais fácil dos Jogos Olímpicos é muitas vezes a prova em si, por comparação com a antecipação e as expetativas criadas. Quando os atletas arrancam com a bicicleta, começam a correr ou a nadar, estão “de volta a casa”, explica. E diz-lhes “vai, encontra a tua onda, e faz aquilo que sabes fazer”.

O tema principal por detrás de todas as ferramentas/capacitação de Kristin Keim é o mindfulness, ou plena consciência (treino baseado na conexão mente-corpo que ajuda a observar a forma como se pensa e sente acerca da vida, das experiências, seja bom ou negativo; consiste em prestar atenção ao momento presente sem ficar apegado ao passado ou se preocupar com o futuro), e é frequente incorporar a meditação no seu plano de treino – nem que seja só 10 a 15 minutos por dia. De um modo geral, ela ensina os clientes a permanecerem no momento, em vez de deixarem os seus pensamentos fugirem para o desempenho passado ou futuro – e esta é uma parte fundamental da meditação. Pensar no futuro pode criar ansiedade (há estudos que o corroboram) e pensar sobre o passado pode contribuir para a depressão, refere a psicóloga. O objetivo destas práticas é chegar a um nível de excitação ótima para a competição, o que geralmente significa tentar sentirem-se animados e motivados, em vez de ansiosos. Este princípio aplica-se à preparação para uma reunião importante com o seu chefe, quando tem de fazer uma apresentação, ou tem um prazo apertado de entrega de um projeto – ou seja, em situações que a maioria de nós enfrenta todos os dias. 

Kristin Keim considera que falarmos com nós próprios é crucial, quer se seja um atleta olímpico ou não. E ensina muitas vezes os clientes a reformularem os seus pensamentos negativos. Por exemplo, em vez de pensarem “não sou bom a falar em público” antes de uma conversa, dizerem a si mesmos “tenho andado a praticar e estou preparado”.

Talvez a parte mais importante do acompanhamento de Kristin Keim esteja em aprender a apreciar o que se está a passar mesmo à sua frente. “Todos precisamos de nos lembrar deste aspeto”. E recomenda que dediquemos um momento para entrar em sintonia com todos os nossos sentidos: “como parece realmente o ambiente à sua volta?”.

Em última análise, quer bata um recorde mundial de ciclismo ou faça a melhor apresentação da história, trata-se de “desfrutar esse momento”.

03-01-2019


Portal da Liderança